Em Portugal, o país do novo-riquismo, está tudo preparado para o transporte individual, com as magníficas auto-estradas que os portugueses tantos gostam (embora não gostem de as pagar).
O transporte público tem ficado relegado para segundo plano e quem não tem carro ou carta, passa um mau bocado. Que o diga Marina Araújo, estagiária da Gazeta das Caldas, nas suas deslocações à Escola Superior de Tecnologia de Abrantes.
Vivendo nas Gaeiras e tendo escolhido estudar em Abrantes, sempre soube que os meus maiores adversários seriam a distância e o tempo que demoraria a chegar ao meu destino. A hora e meia que demorava, em carro, das Caldas até lá já era aborrecida só por si. Mais ainda por, não tendo carta, ter de “obrigar” os meus pais a levarem-me aos domingos até Abrantes e a voltarem para as Caldas da Rainha.
A a alternativa foi, então, os transportes públicos.
Comboio ou autocarro?
O comboio, com um mínimo de quatro horas e meia de viagem, com dois transbordos (Alfarelos e Entroncamento ou ida a Lisboa para voltar para norte), e um bilhete de quase 20 euros, foi logo excluído.
Virei-me então para os autocarros. Devido à segunda-feira ter aulas logo pela manhã, o meu dia de eleição para viajar era o domingo. Só tinha dois autocarros da Rede Expressos: um por volta das 15h00, que fazia enlace em Leiria, e outro uma hora mais tarde que passava por Lisboa. O problema de acabar por ir perder tempo em qualquer um dos locais poderia ter-me passado ao lado, se não fosse por, quer em Lisboa como em Leiria, ter de esperar pelo menos uma hora e um quarto pelo autocarro que finalmente me iria levar a Abrantes.
De regresso a casa tinha o mesmo problema, apesar de neste caso ser ainda mais complicado. À sexta-feira o último autocarro de Abrantes para as Caldas da Rainha era às três e meia da tarde, pelo que se tivesse aulas até mais tarde a minha única opção era ir de Expresso até Santarém, de lá apanhar uma carreira até Rio Maior, que poderia perder se houvesse um atraso, e, por fim, alguém me ir buscar de carro aquela cidade.
Num fim-de-semana uma amiga apresentou-me uma proposta: irmos de autocarro até Santarém e de lá apanharmos o comboio. Eu iria até Abrantes e ela até Castelo Branco onde estudava. O que não esperávamos é que a estação rodoviária de Santarém ficasse a uma distância tal da estação ferroviária que tivéssemos de apanhar um táxi até lá de modo a conseguirmos chegar a tempo. Logo desisti também deste percurso, apesar de a ligação ferroviária entre Santarém e Abrantes realmente ser completa e funcional e da vantagem do preço: somando o autocarro até Santarém e o comboio daí até Abrantes, o valor da viagem não passava dos dez euros, longe dos 14 euros que na altura pagava pelo Expresso.
Regressei aos autocarros, mas não posso dizer que não existiram outros problemas para além dos já referidos. Uma vez, enquanto esperava pelo autocarro que me iria levar de Leiria para Abrantes, comecei a estranhar já se terem passado quase 30 minutos da hora de partida e o autocarro não ter chegado. Só quase uma hora depois é que fui informada que houvera um problema e o autocarro estava indeterminadamente atrasado. Acabei por só chegar a Abrantes às dez da noite, quase três horas mais tarde do que o suposto.
Por fim, num semestre em que só tinha aulas ao fim da tarde de segunda-feira, decidi que começaria a ir na manhã do próprio dia. Vi as opções da Rede Expressos e achei que os autocarros que saíam das Caldas às 10h00 e às 10h50 da manhã eram boas opções, mesmo que só chegassem a Abrantes perto das 15h00 e eu tivesse que em Lisboa Sete Rios à espera durante uma hora ou mais. Porém, o meu problema principal em relação a este horário era que não era compatível com a distância a que eu vivo da rodoviária e não conseguia que me levassem até lá a tempo de qualquer um dos autocarros.
Descobri então outra alternativa, não mais rápida, nem mais confortável, mas compatível com o horário em que conseguia boleia e muito mais barato. Em vez dos 16,80 euros que nesta altura já tinha de pagar pelo Expresso das Caldas da Rainha para Abrantes, pagava menos de dez euros por toda a viagem. Às 8h15 saía das Caldas da Rainha até Torres Novas, onde chegava por volta das 10h00. O autocarro até Abrantes era só ao meio-dia, mas pelo menos podia sentar-me num café, tomar o pequeno-almoço e despachar trabalhos no computador, coisa que me era impossível em Sete Rios com toda a confusão e, por vezes, nem um lugar vazio para me sentar. Chegava a Abrantes às 13h30 com tempo para almoçar e ir para a minha aula desse dia.
































Eu faço ideia dos problemas aqui apontados. Afinal Caldas da Rainha está a pouco mais de 100 Kms de Abrantes e a vergonha dos transportes colectivos é o que relata. Mas as ligações do interior ao litoral e vice-versa, são mesmo o que diz e ainda querem que se faça turismo interno quando nem transportes temos. Se nos tempos de antigamente tivesse sido feita a ligação ferroviária, que esteve programada, entre as Caldas e o Entroncamento, tudo seria muito mais fácil, mais directo e mais barato. Mas é assim. Os homens da altura não quiseram e estes também não querem. Aliás, ligar a Linha do Oeste à do Norte, Beira Baixa e Leste é uma necessidade estrutural para o país como também é a modernização da Linha do Oeste que nunca mais anda. Ainda não há muitos anos, quando a Linha do Norte tinha problemas, a do Oeste era uma alternativa. Hoje nem isso.
Mas para resolver o assunto em questão é só formar-se um loby que faça ver a quem manda que a ligação ferroviária entre as Caldas e o Entroncamento é uma necessidade urgente há muito anos. Veja lá, no seu caso, quanto é pouparia em tempo e em dinheiro se ela existisse. E afinal Caldas e Abrantes não estão assim tão longe.
Uma das promessas incluídas nas compensações do aeroporto era a linha ferroviária Caldas-Rio Maior-Santarém.
Os cidadãos deviam cobrar a falta do cumprimento das promessas não indo votar nas eleições.