Conhecer melhor quem dirigiu a Gazeta das Caldas

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Nem os pingos da chuva incomodaram quem quis saber mais sobre os dirigentes da centenária Gazeta das Caldas

Investigadora Cláudia Feio fez percurso pelo cemitério e deu a conhecer quem foram os dirigentes deste semanário ao longo da sua história

No fim da tarde de 25 de outubro, duas dezenas de pessoas reuniram-se no Cemitério Velho para um percurso diferente.

No ano em que Gazeta das Caldas está a celebrar o seu centenário, em conjunto com a Agência Neves e com a investigadora Cláudia Feio, que é também formadora no Cencal, deu a conhecer aos presentes onde estavam sepultados os anteriores dirigentes deste semanário. E nem umas pingas de chuva assustaram os presentes, interessados em conhecer um pouco mais da vida destes responsáveis que tiveram papéis destacados em várias fases da vida deste jornal.

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Logo no início da visita, a investigadora deu a conhecer que a Gazeta das Caldas se encontra a assinalar o seu 100º aniversário e que “é o periódico mais antigo do distrito de Leiria e da região Oeste”.

Antes, contou, só tinha existido o jornal O Círculo as Caldas, um periódico monárquico e progressista, que foi publicado entre 1893-94 e 1918. Houve ainda uma tentativa falhada de “A Gazeta das Caldas”, em 1922, que teve apenas seis números e era feito por jovens, tendo até um caráter satírico.

Na sessão, a investigadora analisou o primeiro número deste semanário, publicado a 1 de outubro de 1925 onde, aliás, vem referido no artigo “Ao que Vimos” que havia intenção de apostar no desenvolvimento da localidade.

O primeiro homenageado deste percurso foi Guilherme Nobre Coutinho, que nasceu a 12 de outubro de 1878, era natural de Santa Comba Dão. A Gazeta anunciou a sua doença desde 1 de dezembro de 1934, referindo que estava de cama com uma gripe. Casado com uma caldense, este dirigente foi um dos fundadores da Gazeta, onde se aplicou com afinco com o propósito de trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal, com a Comissão de Iniciativa (mais tarde rebatizada de Comissão de Turismo) e com as Associações locais, para que esta região prosperasse. Nos 10 anos que esteve à frente da Gazeta, defendeu várias causas como o Lactário-Creche Rainha D. Leonor, o Hospital Termal, a criação de um Museu de Arte e os Bombeiros. “Com a sua morte prematura, aos 56 anos, as Caldas da Rainha perdem um dos seus principais defensores e admiradores”, disse a investigadora, que explicou que Guilherme Nobre Coutinho faleceu em 1935 e encontra-se sepultado em jazigo da família, neste cemitério.

Seguiu-se Nuno Infante da Câmara que nasceu em1867 no Cartaxo e faleceu em1934, aos 66 anos, nas Caldas, com uma bronco-pneumonia.

Era o filho mais novo de uma família abastada do Ribatejo, que se radicou nas Caldas em 1925, localidade onde era assíduo há vários anos. Era ainda genro de Manuel Godinho Leal, de Reguengos de Monsaraz, que adquiriu a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha em hasta pública em 1906.

Foi caçador, toureiro a pé e a cavalo, e jogador de pau. Este último gosto foi passado aos seus filhos. O seu papel como fundador da Gazeta, em conjunto com Guilherme Nobre Coutinho, “só veio a ser revelado após a sua morte”, contou a oradora.

Só aí se soube, através das páginas da Gazeta, “que ele teria tido um papel crucial na criação do jornal: o apoio financeiro, sem o qual o projeto não teria condições de existir. Exigiu-se, por tal, que o seu nome passasse a constar, juntamente com o de Guilherme Nobre Coutinho, como fundador”, revelou Cláudia Feio, que se referiu também aos períodos em que houve paragem na publicação do jornal.

O terceiro homenageado foi o escritor caldense, Luiz Teixeira, natural das Caldas, que nasceu em 1904 e faleceu a 24 de maio de 1974, em Lisboa.

Este foi um dos redatores fundadores da Gazeta das Caldas que iniciou carreira profissional como jornalista na Época (1925), O Século (1926), ingressando depois no Diário de Notícias (1927) onde permaneceria até abandonar o jornalismo para chefiar o serviço de publicações da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi presidente do Sindicato de Jornalistas, tendo conseguido a Caixa de Reformas e a Carta Profissional de Jornalistas.

“Com Guilherme Nobre Coutinho e Pires Machado, Luiz Teixeira fez parte da espinha dorsal da Gazeta”, referiu a investigadora que deu a conhecer outros nomes ligados ao jornal como António Montez, José Saudade e Silva e Júlio Lopes.

Carlos Saudade e Silva assumiu a direção da Gazeta após a morte de Júlio Lopes. Antes disso, era sub-diretor. Manteve-se no cargo até 22 de maio de1974, altura em que pediu a sua exoneração. “Era um homem do Regime, e assumia-o”, contou Cláudia Feio que contou com a colaboração de José Luís Almeida Silva que deu contributos sobre a história da Gazeta, já que a dirigiu nos últimos 50 anos.

Tal como os fundadores, este diretor também foi homenageado nesta sessão.

Jaime Neves, da Agência Neves, a oradora Cláudia Feio e o presidente da Câmara, Vítor Marques mostraram interesse em continuar com a organização destas sessões culturais. Segundo Jaime Neves, “uma parte importante da história das Caldas está aqui no cemitério!”.

Cláudia Feio durante a apresentação deste percurso, onde deu a conhecer aos presentes várias páginas deste semanário. Autora fez pesquisa profunda sobre quem foram os homens que iniciaram esta publicação
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