“As correntes são o principal perigo desta praia”

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Francisco Pereira

A bandeira está verde em mais de 90% dos dias na praia do Bom Sucesso. Uma das excepções ocorreu na semana passada, em que esteve vermelha durante algumas horas devido à intensidade do nevoeiro que impossibilitava os dois nadadores que ali estão de serviço de verem toda a extensão da água.
Francisco Pereira, de 20 anos, é um dos profissionais de serviço à praia que é concessionada desde o ano passado e que, pelas suas características, é bastante frequentada por crianças que ali fazem as suas colónias de férias, assim como por pessoas da zona e muitos estrangeiros.

A estudar Engenharia do Ambiente em Coimbra, Francisco Pereira encontra nesta actividade uma óptima forma de passar as férias. “Faço praia, apanho sol, só tenho é que estar com atenção”, conta o jovem, explicando que as correntes são o maior perigo da praia, cujo areal é banhado por uma lagoa.
O ano passado Francisco esteve em S. Martinho, praia que considera mais calma. “Lá é raro haver alguma ocorrência, com excepção da mordida de algum peixe-aranha ou a necessidade de algum curativo por alguém se ter cortado”, diz.
No Bom Sucesso os dois nadadores têm responsabilidade por uma área de 100 metros, mas acabam por dar assistência a toda a praia. Os outros dois colegas da equipa estão de vigia à praia do Rio Cortiço e, como o concessionário é o mesmo, já se deu o caso de Francisco trocar a vigia das calmas águas da lagoa pela agitada ondulação do Atlântico.
GAZETA CALDAS – O que o levou a querer ser nadador salvador?
FRANCISCO PEREIRA – Sempre gostei muito de praia e o nadador salvador sempre foi uma imagem que gostei. Então juntei o útil ao agradável e tirei o curso há três anos.

G.C. – Onde tirou o curso?
F.P. – Tirei o curso nas piscinas de Rio Maior.

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G.C. – Foi difícil?
F.P.- Não foi difícil, mas também não foi fácil.

G.C. – Vai passar o verão na praia. É a forma ideal de passar esta época?
F.P. – Sim, são umas boas férias, mas também é um bocado cansativo.

G.C. – Porquê?
F.P. – São 10 horas diárias que temos que estar com atenção pois pode haver alguma ocorrência. Uns dias passam-se melhor, outros pior…

G.C. – Como é ser nadador salvador numa lagoa? É diferente do mar…
F.P. – Sim, aqui não há ondas, no entanto temos as correntes. Não deixa de ser perigoso. As correntes são o principal perigo desta praia.

G.C. – Já aconteceu algum percalço?
F.P. – Sim, já aconteceram algumas situações, mas nada de muito grave. Normalmente as pessoas passam para os bancos de areia quando a maré está vazia, depois a maré começa a encher e as pessoas esquecem-se desse pormenor e têm dificuldade em voltar para a margem. Às vezes temos que ir dar uma ajudinha.

G.C. – Os banhistas respeitam as regras?
F.P. – Sim. Às vezes há uma pessoa ou outra que não gosta muito de ser chamada à atenção, mas de forma geral respeitam.

G.C. – Quais são as principais chamadas de atenção que têm que fazer?
F.P. – Para terem cuidado com os bancos de areia e, às vezes, por trazerem os cães para passear. Não pode ser.

G.C. – Quem são os veraneantes que vêm ao Bom Sucesso?
F.P. – Normalmente são pessoas locais e estrangeiros.

G.C. – Nota-se diferença de postura e de atitude entre os locais e os estrangeiros?
F.P. – Sim, os estrangeiros têm mais cuidado com os filhos. Não estou com isto a dizer que os locais não têm, mas os estrangeiros usam mais o protector, por vezes tomam banho com fatos, nem sequer é com calções.

G.C. – As pessoas agradecem?
F.P. – Sim, de uma maneira geral. Às vezes acontece não dizerem nada, pensam que é nossa obrigação.

G.C. – Quais são os dias ou horas de maior trabalho?
F.P. – O domingo costuma ter muita gente. Ainda no domingo passado (25 de Julho) estava cheio.
Entre as 12h30 e as 17h00 é que estão mais pessoas na água e temos que estar com redobrada atenção.

G.C. – Que conselhos deixaria aos banhistas?
F.P. – Seguir as instruções do nadador salvador para evitar qualquer tipo de problemas e respeitar a bandeira.

G.C. – Qual é o equipamento que têm para trabalhar?
F.P. – Temos o carretel, um cinto, a prancha, a bola circular, a vara e a bóia torpedo. Ainda existe uma carrinha que dá assistência nestas praias, que poderá ter equipamentos mais avançados mas para outro tipo de salvamento.

G.C. – As pessoas vêem a bandeira hasteada e procuram estar nas vossas imediações?
F.P. – Sim, normalmente quando vêem o nadador salvador tentam aproximar-se o mais possível. Como a nossa área concessionada não é muito grande vão-se espalhando ao longo da praia.

G.C. – São bem remunerados?
F.P. – Sim, recebo bem, compensa os três meses de trabalho. Recebe-se cerca de 30 euros por dia.

Unidade Móvel de Saúde estacionada no Bom Sucesso

Durante todo o mês de Agosto a Unidade Móvel de Saúde de Óbidos (UMS) – uma carrinha equipada com material de saúde – vai estar na praia do Bom Sucesso para prestar apoio aos veraneantes. A viatura será utilizada como posto de socorros móvel, estando a cargo dos dois nadadores salvadores daquela praia.
A UMS será também utilizada para reforçar os alertas relativamente aos cuidados a ter com a exposição ao sol, nomeadamente protecção da pele e dos olhos, cuidados particulares com as crianças, prevenção da insolação e desidratação, alguns cuidados particulares com outros grupos da população mais vulneráveis.
São ainda fornecidas informações sobre o bom uso da água balnear, nomeadamente o respeito pelo período de digestão e prevenção de acidentes.

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