Cerca de duas dezenas de pessoas juntaram-se na manhã da passada sexta-feira para ficar a conhecer mais sobre uma enguia europeia numa caminhada junto à Lagoa, seguida de uma sessão de yoga
“A Viagem do Eiró” era o nome da atividade que levou duas dezenas de pessoas às margens da Lagoa de Óbidos na manhã de 27 de agosto, numa caminhada “guiada” por Miguel Azevedo e Castro, que, não sendo biólogo, estudou biologia e que conhece bem este sistema lagunar.
Estas enguias europeias têm uma particularidade: nascem em água salgada, no Mar dos Sargaços, o único mar que não tem costa continental e que é bastante rico em algas. As larvas nascem entre março e agosto e fazem uma viagem de 300 dias até à costa europeia onde se dá nova transformação, aí para a fase de meixão.
“Quando entram nos estuários vão crescendo e ganham a cor amarelada”, explicou Miguel Azevedo e Castro. Mais tarde, quando se vão reproduzir, ganham tons brancos na zona da barriga, para ajudar a camuflar na migração que fazem de volta ao local onde nasceram.
“Só se reproduzem naquele local e pensa-se que depois da reprodução morrem”, esclareceu.
Há registos de enguias a viverem 80 anos e, inclusivamente, “relatos de uma enguia na Suécia que até tinha nome, porque viveu 150 anos no poço de uma casa senhorial. Havia muito o hábito de colocar enguias nos poços para manter a água limpa”, contou.
O eiró tem em média entre 60 a 80 centímetros, mas já foram encontrados exemplares com 1,5 metros. “Na Lagoa de Óbidos chamamos eirós mesmo no singular”, explicou o empresário, acrescentando que aqui se chama “enguia até ter mais ou menos dois dedos de espessura e aí passam a ser chamadas de eirozes, mas, no fundo, são a mesma coisa”.
Esta é uma espécie que está em risco devido à sobrecaptura, especialmente na fase larvar, em que é chamado meixão e se torna especialmente apetecível para muitos consumidores.
A captura é proibida, mas os altos valores praticados pelo mercado espanhol e asiático fazem com que muitos se arrisquem, sendo anualmente apanhado pelas autoridades dezenas de infratores.
Miguel Azevedo e Castro recorda que quando era adolescente as margens estavam cheias de armadilhas para capturar enguias, mas, por agora não sabe “de nenhuma”. De resto, hoje em dia as armadilhas são diferentes, mas semelhantes no sistema. No entanto, recorda, antigamente pescava-se também ao candeio, em noites calmas com o petromax na bateira, à vara, sem fazer barulho. Ainda assim, as únicas espécies que deixou de ver na Lagoa foram a amêijoa branca e os cavalos marinhos, sendo que já ouviu relatos do reaparecimento destes últimos.
O encontro promovido pelo Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos tinha como principal intuito “proporcionar um momento de bem-estar lúdico, promover um maior contacto e ligação com a Natureza e conhecer a importância do Eiró na vida e nos costumes da comunidade da Lagoa de Óbidos”.
Presente na sessão, a vice-presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Maria João Domingos, explicou que está prevista uma nova sessão sobre este tema a realizar no mês de setembro.
Depois da caminhada houve uma curta sessão de yoga coreografada com Patrícia Ventura, professora credenciada de yoga e residente na Lagoa de Óbidos.
A sessão decorreu num local sossegado, à sombra dos pinheiros e com a lagoa como pano de fundo. ■































