Diabetes, SIDA e saúde mental em foco no Plano Local de Saúde do Oeste

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PessoasPortaCSaudeHá mais de 17 mil pessoas na área do ACES Oeste Norte sem médico de família atribuído. Segundo Ana Maria Pisco, directora interina deste agrupamento, a situação piorou muito desde 2013, altura em que havia cerca de 7000 utentes nesta situação.

Este grande aumento deve-se há falta de médicos, principalmente porque houve muitos que se reformaram.
A falta de médicos é uma das principais preocupações manifestadas por Ana Maria Pisco durante uma conversa com a Gazeta das Caldas, a propósito do Plano Local de Saúde da Região Oeste Norte (PLSRON) para o triénio 2014/16, que foi apresentado a 10 de Julho, na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha.
O VIH/SIDA, a diabetes e a saúde mental são as principais preocupações que serão “combatidas” pelo PLSRON, através de quatro programas específicos que já estão a ser desenvolvidos no terreno.
Ana Maria Pisco é presidente do Conselho Clínico do ACES Oeste Norte desde Janeiro de 2013, mas desde que a anterior directora, Alexandra Borges foi nomeada, em Março deste ano, para a administração do Centro Hospitalar de Leiria, assumiu esse cargo interinamente até que seja nomeada uma nova direcção.

Óbidos e Peniche
com falta de médicos
de família

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O ACES, do qual fazem parte 193 mil utentes, teve que recorrer a uma empresa de prestação de serviços para contratar mais profissionais de saúde que estão a dar consultas nos concelho de Óbidos (que tinha cinco médicos de família nos quadros e passou para dois) e Peniche.
No concelho das Caldas, em A-dos-Francos e Rostos, os seus 2000 utentes ficaram sem médico de família (um cubano cujo contrato de trabalho terminou), tendo sido por isso necessário recorrer a um prestador de serviços. Na Foz do Arelho a médica de família, que tem 1200 utentes, também está de baixa prolongada.
Entretanto, foram abertas três vagas para médicos de medicina geral e familiar (embora o ACES tenha pedido cinco à ARS-LVT) e estão a decorrer os concursos públicos para a sua contratação. Só que o ano passado houve um outro concurso em que não apareceu nenhum médico interessado.
Na opinião de Ana Maria Pisco, tal deve-se ao mau planeamento que houve relativamente às vagas para os cursos de Medicina em Portugal há 10 anos, principalmente ao nível dos cuidados de saúde primários. Por outro lado, também não se antecipou o número de reformas de médicos que houve nos últimos anos.
Uma situação que a responsável entende que irá mudar com os novos alunos do curso de Medicina e que poderá levar a que possa ser possível reabrir extensões de saúde que foram encerradas.
A médica considera que há casos em que estes encerramentos devem ser repensados ou, pelo menos, criar melhores condições de acessibilidade. “Mas isso não passa por uma portaria a dizer que tem que ser igual para todos. Cada local é um local”, entende.
Tendo em conta que os recursos humanos e financeiros são limitados (há carências também ao nível dos funcionários e assistentes técnicos e operacionais), Ana Maria Pisco defende o envolvimento das autarquias (câmaras e juntas de freguesia), de forma a encontrar as melhores soluções para as pessoas.
O ACES recentemente também começou a pedir a ajuda das juntas de freguesia para o funcionamento das extensões de saúde. Durante o Verão, por causa das férias, há casos em que falta um funcionário administrativo para dar apoio ao médico e as juntas podem dar apoio com os seus funcionários.
“Embora as juntas também tenham dificuldades, isso tem estado a correr bem”, adiantou a responsável.

VIH/SIDA, a diabetes e saúde mental

Ana Maria Pisco herdou da direcção anterior o trabalho que já tinha vindo a ser feito no Plano Local de Saúde da Região Oeste Norte, em conjunto com a Unidade de Saúde Pública Zé Povinho. “Temos o privilégio de ter na Saúde Pública uma equipa muito activa e que já está há muito tempo no terreno”, referiu a responsável.
Os casos de saúde mental “têm vindo a aumentar e muito na região, devido a vários factores, um dos quais é a crise económica”, revelou Jorge Nunes, coordenador da Unidade de Saúde Pública Zé Povinho e responsável do plano, que confirmou também um aumento na taxa de suicídios na região, o qual já é superior à média nacional (dados de 2013).
Este plano, que abrange os concelhos de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche, inclui quatro programas, cada um deles monitorizado por um responsável a quem compete depois fazer a sua avaliação.
O plano contou com a participação dos profissionais de saúde de todas as unidades de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte e de diversos parceiros da comunidade “tendo sido amplamente discutido e participado”, disse Jorge Nunes.
O processo teve início em 2013 com a elaboração do perfil de saúde da Região Oeste Norte, tendo sido discutido em todos os concelhos da região.

