Maria Isabel Pereira nasceu em 1942 nos Infantes (Salir de Matos) e reside em Trabalhias, aldeia pertencente à mesma freguesia. Foi emigrante na cidade de Aachen (Alemanha) durante 42 anos. Hoje vive em Portugal, confessa que tem saudades daquele país, mas não gostaria de lá voltar a viver.
Corria o ano de 1972 quando Maria Isabel e os filhos, José e Gabriel Guilherme, emigraram para este país de forma legal. Viajaram de comboio, visto que ainda não havia autocarros que fizessem a ligação directa entre os dois países.
Antes desta senhora partir já o seu marido, Fernando Guilherme, havia viajado para a Alemanha um ano antes, a convite do cunhado, José Pereira, que já se encontrava na cidade de Aachen com a sua família há mais de cinco anos. Como a qualidade de vida na Alemanha era relativamente boa e acabava por se viver melhor do que em Portugal, Maria Isabel partiu com os dois filhos. Assim, quando este casal colocou a possibilidade de sair de Portugal nunca ponderou ir para outro país.
Ao chegar à Alemanha, Maria Isabel percebeu que a sua adaptação neste país não seria tão fácil quanto esperara, sobretudo por um motivo: a língua. Para além de ser bastante diferente da portuguesa, a aprendizagem da língua alemã revelou-se muito, muito difícil.
Acresce que, a distância de casa e as saudades da família em Trabalhias eram demasiado grandes e o “choro vinha de repente, a qualquer altura do dia… foi algo difícil de controlar”.
AS AMIGAS ITALIANAS
Na Alemanha, Maria Isabel trabalhou numa fábrica de metal, a firma Schlüter que produzia sobretudo materiais para fogões. Para ela, a maior dificuldade neste emprego foi a grande quantidade de tarefas que teve de aprender em pouco tempo e a elevada quantidade de trabalho que tinha de fazer com as mãos. Apesar de ao início não saber falar a língua alemã, na fábrica tinha colegas de diversas nacionalidades, nomeadamente italianas, que a ajudaram a aprender este novo ofício e lhe explicavam o que era necessário fazer. “Como o italiano é mais parecido com o português do que o alemão, era com elas que eu mantinha maior contacto. Eram elas que me explicavam tudo o que era necessário fazer e como fazer. No início foram uma grande ajuda”.
Os dois filhos de Maria Isabel, que viajaram com a mãe para a Alemanha, ainda com 12 e 8 anos, tiveram uma adaptação relativamente fácil. Andaram em escolas alemã e portuguesa, o que os ajudou a aprender a língua rapidamente.
Estes anos na Alemanha foram mais do que apenas trabalho. Maria Isabel conheceu um novo país, com costumes diferentes dos de Portugal. Exemplo disso são as comidas típicas alemãs, que agradaram a esta senhora. Contudo, todos os emigrantes que preferissem a sua comida tradicional tinham a possibilidade de ir a um mercado que vendia produtos portugueses. No que toca aos preços dos produtos, é claro que os preços eram mais elevados na Alemanha comparativamente com Portugal.
Todos os anos Maria Isabel, o marido e os filhos regressavam a Portugal, no tradicional mês dos emigrantes: Agosto. Passavam sempre cerca de três a quatro semanas na sua cidade natal. Regressavam sobretudo para descansar e estar algum tempo com a família que não viam durante todo o ano.
Nos primeiros anos optaram por viajar de comboio. Mas ao fim de alguns anos, este casal acabou por adquirir o seu próprio carro, e a partir daí optaram por viajar dessa forma. O percurso demorava sempre cerca de 24 horas, com várias paragens em diversas cidades de França e Espanha, para poderem descansar.
Ao fim de 42 anos na Alemanha, Maria Isabel e o marido planearam a sua vinda para Portugal com alguns meses de antecedência. Tinha chegado a hora de voltar para junto da família e viver confortavelmente naquele que é o seu país. Infelizmente o destino não foi favorável a estas pretensões e, poucos dias depois de ter regressado, Maria Isabel perde o marido que faleceu de doença súbita. Fernando Guilherme acabaria por não gozar a sua merecida reforma.
SAUDADES DA ALEMANHA
Agora, ao fim de quatro anos em Portugal, Maria Isabel sente saudades de todas as pessoas que conheceu no país que a acolheu durante 42 anos, apesar de nunca ter perdido o contacto com estas. Já voltou à cidade de Aachen, apenas para passar férias e estar com estes amigos, mas nunca sentiu vontade de voltar a viver lá.
Com o devido distanciamento, consegue afirmar que a Alemanha sempre foi um bom país e não lhe consegue apontar qualquer defeito, a não ser a dificuldade de aprendizagem da língua. A cidade onde passou a maioria do seu tempo era muito semelhante à cidade de Caldas da Rainha, tanto a nível de território quanto a nível populacional, não havendo grandes diferenças a apontar.
Apesar de gostar de estar em Portugal, Maria Isabel confessou à Gazeta das Caldas que ao início foi um bocadinho complicado readaptar-se ao país. Para além do clima ser muito diferente, já não estava habituada a passar tanto tempo nesta que é a sua terra natal.
Maria Isabel, aconselha todos os portugueses que estiverem tentados a emigrar para a Alemanha a aprender a língua antes de partir. “Para mim foi um grande entrave não saber a língua. Acho que se tivesse aprendido antes de ter emigrado me tinha facilitado em muitos aspectos a minha adaptação ao país”.
Questionada pela Gazeta das Caldas em relação a diversos temas da actualidade, Maria Isabel afirma que os seus amigos e família que se encontram na Alemanha lhe dizem que a chanceler Merkel é uma boa governante, e pelo que tem ouvido através da comunicação social, concorda com isto. Em relação à chegada de muitos refugiados a este país, Maria Isabel acha que não é muito bom sinal, porque a origem de refugiados é sinal de problemas no mundo.






























