Criação de uma Unidade de Cuidados Continuados é “prioritária” para o CHO

0
875

Elsa Baião foi reconduzida para um segundo mandato no conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste e revela que as prioridades passam por aumentar a capacidade de diferenciação, a melhoria de condições tecnológicas e de infraestruturas

Reconduzida para um segundo mandato de três anos à frente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), Elsa Baião aponta, em entrevista, as prioridades para a instituição

Dois anos depois de ter sido nomeada presidente do conselho de administração do CHO foi reconduzida. Que balanço faz deste período?
Foram dois anos muito exigentes, não só por aquilo que encontrámos no centro hospitalar, mas também porque fomos apanhados pela pandemia, que nos levou a ter de suspender e adiar alguns dos planos. Mas queremos retomá-los e, com esta recondução, temos essa expetativa que a pandemia abrande e nos possa dar margem para os desenvolver.

- publicidade -

À chegada disse que encontrou instalações limitadas, equipamentos obsoletos e a falta de, pelo menos, uma centena de profissionais. A situação alterou-se?
A situação não está substancialmente diferente. Em dois anos não é possível reformular e deixar em condições três hospitais que têm severas carências de limitação das infraestruturas, não só pela sua antiguidade e degradação, mas também pela limitação dos espaços. Tudo isso nos condiciona, a nós em termos de gestão, e aos profissionais em termos de trabalho, de uma forma muito relevante.

“Queremos criar áreas de excelência e a integração com outros níveis de cuidados”

Quais as principais carências encontradas?
Para além de uma carência elevada do número de horas de trabalho, encontrámos também um quadro de pessoal muito envelhecido, não só em termos de médicos, mas também dos outros grupos profissionais. Outra das dificuldades é a grande necessidade de termos pessoas de serviço, pois temos três urgências abertas, o que exige um avultado número de horas, nomeadamente dos médicos. Somos o terceiro hospital no país que mais recorre às prestações de serviço e essas circunstâncias também nos limitam, porque os prestadores de serviços são pessoas desvinculadas da instituição, que, muitas vezes, não estão devidamente integradas, e que representam um encargo muito relevante em termos de custos, mais do que aquele que é assumido pelos profissionais que integram o mapa de pessoal.

O que impede o CHO de contratar?
Temos algumas limitações em termos de contratações, agora atenuadas na fase da pandemia, mas também porque não há disponibilidades, no mercado, de profissionais em determinadas áreas.

O CHO não é atrativo para os profissionais de saúde?
Infelizmente, este é um centro hospitalar no litoral mas com características de interior, em que os profissionais são poucos e os que existem são absorvidos pelos grandes centros aqui à volta. Estou a falar especialmente dos médicos mas, durante a fase da pandemia, tivemos também dificuldade em contratar enfermeiros.

Há dois anos faltavam 100 profissionais de saúde, conseguiram esbater a necessidade?
Conseguimos, em parte. Para além da integração dos vínculos precários, com o decurso da pandemia conseguimos contratar mais 190 pessoas. Se, após este período, esses contratos se mantiverem e passarem a contratos sem termo, ficaremos com um número de pessoal muito adequado, tendo em conta as nossas necessidades. Em finais de 2018 tínhamos 1.658 profissionais e a 31 de dezembro do ano passado tínhamos 1.833. Já são mais 148 pessoas e esta contratação também é muito importante porque permite renovar os quadros que estão envelhecidos.

“A Unidade de Cuidados Intensivos impõe-se e a população, em número suficiente, merece esta resposta”

 

Considera que o CHO conseguiu dar resposta à pandemia?
Conseguiu dar uma resposta, nem sempre a melhor, nem sempre a desejada, nem sempre a necessária… Houve várias situações que correram menos bem, decisões que tomámos em várias fases que se vieram a verificar erradas, mas tivemos muito pouco tempo para planear e refletir. Conseguimos criar uma resposta necessária, mas com as limitações de não ter uma Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). Com a aquisição de equipamentos e a formação dos profissionais, foi possível criar capacidade ventilatória para os doentes instáveis até à sua transferência para uma UCI, ou mantê-los estáveis nos casos em que não havia imediatamente vaga nesses hospitais.

