Comércio Fora de Horas é uma boa ideia que está por cumprir

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Ideia é ter uma cidade com comércio aberto até mais tarde, tirando o máximo partido das iluminações e animação

Ano após ano é lançada a iniciativa e feito o repto aos comerciantes, mas poucas são as lojas abertas fora de horas

Nas Caldas, nos últimos anos, durante o mês de dezembro, a Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste (ACCCRO) apela aos comerciantes para que abram os seus negócios até mais tarde, possibilitando uma cidade comercial durante a noite. “Caldas Fora de Horas” é o nome da iniciativa que se realiza há três anos.
O potencial da ideia é muito, aproveitando o facto de ser uma cidade comercial e de apostar forte na iluminação e na animação natalícia. Pretende-se que as pessoas possam passear pelas ruas e fazer compras de Natal até, pelo menos, às 22h30.
Este ano não foi exceção. A Associação Comercial fez o apelo e comunicou nas redes sociais a existência do comércio fora de horas.
Só que, ao contrário do último ano, não existia sequer uma listagem dos estabelecimentos participantes.
Colocámo-nos no papel de alguém de fora das Caldas, que ao ver nas redes sociais a publicação que anuncia a existência de lojas abertas até mais tarde (22h30) na cidade, decide vir até cá. Chegados às Caldas, num sábado à noite, por volta das 21h30, o ponto central será provavelmente a grande árvore, na Praça 25 de abril. Partimos daí, onde existe algum movimento, com pessoas e um café e restaurante a funcionar. Seguimos as luzes em direção aos Correios e não encontramos nada aberto. Viramos pela Rua Heróis da Grande Guerra, uma das mais comerciais da cidade termal, mas até ao cruzamento com a Almirante Cândido dos Reis (conhecida como Rua das Montras), voltamos a não encontrar nada aberto, apesar de algumas famílias a passear pelas ruas.
Aqui encontramos, finalmente, movimento e uma loja aberta. Trata-se da Loja do Sr. Jacinto e é, ano após ano, uma atração de Natal. Para este ano escolheram decorar o edifício da loja com um gigante laço vermelho. Cá fora há uma pequena fogueira, copos de vinho, numa parceria com o restaurante Geo, e convívio. Há artes e artesanato à venda na rua.

Na noite de sábado havia pessoas a passear, mas poucas lojas abertas

As noites dos fins de semana de dezembro na Loja do Sr. Jacinto são assim, com vida e animação e com muitos clientes a passarem pelo estabelecimento. Há já a “tradição” de alguns clientes de fora, que aproveitam esta época para vir visitar a loja, ver as novidades e fotografar a decoração.
Seguimos, pela Rua Miguel Bombarda e o estabelecimento seguinte é a Babushka. De porta aberta e com clientes no interior, Anna Filyuk conta-nos que é uma grande fã deste formato. Ainda assim, lamenta, “há muito poucas lojas abertas e é uma pena, porque na verdade vemos muitas famílias a passear nas ruas depois do jantar, a ver as luzes e seria ótimo que mais lojas estivessem abertas”. Sente que existe pouca crença dos proprietários das lojas em relação à existência de pessoas. “Alguns podem sentir alguma falta de segurança, como as ourivesarias”, refere. “Seria giro, ótimo e bonito”, define. “Todos os anos eu adiro” e, conta, “nesta altura angario muitos clientes”, porque “numa noite com as luzes bonitas na cidade, as pessoas andam a passear e descobrem os estabelecimentos, como tem acontecido ao longo dos anos com muitos dos nossos clientes”.
A animação das ruas com estabelecimentos abertos seria uma das melhorias, assim como a existência de cafés abertos. “Poderíamos ter bandas itinerantes a percorrer as ruas e o trajeto do comboio também deveria ser diversificado para mostrar todas as ruas e montras de lojas”, sugeriu a empresária, que defende que o prolongamento dos horários no comércio não deveria ser só nesta época do ano, como também, por exemplo, no verão. Sente que não faz sentido o comércio estar aberto nas horas em que as pessoas estão a trabalhar e os turistas na praia. Faria, defende, muito mais sentido, prolongar o horário de almoço e fechar mais tarde.
Logo em frente temos o atelier dos Minidesigners, também eles habituais participantes nesta iniciativa. Ricardo Fonseca e Andreia Querido salientam o potencial, mas lamentam que “há poucos comerciantes a aderir”, notando ainda assim que há pouco movimento nas ruas. “Às vezes entram clientes e vende-se alguma coisa”, referem, explicando que há que criar no público o hábito de que as lojas estão abertas. “O início é sempre mais difícil”, indicam, mas é preciso insistir, comunicar melhor e animar as ruas com estabelecimentos abertos. “Este ano os feriados calharam aos domingos, o que também não ajudou”, frisam.
Voltamos a atravessar a Miguel Bombarda para irmos para a mais comercial artéria da cidade, a chamada Rua das Montras, onde apenas a Ale-Hop tem portas abertas.

As poucas lojas que tinham as portas abertas registaram movimento
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A coordenadora da loja, Nádia Mendonça, disse à Gazeta que optaram por prolongar os horários na Rua das Montras porque “Caldas dá muita importância ao comércio local e há vários eventos” a decorrer, que atraem pessoas às ruas. Com o aproximar do Natal o horário foi-se prolongando. Primeiro durante a semana até às 21h00 e aos fins de semana até às 22h00, agora até ao Natal todos os dias até às 22h00, exceto no dia 24, em que encerra às 18h00. Nesta época festiva há sempre recrutamento para reforço da equipa, o que permite o prolongamento dos horários. Apesar de ser “adepta” deste conceito e de achar que “era bom” que mais estabelecimentos aderissem, Nádia Mendonça frisa que tal “depende sempre de cada negócio, da estrutura e dos recursos humanos de cada um”.
Luís Gomes, presidente da ACCCRO, admite as dificuldades na implementação da iniciativa, nomeadamente, as condições climatéricas, mas principalmente a gestão dos recursos humanos e a segurança. “A ACCCRO trabalha em conjunto com o município para proporcionar a segurança a quem compra e quem vende” e aposta “na colocação de animações”. O mesmo responsável nota que há negócios em que este conceito funciona e outros em que não é rentável e é sensível à gestão de cada caso, compreendendo os que não aderem. Ainda assim, agradece aos que participam e dinamizam o comércio fora de horas, lamentando que, com a pouca adesão, “não mantém o cenário” pretendido e a diversidade de oferta a quem compra. “Há um caminho a trilhar”, reconhece.
Noutros fins de semana houve mais estabelecimentos a aderir e espera-se que neste, o último antes do Natal, o comércio aproveite ao máximo para responder aos que deixam os presentes para a última e que haja nas Caldas, realmente, um Comércio Fora de Horas. ■

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