Convívio e homenagem juntaram quase 40 viajantes e agentes do comércio da região

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O tradicional almoço dos viajantes e agentes do comércio das Caldas juntou quase 40 pessoas no passado sábado. Este foi o 58º convívio, que se realizou pela primeira vez em 1961 e que só falhou um. Este é sempre um dia de homenagem aos que já partiram, mas também à própria profissão, que durante muitos anos marcou a economia das regiões e que ainda marca hoje apesar da internet e do e-commerce.

“Uma vez na década de 70 do século passado, quando andava a vender margarina, fui a Castelo de Vide e estacionei a carrinha numa subida para almoçar numa pensão que se chamava Sintra do Alentejo. No fim do almoço, quando cheguei ao veículo, tinha quatro baldes a amparar a margarina que tinha derretido e que estava a verter”, diz Silvestre Gouveia, que já conta quase 90 primaveras e que já vem ao almoço dos viajantes e agentes do comércio das Caldas há mais de quatro décadas.
“Na altura trabalhava para a Lever, que era uma das únicas três empresas que cobria o país todo e estava a quilómetros da fábrica e sem nenhum produto, que foi todo para os animais. Tive que esperar três dias parado para repôr o stock e voltar a vender”, recorda, em conversa com Gazeta das Caldas. Começou por vender margarina e depois passou para os detergentes e produtos de beleza. “Quando entrei era uma equipa de 15 vendedores, quando saí já éramos 45”, conta, acrescentando que “fazia 6.000 quilómetros por mês e estreei nove carrinhas Ford Taurus”.
Silvestre Gouveia viu algumas das mudanças nesta profissão, como, por exemplo, a entrada das mulheres num trabalho que era exclusivamente masculino, uma ideia corroborada por Jorge Carlos, o organizador deste convívio, no qual já participa desde 1971. “Já há alguns anos que começou a haver mulheres nesta profissão”, nota. As tecnologias também vieram introduzir bastantes mudanças nesta actividade, como aliás em toda a sociedade. “Já deixei de trabalhar há 16 anos e foi a partir daí que se deram as maiores alterações em termos tecnológicos, que alteraram a presença física do vendedor”, diz.
Jorge Carlos salienta o papel deste sector no “avanço da história do comércio no nosso país”, mas também a importância que os caixeiros viajantes tiveram na partilha de conhecimento e de culturas
Num momento informal e de convívio, os vendedores falam sobre a vida pessoal, sobre a actualidade e, claro, sobre as vendas. Os mais velhos partilham histórias do antigamente.
Eurico do Coito lembra-se que, num ano da década de 60, se fez o almoço em Peniche e quando se ia a inaugurar o estandarte apareceram três agentes da PIDE que não queriam deixar o convívio prosseguir, porque não teria sido comunicado. “O dono do restaurante falou com eles e acertou as coisas, correu tudo bem”, lembra.
Já António Próspero Parissi recorda-se de “uma vez, quando as estradas ainda não eram todas alcatroadas, ter ficado com o carro atolado na lama e ter sido preciso o auxílio de dois bois para puxarem o carro”.
O caldense, que começou como vendedor na drogaria Beleza, antes de abrir o seu próprio armazém, diz que andou na vida que gostava e que não perde estes almoços porque gosta do convívio onde alguns se encontram pela única vez em cada ano.

Uma tradição que se mantém

Estas tertúlias dos vendedores das Caldas já teriam um passado nas décadas de 30, 40 e 50, em locais como o Hotel Rosa, os Capristanos, a Pensão Cristina, o Café Central ou o Lusitano. Mas a primeira comissão organizativa, de 1961, era composta por Júlio Pessoa, Rozendo Teles, Jaime Nicolau, Francisco Verdasca de Sousa e Joaquim José Branco. O 2º almoço oficial, em 1962, reuniu 120 participantes.
Este ano realizou-se o 58º almoço (só não se realizou num ano), que decorreu no restaurante O Cortiço e no qual estiveram presentes, além dos vendedores das Caldas, profissionais da Benedita, Alcobaça, Turquel e Lourinhã. A nova comissão já colocou a fita com os seus nomes no estandarte e irá organizar o almoço de 2020 a 21 de Novembro.
Antes do repasto realizou-se a homenagem aos colegas já falecidos, na rotunda onde existe o monumento em chapa que simboliza, precisamente, o aperto de mão que sela o negócio entre o cliente e o vendedor (representado com a pasta na mão).
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, salientou a importância desta actividade nas Caldas, que tem como principal sector de actividade o comércio e serviços. O autarca salientou ainda a lisura com que os vendedores se tratam. “Existe uma concorrência sã e percebi que as coisas são feitas com uma determinada lisura que já se vê pouco na nossa sociedade. Quando um vendedor sabe que um colega vendeu a um cliente, falam com ele para saber a informação e recebem da outra parte, informação séria”, fez notar o autarca.

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