Relativamente à UCI, da qual já havia projeto, qual o ponto da situação?
Estamos na expetativa de que seja um projeto para desenvolver na fase pós pandemia e estamos a trabalhar em conjunto com a tutela nesse sentido. Impõe-se e a população em número suficiente merece esta resposta. Este centro hospitalar é dos poucos do país que não tem UCI e os outros têm uma dimensão inferior à nossa. Estamos a falar da transferência de muitos doentes para Lisboa, que vão sobrecarregar essas unidades e assim poderão deixar de o fazer, com benefícios para essas unidades e para os próprios doentes.

E Já há localização para a UCI?
Essa dúvida ainda não está esclarecida, estamos a aguardar da parte da tutela que seja tecnicamente avaliada qual a unidade hospitalar que mais beneficiaria com esta resposta.

Está a iniciar o segundo mandato. O que pretende implementar nos próximos três anos?
A nossa estratégia chave é aumentar esta capacidade de diferenciação pela melhoria de condições tecnológicas e de infraestrutrura, porque é isso que, depois, nos vai também possibilitar reter os recursos humanos. Vamos continuar a apostar nos cuidados em ambulatório, na hospitalização domiciliária, telereabilitação, consultas e telemonitorização, projetos importantes para impulsionar a atividade assistencial em ambulatório e focar cada vez menos os cuidados de saúde no hospital, exceto quando é necessário. Queremos continuar a integração com outros níveis de cuidados e setores de atividade e criar áreas de excelência, com a certificação e a humanização.

Quais são as melhorias, ao nível de infraestruturas, que estão previstas?
Nas Caldas destaco a criação do Hospital de Dia de Diabetes, a remodelação da Obstetrícia e Neonatologia, que são dois serviços que têm condições físicas ainda muito precárias nesta unidade. O projeto está a ser desenvolvido e permite fazer uma distribuição mais adequada dos espaços. Haverá alguma capacidade para aumentar a área disponível. Outro projeto muito importante é a criação de uma unidade de Cirurgia de Ambulatório porque no hospital das Caldas os doentes fazem a cirurgia no bloco central e depois são deslocados para a área do recobro. Será feita uma pequena ampliação no hospital para albergar a cirurgia de ambulatório. Em Peniche, para além da criação do internamento de Psiquiatria, queremos criar uma área de cuidados paliativos. Está a ser ponderada a reabilitação do serviço de Urgência e outras obras com menos visibilidade, como seja a remoção do amianto e reabilitação de fachadas. Em Torres Vedras temos um projeto para criar um novo edifício que permita aumentar a área disponível para os serviços clínicos, que é muito reduzida.

“Este é um centro hospitalar
no litoral mas com características de interior”

A Ginecologia está com três camas, um número diminuto. Será aumentado?
As camas estão reduzidas por causa da covid-19, anteriormente tinham taxas de ocupação baixas em relação ao número de camas disponíveis. No serviço de Obstetrícia a previsão é retomar o número de camas anterior e na Ginecologia, nesta fase, ainda não consigo precisar porque é uma área com uma taxa de ocupação muito baixa.

