Parceria inédita entre a Gazeta e a 91FM juntou João Marques Pereira (lista A) e Francisco Rita (lista B), que debateram o futuro da instituição que vai amanhã a votos. Diferenças entre projetos acentuam-se, sobretudo no que diz respeito ao hospital
Cerca de sete mil associados do Montepio – Rainha D. Leonor são chamados, amanhã, para escolherem os órgãos sociais da instituição para o triénio 2021-2024. A pandemia já obrigou ao adiamento do ato eleitoral por duas vezes, mas, desta feita, as autoridades de saúde aceitaram mesmo o pedido de autorização da associação mutualista e a assembleia geral está marcada para o dia de amanhã, na Expoeste, com todas as medidas de segurança.
Na passada sexta-feira, numa parceria entre a Gazeta e a 91FM, os candidatos João Marques Pereira (lista A) e Francisco Rita (lista B) esgrimiram os últimos argumentos num frente-a-frente que foi transmitido pela rádio e nas redes sociais e que acentuou as divergências entre as duas candidaturas.
O novo hospital é o principal diferendo entre as partes, com a lista A a defender o “projeto concreto” de uma parceria com a Sanfil, apenas dependente da aprovação em assembleia geral, enquanto a lista B assume que o hospital terá de resultar de uma “verdadeira parceria e não uma entrega de valor a uma entidade”, reservando a decisão da escolha do parceiro para uma assembleia “a marcar no espaço de três meses” após a tomada de posse e com uma certeza. “Com a Sanfil, não! Há várias informações em relação a essa empresa e consideramos que não é uma empresa à qual o Montepio se deva associar”, afirmou Francisco Rita, que só admite parcerias com um privado “de primeiro nível”, embora sublinhe que a não aprovação das contas condiciona os cenários para a execução do projeto.
“Se as contas não permitirem ao Montepio avançar sozinho para o projeto e se os sócios nos transmitirem que faz sentido uma parceria com um privado, seguiremos esse caminho”, notou aquele que é o primeiro médico a candidatar-se à presidência na história desta instituição.
Em resposta, João Marques Pereira acusou o oponente de “frequentar pouco” o Montepio nos últimos anos, de ter “uma ideia desfocada” da instituição e de estar “pouco informado sobre o processo” da nova Casa de Saúde.
O advogado voltou a defender a opção pelo grupo privado que permitirá construir um hospital “moderno, com todas as valências, que passa por ser o maior hospital privado do Oeste” no edifício adquirido para o efeito e que consubstancia “20 anos de aprovações pelos sócios em assembleias gerais”. “Este processo não é novo. E é impossível o Montepio, sozinho, abalançar-se num novo hospital com a qualidade exigida pelos sócios. Não temos estrutura financeira para o fazer”, defendeu o presidente do conselho de administração da associação mutualista, que foi, ainda, acusado de praticar uma “não gestão” nos últimos anos.
“Pergunto se é não gestão fazer as obras que temos feito no lar, nas residências e noutras valências”, questionou o candidato da lista “Montepio XXI”, que pretende dar “continuidade” ao trabalho, com uma “aposta vincada na área social, uma das matrizes mais importantes” da instituição. “O Montepio não pode andar a fazer experiências inúteis”, frisou João Marques Pereira.
Desafio da sustentabilidade
A sustentabilidade da instituição foi outro dos temas centrais do debate, com o candidato da lista A a assumir a prioridade de equilibrar as contas “do lado da despesa”, mas também do lado das receitas.
“Temos de tentar encontrar outras áreas de negócio que, sem ferir os princípios do mutualismo, permitam gerar mais-valias que compensem os défices das outras áreas de atividade e do apoio aos sócios”, declarou Marques Pereira, que recebeu, em certa medida, a concordância do adversário eleitoral.
“Concordo que precisamos de olhar mais para a coluna das despesas. Temos despesas fixas muito elevadas, mas é aí que está a arte: ser suficientemente parcimonioso na contratação e gestão de pessoal”, afirmou Francisco Rita, para quem é “preciso olhar” para a gestão da Casa de Saúde, que tem apresentado défices sucessivos.
“O Montepio cresceu com a Casa de Saúde. A instituição fez o lar e o condomínio com a Casa de Saúde. Se houve capacidade, nestes anos, para que a Casa de Saúde fosse gerida e desse resultados positivos que permitiram outros investimentos, hoje em dia também tem de haver”, declarou o clínico, para quem será prioritário “revitalizar a estrutura, que não é agradável”.
João Marques Pereira entende que a “situação da Casa de Saúde é problemática e não responde às necessidades”, mas assegurou que não há “pessoal a mais”: “Fazemos uma gestão muito espartana do número de trabalhadores, mas não conseguimos pagar o que os trabalhadores mereceriam”.
A gestão do condomínio também fez divergir os candidatos, com Francisco Rita a revelar ter recebido “várias reclamações dos residentes”, enquanto Marques Pereira asseverou ter apenas recebido uma reclamação sobre o facto de a comida chegar fria, o que está a ser resolvido com investimentos numa nova cozinha.
O despique subiu de tom quando Francisco Rita declarou, a propósito das dificuldades financeiras da instituição, que “houve momentos na história do Montepio” que pagou “os vencimentos” dos funcionários. “Era à custa do que eu tinha a receber que eram processados os salários”, recordou o candidato da lista B, que pretende contratar uma auditoria às contas e fez saber que, se vencer as eleições, não receberá o vencimento correspondente até a Casa de Saúde começar a dar resultados positivos.
Marques Pereira contestou de forma veemente a afirmação: “É falso quando diz que pagava os vencimentos. O que acontece é que o Dr. Rita tinha uma grande mais-valia no regime de concessão dentro do Montepio e, por vezes, o Montepio retinha algumas verbas, mas não era o senhor que pagava os salários. O senhor não era um benemérito do Montepio. Não queira passar essa imagem”, respondeu o candidato da lista A, que classificou, ainda, de “quase pornográfico” colocar em causa as contas da instituição. ■






























