Em reação à proposta de construção de um novo hospital no Bombarral, há quem defenda a criação de dois equipamentos, de menor dimensão, nas duas cidades, a norte e sul da região Oeste
Numa carta enviada ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, o Provedor do Utente do Centro Hospitalar do Oeste, José Marques, exprimiu o seu “profundo desagrado” pela localização anunciada e propõe, como alternativa, a edificação de dois hospitais, nas Caldas da Rainha e Torres Vedras. Trata-se da “solução mais ajustada e mais coerente e consistente, em termos da garantia de melhor resposta e do bem-estar dos utentes, familiares e profissionais”, refere.
O também administrador hospitalar aposentado defende esta solução desde 2020, apelidando-a de “Twins Hospitals”, com equipamentos semelhantes ao do Hospital de Vila França de Xira,mas complementares, tendo por exemplo apenas uma cozinha, uma lavandaria, uma central de esterilização e os meios de diagnósticos “top da diferenciação” únicos.
Na missiva, José Marques recorda que já tentou apresentar a sua proposta aos governantes, ao grupo de trabalho liderado por Ana Jorge e na Assembleia da República, mas que não mereceu resposta. Dá ainda conta das “deficiências” do estudo encomendado pela OesteCIM, como os gastos que a solução apresentada acarreta com deslocações de profissionais e utentes, o acréscimo de despesa em investimento em viaturas para os Bombeiros e a perda de potencial turístico e económico das regiões Oeste Norte e Oeste Sul. E, conclui, “não estão valorizados os prejuízos na eficiência interna e económica da solução anunciada”.
Esta carta teve resposta por parte do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que reiterou a decisão de edificar o Novo Hospital do Oeste como uma infraestrutura única, sob pena da dispersão de equipamentos e de profissionais, que impedirá que este tenha a diferenciação que corresponda às necessidades da população e à atratividade e fixação dos profissionais.
O governante refere também a “necessidade imperiosa” de conservar respostas de proximidade nas Caldas e em Torres Vedras e realça as boas acessibilidades em termos de tempo e distância da solução Bombarral. A missiva termina com Manuel Pizarro a garantir que irá continuar a acompanhar o desenvolvimento deste debate, “esperando que ele não volte a comprometer a urgente melhoria da rede do SNS no Oeste”.
A área da saúde do Oeste
O médico e antigo presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, Vasco Trancoso, escreveu uma carta aberta ao ministro da Saúde, onde revela que o estudo encomendado pela OesteCIM subordinou a saúde à divisão administrativa, mas que estas não são coincidentes. “Não por acaso a Sub-Região do Oeste da Ordem dos Médicos exclui da área de Saúde do Oeste os concelhos do sul da região administrativa do Oeste e acrescenta Alcobaça a norte”, refere, salientando que uma região de saúde deve ser configurada consoante a acessibilidade dos doentes. Para além disso, um hospital “deve ficar próximo de onde houver uma maior densidade de população idosa”, que são os seus principais utilizadores.
Vasco Trancoso fala da singularidade do caso das Caldas, cidade que se situa na junção dos extremos de três distritos (Lisboa, Santarém e Leiria) e avança que a hipótese de construção de um grande hospital no Bombarral “parece ter favorecido não só clientelas partidárias (todos percebemos que há eventualmente um agenda escondida), mas também um crescimento e investimento de unidades de Saúde privadas que têm competido entre si e distribuindo-se estrategicamente pela geografia do país”.
Acredita que com a desativação do hospital das Caldas, a cidade passará a ser um alvo do investimento privado, aprofundando-se o “caminho para a existência de uma medicina para pobres e outra para ricos”. Vasco Trancoso refuta o argumento de que a hipótese Bombarral é melhor por não implicar expropriação de terrenos e respectivas indemnizações, tendo em conta que os terrenos das Caldas também têm a mesma vantagem. Por fim, mostra dúvidas se o hospital, com a dimensão anunciada, será o mais adequado, tendo em conta que se pretende evitar um “SNS hospitalocêntrico e privilegiar estruturas cada vez mais próximas dos doentes”, através dos serviços domiciliários dos hospitais e das USF. “Os hospitais hoje tendem a ser configurados com menor lotação”, afirma, questionando se não se estará a criar um “elefante branco” na área da Saúde, que profissionais de saúde das Caldas e de Torres estarão dispostos a ir trabalhar para o Bombarral, ou se mais abandonarão o SNS para o privado. Sugere, em alternativa, a construção de dois hospitais (e as respectivas Unidades de Saúde Locais) com menor lotação (um em Torres Vedras e outro nas Caldas). Contudo, caso se continue a optar por apenas um hospital, Vasco Trancoso entende que este deve ficar localizado nas Caldas da Rainha. ■




