AUMENTO DOS SUICÍDIOS

Segundo os dados do plano, em consonância com a tendência nacional, a esperança média de vida aumentou na região Oeste Norte, tendo atingido os 79 anos à nascença, no triénio 2009/11.
A mortalidade geral (por todas as causas), padronizada para a idade, tem vindo a decrescer e tem sido, desde 2000, mas sendo superior nesta região, quando comparada com a do país.
Já a taxa de mortalidade por diabetes e por doenças cérebro-vasculares tem-se mantido quase sempre superior ao valor nacional.
A mortalidade por suicídio sofreu um grande aumento na região de 2009 para 2010, tendo-se mantido superior ao valor nacional desde então.
Em 2014 ainda não há números para análise, mas os responsáveis locais acreditam que a situação se tenha mantido igual ao ano passado.
Os registos dos Cuidados de Saúde Primários mostram que, em comparação com a população da região de Lisboa e Vale do Tejo, a hipertensão arterial é o problema que mais se destaca. Existe também uma maior proporção de utentes neste ACES com alterações do metabolismo dos lípidos, diabetes, perturbações depressivas e distúrbios ansiosos.

PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL ENTRE OS CALDENSES

Num estudo efectuado no concelho das Caldas, entre 2009 e 2012, em que participaram 424 utentes, apurou-se que um em cada três tinha mal-estar significativo, sugestivo de patologia psiquiátrica.
As mulheres tinham pior saúde mental, sobretudo as de baixa escolaridade e constatou-se que havia uma relação entre o nível de saúde mental e os acontecimentos de vida (perante a conjuntura económica desfavorável, o desemprego e a pobreza).
Na opinião de Ana Maria Pisco, os resultados deste estudo não são exagerados, tendo em conta todos os problemas económicos que atingiram o país e a região. “Com o fecho de muitas empresas, que levaram a situações de desemprego de famílias inteiras, é normal que seja assim”, disse.
Por outro lado, o índice de envelhecimento também explica o aumento das doenças mentais na população.
O programa dedicado à Saúde Mental consiste na criação de seis equipas multidisciplinares (uma por concelho) de intervenção precoce.
Pretende-se conhecer a realidade do ACES Oeste Norte relativamente à prevalência de episódios agudos referentes a situações de perigo em Saúde Mental e a sua comparação com dados disponíveis (regionais, nacionais europeus), acompanhando a sua evolução.
Para além disso, serão definidos procedimentos conducentes a uma resposta atempada e eficaz em situações de risco.
“Há muitos anos que temos uma parceria com o hospital das Caldas ao nível da Saúde Mental. Temos a vantagem da psiquiatra do hospital das Caldas [Paula Carvalho] ter uma visão comunitária da doença mental”, realçou Ana Maria Pisco.
Como o centro de saúde das Caldas não tem psicólogas, há uma equipa de profissionais do hospital que faz o atendimento do doente mental ao nível dos cuidados primários.

SIDA É PROBLEMA GRAVE EM PENICHE

Em relação aos casos de infecção por VIH, até 2012, na Região Oeste Norte estes totalizaram uma prevalência de 2,6 casos por cada mil habitantes, um número inferior à prevalência nacional de 3,9. No entanto, o concelho de Peniche, com uma prevalência de 5,3, que “ultrapassa largamente o valor nacional”, refere o plano.
O programa para esta área abrange dois projectos: a criação de unidades de rastreio (teste rápido) de VIH e a intervenção junto das populações vulneráveis. “É gritante a inexistência de estruturas para teste rápido de VIH na região”, salienta o plano.
Dada a maior incidência em Peniche e Nazaré, é nestes dois concelhos que já começaram a ser feitos testes rápidos de VIH, os quais são anónimos.
Segundo Ana Maria Pisco, nos últimos anos os casos detectados têm vindo a aumentar nestes dois concelhos e a taxa de heterossexuais contaminados tem também aumentado em relação aos homossexuais masculinos.
Há vários factores que contribuem para isso, mas um dos principais será o facto de serem zonas veraneantes, com muitos turistas estrangeiros.
COMBATER A DIABETES

