O enterro do Entrudo termina com a cremação perto do largo da antiga universidade

Após o retomar da tradição, o enterro do Entrudo das Caldas, organizado pela ACDR Santo Onofre Monte Olivett, tem conseguido todos os anos atrair dezenas de “viúvas” carpideiras que aproveitam a ocasião para se despedir do Carnaval caldense

“Ele era tão bom… agora que foi!”, chora uma viúva. “A reforma é para mim!”, grita outra. “O que vai ser de mim?”, questiona-se uma terceira. De luto, com vestidos pretos e chapéus, com uma vela na mão, as “viúvas” carpideiras são de ambos os sexos e das mais diferentes idades. Umas são mais expansivas, outras lamentam-se de uma forma mais reservada no já tradicional Enterro do Entrudo das Caldas, que teve lugar na quarta-feira da semana passada. O cortejo fúnebre, da agência funerária Ká Te Espero, sai da zona da biblioteca municipal para percorrer toda a cidade. Passa pela Rainha e pela Praça da Fruta, onde faz a primeira paragem e onde se percebe a mediatização deste funeral, com as “viúvas” a tirar os telemóveis e as máquinas para fotografar e filmar o morto. A comitiva é liderada pelos bombos, que abrem o caminho. O “padre”, o “sacristão” e os “coveiros” passam à frente da carreta funerária, com o “morto”, um boneco deitado, com um garrafão de vinho ao lado e, como manda a tradição nesta cidade, um… das Caldas de grandes dimensões que é acarinhado pelas viúvas durante todo o percurso. Depois, o cortejo segue pela Rua das Montras e pela Miguel Bombarda, até passar em frente à Gazeta das Caldas. Pela Fonte Luminosa, segue para a Rua Manuel Mafra e a paragem seguinte é no Largo Frederico e Pinto Basto. Ao longo do percurso vão-se juntando cada vez mais viúvas. Por onde passa o cortejo as pessoas vão à janela para o ver passar e dizer um último adeus à folia do Carnaval. As “viúvas” discutem entre si para decidir de quem o “morto” mais gostava e quem mais gostava dele, mas também para quem é que fica, afinal, a herança. São já dezenas de pessoas, que se vão sempre queixando. Durante o caminho, o som dos bombos funde-se com os gritos da multidão.
O percurso termina no Largo da antiga UAL, perto da Biblioteca Municipal, onde o “padre” dá a missa. A cabeça e o falo do morto são retirados e guardados para o ano que vem, o boneco é atirado para o buraco que o coveiro entretanto abriu e, por fim, é cremado. Na galhofa, algumas das viúvas mais espalhafatosas têm “quebras de tensão” e acabam por cair no chão. A tradição de enterrar o Entrudo foi retomada há já mais de dez anos pela ACDR Santo Onofre Monte Olivett.

DISCURSOS

No final do percurso, mas antes da cremação e do enterro realizam-se os habituais discursos formais. João Pina, da associação que organiza o evento, contou que este ano houve queixas antes do evento devido ao barulho que o cortejo faz. “Se não fazemos nada, somos criticados, mas se fazemos alguma coisa, somos criticados também”, apontou. Jorge Varela, presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro brincou com a situação e salientou o número de pessoas que foram às janelas ver passar o cortejo. “É com esta brincadeira que se termina o Carnaval das Caldas”, disse, dando os parabéns à associação por manter viva a tradição.
Já o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, gracejou que tinha chegado a tempo de passar o atestado de óbito ao Entrudo e logo foi interrompido por uma viúva que questionou o autarca sobre o subsídio, gerando uma risada geral. O casal Isabel Carvalheiro e Bruno Machado veio pela primeira vez e trouxe a filha, de três anos. “Já tínhamos ouvido falar e decidimos vir ver, porque achamos importante manter as tradições”, salientaram. Depois de participar no cortejo, disseram que acharam engraçado. “Isto mantém a alma do Carnaval viva e se calhar muitas pessoas nem imaginam o que se passa aqui”, fizeram notar.

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