A sessão decorreu na tarde de sábado, no Museu do Ciclismo, e atraiu cerca de 30 pessoas

A Comissão para a Defesa da Linha do Oeste diz-se preocupada que a linha volte à situação de 2017 e 2018 com supressões e atrasos constantes e promete estar atenta aos desenvolvimentos

“Estamos sujeitos a ter um novo 2017 e um novo 2018, com sucessivas supressões e a comissão está atenta a essa situação, assim como à dilatação no tempo da aplicação do PART, que tem trazido prejuízos aos utentes e que é mais um contributo para os afastar da ferrovia”, afirmou Rui Raposo, da Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, na sessão para debater o futuro desta linha, realizada na tarde de sábado, 7 de Março, no Museu do Ciclismo. “A situação na Linha do Oeste tem tendência a agravar-se, porque o material alugado a Espanha está a atingir a exaustão e apresenta episódios recorrentes de avarias, até já houve um caso de um comboio que perdeu o eixo de transmissão”, revelou. Rui Raposo fez um retrato desta linha, apontando os problemas já conhecidos, nomeadamente a falta de electrificação, modernização e automatização da linha e a falta de material circulante, mas também os constrangimentos relacionados com as estações e apeadeiros (nomeadamente a falta de informação, conforto e segurança). “Já devíamos ter obras do troço Meleças-Caldas no terreno e ainda não sabemos quem ganhou o concurso”, fez notar Rui Raposo. Por outro lado, os horários não estão ajustados às necessidades, os enlaces e a ligação a outros transportes não são pensados e os percursos não são competitivos. Segundo este responsável a linha tem de ser vista de três pontos de referência: como troço ferroviário inter-regional (ligação de Lisboa a Coimbra), na ligação regional (Leiria e Oeste) e do ponto de vista suburbano (pode ser uma linha suburbana de Lisboa, com início em Torres Vedras ou Caldas). Do ponto de vista da carga seria importante aproveitar a ligação ao porto da Figueira da Foz.
O jornalista Carlos Cipriano foi outro dos oradores da sessão e partilhou uma provocação: “se hoje fechassem a Linha do Oeste não vinha daí um grande mal e, do ponto de vista estritamente financeiro, o país até beneficiaria”. Actualmente, o que existe é uma estrutura pesada, com muito pessoal e automotoras que gastam 100 litros de combustível aos 100 kms “para transportar meia dúzia de pessoas”. Hoje a Linha do Oeste é das que tem taxas de ocupação mais baixas. Então, “porque é que faz sentido insistir?” “Pelo grande potencial que tem e que tem sido esquecido”, frisa. Ao fim de quase quatro décadas a escrever sobre a Linha do Oeste, Carlos Cipriano começa a considerar que se tem passado “demasiado tempo a cometer erros para que não seja propositado”. O mesmo orador questionou “porque é que se decide modernizar apenas meia linha? E depois à última hora é só metade de metade? Porque é que se faz de propósito para que fique um troço que é uma ilha entre Caldas e Louriçal?” Ainda assim, admitindo que a modernização avança, a concorrência aos autocarros não poderá ser feita pelo factor tempo, nem pela frequência. “Resta apostar no conforto e no preço, o que é paradoxal”, fez notar.
O interiorismo das carruagens será fundamental. “O tempo de diferença para Lisboa com comboios eléctricos não é grave se as pessoas puderem ir a trabalhar”. Nesse sentido terão de haver diferentes tipos de assentos (individuais, duplos, de família, compartimentos), espaços infantis e máquinas de vending (e espaço de bar). Por outro lado, a CP terá de apostar numa lógica de rede, ao invés da actual “política de itinerários”.
Já o especialista em estruturas ferroviárias Francisco Asseiceira falou sobre aquilo que Carlos Cipriano apelidou da separação da roda e do carril. É que a dado momento vieram directivas de Bruxelas para separar a infraestrutura dos operadores. O objectivo era abrir o mercado a privados. “É preciso criar uma resistência e uma dinâmica de confrontar a União Europeia e não fazer isto cegamente”, defendeu, acrescentando que em Espanha esta é uma discussão que já está na ordem do dia.
“Há uma obsolescência programada”, acusou este especialista, notando que houve uma pulverização do sector nos últimos 30 anos. “A CP unificada era uma universidade”, afirmou.

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