O jornal Gazeta das Caldas nasceu em 1925, mas a Cooperativa Editorial Caldense, que detém o título, foi formada no pós-Revolução dos Cravos, no espírito de liberdade que se vivia então
Foi após a Revolução do 25 de Abril com a conquista da Liberdade e da Liberdade de Expressão que foi criada a Cooperativa Editorial Caldense para assumir a gestão da Gazeta das Caldas. Opção que se veio a revelar acertada, dado que, desde então, o modelo de gestão do título se manteve inalterável.
A escritura de constituição da cooperativa no Cartório Notarial foi feita no dia 30 de janeiro de 1975, nas Caldas, mas até esse ponto foi feito um percurso de discussão e debate para a criação de uma empresa cultural sem fins lucrativos e que pudessem participar todos os interessados. Daí, precisamente, a escolha do estatuto de Cooperativa.
“Nas Caldas creio que só houve três ocupações e penso que a mais simbólica foi a Gazeta das Caldas, pelo peso que tinha como veículo de informação”, conta Jorge Sobral, um dos ativistas que então tomou parte na definição dos destinos do jornal. A maioria estava ligada ao Conjunto Cénico Caldense, que tinha a sede perto do jornal e cujo presidente era Adérito Amora, que, com Ermelinda Freitas, assumiram a direção e redação do jornal. Viviam-se tempos de incerteza na sociedade e também no jornal.
“Tudo o que era de esquerda estava aqui”, conta Jorge Sobral, referindo ainda que o PCP, como força mais organizada de então, chegou a ter uma predominância no jornal. Essa é uma ideia que António Avelãs recorda, pois viria a ser o primeiro presidente da Cooperativa.
A ocupação foi pacífica e sem oposição, encarada como algo natural, até porque a empresa Gazeta das Caldas também não era propriamente lucrativa. “Havia um duplo objetivo, cimentar um ambiente favorável ao movimento revolucionário e garantir a independência”, explicou Avelãs. A situação económica era então muito frágil e nem para o papel havia dinheiro. “Lembro-me de ir a Lisboa, ao Diário, com um camarada do PCP na carrinha dele para ir buscar restos de papel”, recordou. As duas edições após a Revolução dos Cravos são impressas, portanto, em papel cor-de-rosa.
Desses tempos ambos recordam a mestria, a abertura e a dedicação dos funcionários, que trabalhavam com equipamento obsoleto e que, por vezes, recebiam fora de horas.
Sem jornalistas, estes democratas fizeram-se à estrada e cobriram vários acontecimentos, olhando também para as freguesias rurais, anteriormente pouco representadas nas páginas da Gazeta.
A decisão de criar uma Cooperativa foi então a forma mais democrática e livre que encontraram para garantir o equilíbrio, a independência e a sustentabilidade do jornal. “Era uma solução de compromisso”, nota António Avelãs. Já em setembro realizou-se no Salão da Columbófila uma reunião aberta – que contou com cerca de 30 pessoas – para discutir a futura cooperativa. Com o início do ano letivo, Ermelinda Freitas, que era professora, pediu a substituição do cargo, tendo sido nomeada uma comissão composta por Santiago Freitas, Ramiro Benécio, Alberto Lemos, Jorge Sobral, António Avelãs e José Eduardo Martins Pereira. Também nessa reunião um grupo composto por Adérito Amora, Nuno Ximenes e Joaquim Campino Alves ficou de elaborar uma proposta de estatutos, que foram apresentados em outubro e aprovados em novembro do mesmo ano.
Pelo caminho dá-se uma polémica, com a publicação de um artigo a defender Paiva e Sousa para presidente da Câmara. Este foi publicado, mas não refletia o sentir da maioria no jornal e criou uma crise interna, que levou à nomeação de uma nova comissão de direção composta por Alberto Lemos, António Avelãs, Jorge Sobral, José Luís de Almeida Silva e Teresa C. Ferreira.
Foi, então, lançada uma campanha que de imediato juntou 180 pessoas que adquiriram títulos da cooperativa por mil escudos (5 euros, um valor que era superior a um salário médio de então).
José Luís de Almeida Silva foi escolhido para diretor interino, a pedido de Adérito Amora que não dispunha de tempo para a direção do jornal, em maio do ano seguinte e desde então propôs-se manter a independência em termos de estatuto editorial da Gazeta, tanto em termos partidários como económicos. O que tem vindo a procurar fazer ao longo destas décadas, sendo o diretor do jornal no nosso país há mais tempo em funções. ■































