Coro norueguês animou as ruas das Caldas

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noruegesesE se de repente visse um coro de 75 homens com aspecto nórdico a cantar o hino nacional português, sem qualquer sotaque, numa rua da cidade ou mesmo na Praça da Fruta, que pensaria? E se depois percebesse que esses mesmos homens que cantaram “A Portuguesa”, não sabem falar a língua de Camões, porque vêm de Egersund (na Noruega) numa digressão a terras lusas, o que diria?
Foi o que aconteceu este fim de semana nas Caldas da Rainha, com um grupo 150 noruegueses (os 75 coristas e as suas esposas), que visitaram a cidade e a região e, inesperadamente, deixaram uma marca simpática que surpreendeu toda a gente.
Um grupo de 75 homens de um coro norueguês masculino de Egersund e as suas esposas, estiveram na região na passada semana e, ao invés de apenas visitar e apreciar um destino, interagiram com o mesmo e deixaram um marco de simpatia na sua passagem, com momentos musicais e de convívio.
Para espanto dos locais, a terminar as actuações cantavam “A Portuguesa”, o hino português, pedindo a colaboração e participação dos variados públicos, conferindo outra emoção a esses momentos.
Vieram de avião, ficaram alojados no Sana Hotel e em Portugal deslocavam-se em três autocarros. No primeiro dia, quarta-feira, tiveram uma recepção no miradouro da Foz do Arelho. Depois visitaram a Foz do Arelho, Alcobaça, Tomar, Fátima, Bombarral e, claro está, as Caldas da Rainha, o epicentro da visita.
Na cidade deram várias voltas, foram à Praça da Fruta e ao mercado do peixe, cantaram na igreja de Nossa Senhora do Pópulo e fizeram um piquenique no domingo, em frente ao Museu Malhoa, no Parque D. Carlos I (com géneros adquiridos na praça). Como referiram à reportagem da Gazeta das Caldas, tratava-se de um jogo, em que fora atribuída uma cesta e um orçamento de 20 euros a cada grupo de oito pessoas. Com esses 20 euros adquiriam uma variedade de géneros para a refeição. Os vendedores não se aperceberam do que se tratava, mas alguns ficaram intrigados em verem tantos compradores estrangeiros a escolherem géneros comuns a uma qualquer família portuguesa.

Uma noite de fados com caldo verde

Há noite o grupo assistiu a uma noite de fados na Serra do Bouro, depois de uma tarde de praia na Foz do Arelho. Na colectividade local experienciaram uma verdadeira noite de fados, com a caldense Vânia Conde, acompanhada por Ricardo Parreira (guitarra portuguesa) e Marco Oliveira (guitarra clássica). Comeram caldo verde, queijo com doce, chouriço assado e arroz doce, e beberam vinho.
A fadista, à medida que cantava, ia explicando sobre o que tratava a letra e conseguiu mesmo pôr a sala a trautear as marchas e a cantar o “Canto o Fado”.
No salão de bailes um grupo de voluntários (do Grupo de Jovens Maré Alta) estava equipado a rigor, com t-shirts pretas onde se lia: “du ønsker å drikke”, com um símbolo de um dedo no ar e cuja tradução para português significa “se queres beber mete o dedo no ar”. No final foi oferecida uma dessas t-shirts ao coro, mas com a frase em português.
Foram servidas cerca de 250 refeições, uma vez que havia muitos convidados portugueses. É que o grupo nórdico pediu expressamente para conviver numa típica noite portuguesa e, no final, agradeceu por isso.
Elogiaram a comida, o vinho, o sol, o calor, a praia e pasmaram-se com o fado, com a voz de Vânia Conde, com a qualidade dos músicos à guitarra e com a beleza da região.
“Somos sortudos por poder ouvir o fado”, dizia Leif Erik Egaas, explicando depois que, quando chegaram, estava um tempo cinzento, mas nos dias a seguir já estava sol e calor e que, portanto, aproveitaram a praia da Foz do Arelho, onde “havia ondas grandes”, exclamou. Referiu ainda que esta era a primeira vez que ele e a mulher vinham a Portugal. “Mas vamos de certeza voltar de férias porque é tudo muito bonito”.
Já Kai Naerland destacou a simpatia, abertura e hospitalidade dos portugueses. Sobre as Caldas, “é uma cidade antiga, pequena e bonita”, disse, contando depois que gostou do parque, onde fizeram o piquenique e andaram de barco. Por fim, destacou a qualidade dos músicos e da fadista.
No final do jantar foi a vez do coro encher o salão de bailes com as suas canções. “Nunca cantámos tão tarde”, disse Henrik Einar Seglem, antes de uma actuação que terminou com “A Portuguesa” cantada a plenos pulmões por noruegueses e portugueses.
A ligação deste grupo com Portugal e com a região deu-se porque Henrik Einar Seglem, um dos elementos do coro, vem muitas vezes a Portugal porque tem uma casa em Salir de Matos e, por motivos profissionais, conheceu Daniel Romão, que lhe foi mostrando o país.
Fascinado com a beleza de Portugal decidiu sugerir uma digressão por terras lusas aos seus amigos do coro, o que aconteceu três anos depois de surgir a ideia. Assim Daniel Romão, de um lado, e Henrik Einar Seglem, do outro, fizeram a ponte entre a Noruega e Portugal e deixaram felizes centena e meia de amigos que não vão esquecer tão depressa Portugal e a nossa região.

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Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt

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