Conselho da Cidade trouxe Abril ao debate

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Um dos “rapazes dos tanques”, uma historiadora e o edil caldense reuniram-se em evento para assinalar a Revolução

 

Amílcar Coelho foi um dos soldados da coluna de Salgueiro Maia e é icónica a sua fotografia, deitado no chão com uma arma e rodeado de crianças. E contou, a 24 de abril, na conferência do Conselho da Cidade, como foi viver aquele momento. “Sou um dos rapazes dos tanques, éramos 240 e tínhamos entre 20 e 23 anos”, revelou o convidado perante o pequeno auditório, que esteve composto. O alcobacense, hoje doutorado em Filosofia, contou detalhes vários da operação designada “Fim de Regime”, desde a saída de Santarém, naquela histórica quinta-feira, até ao final da operação militar. Partilhou inclusivamente que a sua arma, encravou à tentativa de fazer o primeiro disparo. “Tinha tudo para correr mal, mas no final correu tudo bem!”, referiu Amílcar Coelho, acrescentando que os soldados não estariam preparados para uma intervenção em meio urbano.
Antes, o presidente da Câmara, Vítor Marques, contou que tinha apenas oito anos quando aconteceu a Revolução, o que lhe deu a oportunidade de viver uma adolescência diferente pois “as pessoas participavam mais em iniciativas cívicas e de rua”. O autarca considera que é preciso continuar a defender o 16 de março, “pela iniciativa, vontade e coragem dos militares”.
A historiadora Isabel Xavier recordou que a 25 de Abril de 1974, o golpe militar tornou-se uma revolução “porque o povo agiu de forma revolucionária, o que causou espanto a muitos, entre eles ao próprio comandante das operações, Otelo Saraiva de Carvalho, e também a Spínola”, pois consideravam o povo português “conformado, alheado da política e incapaz de se revoltar”.
Para a historiadora, mais do que celebrar o 25 de novembro de 1975, deveria comemorar-se o 25 de abril de 1975, data das primeiras eleições livres, no dia em que a revolução cumpria o seu primeiro aniversário. Nestas, o PS obteve 38% (116 deputados); PPD, 26% (80 deputados); PCP, 12,5% (30 deputados); CDS, 7,6%, (17 deputados); MDP, 4,1 % (5 deputados), num total de 249 deputados da Assembleia Constituinte, em eleições que tiveram a participação de 91,7% dos eleitores.
No final, Isabel Xavier sublinhou o facto de que “a democracia tem que ser construída por todos nós, diariamente, e não apenas nos dias em que somos chamados a exercer o direito de voto. Na sua opinião, é tal como os Direitos Humanos, “que só existem enquanto forem proclamados”.■

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