E o novo Hospital do Oeste?
Essa é uma necessidade, visível a olho nu, basta circular pelo hospital para ver a antiguidade dos edifícios. A degradação é enorme e, por mais obras que consigamos fazer, não se vão criar áreas adequadas. Há uma série de novas necessidades e também de novas práticas, de circuitos, que não é possível implementar neste centro hospitalar. O novo hospital seria uma mais valia, também para reter pessoas e aumentar a diferenciação. É determinante levar este projeto para a frente porque é o único que nos vai permitir ter uma visão de futuro, com mais consistência, em termos de saúde na região. Acredito que será uma realidade e espero que seja o mais breve possível, porque estas infraestruturas não aguentam muitos mais anos, por mais obras que se façam. Há uma série de necessidades que não conseguimos acomodar nestas estruturas para além da sua deteriorização. O CHO aguenta o tempo que tiver de aguentar, mas com prejuízo para os doentes, para os profissionais e também para quem faz a gestão do hospital. ■

 

“Nova Urgência concluída em agosto”

Há diversas obras em curso no Centro Hospitalar do Oeste e Elsa Baião garante que as novas Urgências devem estar prontas no verão.

A responsável destaca a aposta que tem sido feita na transformação para o digital

A obra das novas Urgências recomeçou no início do mês. Qual a data prevista para a sua conclusão?
Está prevista terminar a 20 de agosto. É um processo complexo, não é fácil encaixar uma obra num serviço de urgência a funcionar, muito menos numa fase de pandemia em que os espaços estão restritos. Esse foi um dos projetos que conseguimos avançar durante o mandato anterior, mas destaco também que em 2019 conseguimos um aumento relevante da atividade assistencial, ao nível das consultas e das cirurgias, que foi muito importante para resolver listas de espera, aumentar o acesso dos doentes. Infelizmente esse processo foi interrompido pela pandemia, mas vamos tentar recuperar isso.

Que outras obras destaca?
Foram também criadas duas equipas de hospitalização domiciliária, uma nas Caldas e outra em Torres Vedras. Desde que começou a funcionar, em junho de 2019, já atendeu mais de 400 doentes, que beneficiaram de cuidados de internamento em casa, com as famílias e com as mais valias que isso representa. Para os doentes e também para diminuir as camas de internamento. Além disso, em 2019 fizemos um investimento de 1,7 milhões de euros em substituições e aquisição de novos equipamentos e, em 2020, de mais 1,9 milhões de euros, o que ainda é manifestamente insuficiente para todas as necessidades, mas é um bom avanço. Também nesta fase da pandemia conseguimos beneficiar de muitas doações e solidariedade de todos e conseguimos renovar algum do nosso parque tecnológico com estes apoios.

Ao longo deste mandato foram investidos perto de 4 milhões em equipamentos de inovação e substituição

 

Também avançaram com a telereabilitação…
A pandemia acelerou o processo. Foi celebrada uma parceria com uma start up nacional e o Instituto de Telecomunicações no sentido de implementar o projeto de reabilitação à distância, em que os utentes fazem os exercícios no domicílio com acompanhamento em tempo real por um terapeuta. Funciona no Hospital Termal e evita deslocações ao hospital e também envolve mais os doentes no seu processo terapêutico.

E ao nível da transformação digital o que foi feito?
Essa foi outra das nossas bandeiras. Criámos o projeto CHOeste sem papel, com o objetivo de desmaterializar e de integrar processos e foram aprovados quatro projetos para modernização administrativa, que compreendem desde a telemonitorização à desmaterialização e integração digital de vários processos assistenciais e de serviços de apoio no Bloco Operatório, nos internamentos. Concluímos também uma candidatura cuja execução já vinha de 2015, para implementação do Portal do Utente, quiosques para atendimento administrativo, envio de SMS e micro filmagens. É um processo que em termos clínicos é uma mais valia, evita deslocações desnecessárias e permite que a informação esteja disponível para todos. Foram assinados protocolos com hospitais de Lisboa para complementar as carências de recursos médicos, protocolos com as câmaras de Torres e das Caldas (este último por finalizar) e também com complementariedade com os cuidados de saúde primários. Ao nível da certificação temos dois serviços clínicos em vias de certificação e já temos dois serviços certificados, a medicina transfusional e a cirurgia de ambulatório de Torres Vedras. ■

- publicidade -