Os outros dois programas que fazem parte do PLS têm como tema a diabetes (com dois projectos) e a educação para a saúde em meio escolar.
Em relação à diabetes, o programa Estilos de Vidas consiste num projecto de sensibilização e formação dos profissionais de saúde e utentes com diabetes mellitus e outro de identificação precoce de factores de risco para diabetes mellitus e doenças cérebro-cardiovasculares.
Existe uma unidade coordenadora funcional da diabetes, a qual já realizou reuniões com os responsáveis do hospital das Caldas, estando a ser elaboradas estratégias para “conseguirmos que os utentes diabéticos tenham um cuidado integrado, por parte dos cuidados de saúde primários e do hospital”, explicou Ana Maria Pisco.
Vão ainda realizar-se duas acções de formação para os profissionais de saúde, em Setembro e Outubro, nesta área.
O programa de Educação para a Saúde está utilizar como símbolo a maçã e irá dar continuidade a um trabalho já anteriormente iniciado.
Este é um projecto que teve início no ano lectivo de 2009/10, nessa altura a uma escala mais pequena com o nome “Dia dos Afectos nas Escolas” e que entretanto evoluiu para o “Movimento Escola – Cidade dos Afectos”.
No passado ano lectivo acabou por ser alargado a todas as escolas da região de Lisboa e Vale do Tejo, tendo como objectivo “desenvolver uma cultura de afectos, tendo em vista a humanização e o desenvolvimento do sentimento de pertença nas relações da comunidade escolar, baseado no exercício da cidadania”, refere o projecto.
Tendo como o símbolo a maçã, para além de promover a comemoração do Dia dos Afectos, o projecto dinamiza ainda acções de formação para professores e exposições com trabalhos dos alunos.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

Centro de Saúde das Caldas precisa de obras

A sede do ACES Oeste Norte está localizada no edifício do Centro de Saúde das Caldas da Rainha, para o qual são pedidas obras de remodelação há vários anos.
Apesar de algumas pequenas intervenções (foi necessário colocar uma nova cobertura do lado da USF D. Leonor porque chovia em alguns locais), há urgência em fazer uma grande obra de remodelação e ampliação.
Neste edifício funcionam duas Unidades de Saúde Familiar, uma Unidade de Cuidados Saúde Personalizados e uma Unidade de Cuidados Continuados. Está agora em fase de arranque uma Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP), a qual presta cuidados a todos os utentes do ACES ao nível de especialidades como Psicologia, Serviço Social, Fisioterapia e Higiene Oral, entre outras.
Mesmo que sejam feitas as obras, Ana Maria Pisco defende que se avance para a construção de um novo edifício, tal como está previsto há anos.
“Gostaríamos que a autarquia se lembrasse também de nós para fazer alguma pressão à tutela e não pensasse apenas no centro hospitalar”, referiu a médica. É que “a situação está a atingir o limite do sustentável”, considera.

Comemorações dos 35 anos do SNS

anamariapiscoA Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro vai receber, a 12 de Setembro, as comemorações locais dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Promovido pelo Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte, o evento conta com exposições, workshops e uma conferência.
Às 9h00 será inaugurada uma exposição com posters informativos das unidades de saúde do ACES Oeste Norte e da parte da tarde, às 15h00, uma outra com os trabalhos escolares do projecto “Movimento Escola/Cidade dos Afectos”.
Os workshops têm início às 15h00, com uma palestra sobre exercício físico com o médico Rizério Salgado, seguida de uma caminhada. Às 15h15 tem início uma apresentação sobre o programa “VIH/SIDA: Prevenção e Diagnóstico” com a psicóloga Sandra Pancas, psicóloga e o enfermeiro Paulo Bombas.
Às 16h00 tem início outra palestra sobre “Saúde Mental: Na Saúde e na Doença” com psiquiatra Paula Carvalho, a psicóloga Celeste Narciso e as enfermeiras Cristina Ribeiro, Fernanda Viola e Teresa Manteigas.
Uma hora depois tem lugar um workshop com o tema “Estilos de Vida Saudáveis, o caminho a percorrer” com os médicos Diana Marques, Henrique Nascimento, Jenny Duarte, Marisa Batarda e Raquel Osório, e a enfermeira Anne Carvalho.
No final do dia, a partir das 18h00, o médico Vítor Ramos dará uma conferência sobre “Ganhos em Saúde com o SNS”.
As inscrições para os workshops podem ser feitas no Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte, através do email acesonsns35anos@gmail.com ou do tel. 262870387.

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