
Os 28 porcos comprados ao matadouro – que deram mais de quatro toneladas de carne – foram cortados por cerca de duas centenas de pessoas de Salir e de várias localidades vizinhas a 4 de Janeiro. Três dias depois decorreu nova fase: o enchimento de chouriços.
“De manhã tivemos cá 150 pessoas e à tarde cerca de 100 acabaram o trabalho”, disse Carlos Sábio, um dos organizadores das festividades. Este responsável explica que as duas estufas comunitárias (onde os chouriços são secos) já estavam praticamente cheios com os enchidos que durante uma semana ficam a secar, após terem sido fumados.
“Nós não temos medo da crise pois a nossa mais-valia é a qualidade do nosso chouriço”, acrescentou aquele responsável, explicando que, tal como é habitual, a venda dos chouriços vai reverter para a construção do Centro Pastoral de Salir de Matos. A igreja já tem o terreno, situado no centro da localidade e no novo edifício que se pretende construir haverá salas para a catequese e um grande salão para actividades sociais.

O projecto, que está orçado em 500 mil euros, será dado a conhecer à população durante os festejos.
A festa de 2012 tem uma novidade pois começa já hoje, sexta-feira, 13 de Janeiro, e acaba no domingo à tarde. “Como à segunda-feira é dia de trabalho e estamos em tempo de crise, decidimos abrir os festejos mais cedo e terminar no domingo à tarde”, disse Carlos Sábio.
No arraial haverá animação com folclore, actuação de grupos, baile, as habituais bancas de venda de chouriço e as fogueiras, onde as pessoas podem assar o seu chouriço e saboreá-lo em mesas de madeira corridas que são colocadas no largo.
Todos os anos há uma grande tenda que é montada no centro de Salir e é ali que decorrem os cortes das carnes e o enchimento do chouriço. No fim de semana a tenda é transformada em restaurante e apresenta na sua ementa sopa da pedra e frango Assado para quem não gosta (ou não pode) comer carne de porco.

A fase do enchimento dos chouriços já conta com o auxilio de uma máquina. Depois é preciso picar e atar, individualizando os chouriços. Antigamente a máquina era à manivela e ainda hoje há senhoras que fazem o enchimento à mão.
Nas estufas comunitárias são feitas grandes fogueiras para a secagem dos chouriços. Estes são transportados pelos mais novos até aos fumeiros, são colocados em grandes paus no tecto, numa tarefa que deve ser o mais rapidamente possível para que os chouriços não percam o molho da carne.
O segredo de um bom chouriço está na carne fresca e bons temperos
“Isto é do melhor que há! Ainda não encontrei melhor: há de comer e beber e boa camaradagem e de tudo quanto é bom e do melhor!”. Palavras de Cipriano Marques, 77 anos, que mora no Bairro do Arneiros, nas Caldas, mas é natural de Salir e não falta ao Santo Antão.
“Já participo na festa desde miúdo e só quando estive na tropa na Índia é que faltei aos festejos”, contou.

Diz que até poder vai continuar a participar nesta festa e é dos que está presente desde a primeira hora na montagem da tenda.
Lurdes Sábio, 57 anos, participa nesta festa há mais de 20 anos. É do Coto, mas como casou em Salir de Matos, é aqui que mora há várias décadas. Questionada sobre o que determina um bom chouriço, explica que a carne “tem que ser boa, fresca e o segredo está também nos temperos”. A carne contou com o condimento do alho, de colorau, de piripiri, de sal e de vinho. Tudo, é claro, em grandes quantidades, como a própria carne que teve que ser mexida durante dois dias para ganhar os sabores complementares.
“Gosto muito desta festa por contar com a colaboração de todos”, dizia a conviva, enquanto lavava as tripas que vão receber a carne.
Diogo Jacinto tem 14 anos e é um dos mais novos elementos que ajuda na preparação do Santo Antão de Salir de Matos. ”Adoro participar nesta festa, ajudo a transportar e a colocar os chouriços na estufas”, explicou o jovem.

Há uma década que José Sábio, de 24 anos, também integra a preparação dos festejos. “Esta é uma grande festa pois junta-se muita gente para colaborar”, disse. Ainda se lembra inclusivamente “quando era tudo feito aqui, numa época em que se matavam aqui os porcos para fazer os chouriços”. Agora a carne é adquirida no matadouro.
José Sábio diz que os jovens sabem a importância que esta festa tem para a localidade e já se vêem vários a auxiliar nos trabalhos mais pesados. O jovem diz que está satisfeito com o tempo que se prevê para o fim de semana da festa, factor que é também importante para a afluência das pessoas.
Helena Pina, 71 anos, há 24 que aqui vem ajudar nas várias tarefas necessárias à concretização da festa. Custa-lhe a crer que a tradição se mantenha tal como é vivida hoje pois “vamos quebrando as forças e os jovens, apesar de terem vontade de ajudar, não estão cá durante a semana. Uns estudam e outros trabalham…”, disse a septuagenária. Por outro lado, como há muitos reformados e desempregados, “vamos ver se tudo se continua a organizar desta forma”, disse.

Joaquim Sábio, 70 anos, já perdeu a conta aos anos em que participa. Fá-lo com gosto porque é para angariar fundos e “é bom o convívio e o reencontro pois aparece muita gente que não vemos há muito anos”. Na sua opinião, o Santo Antão de Salir começa a contar com gente jovem também na organização, o que é bom porque “têm uma energia diferente da gente”.
João Isabel, elemento da Comissão da Fábrica Paroquial de Salir de Matos, prevê uma grande afluência às festividades. “É sempre incerto ter uma festa de arraial nesta altura do ano, mas creio que este ano, poderemos contar com S. Pedro”, disse o responsável.
Terminado o enchimento e a colocação dos cerca de 7000 chouriços nos fumeiros comunitários, é tempo de descansar um pouco, ao sabor de uma filhós, acompanhada por café da’Avó ou um delicioso chá de ervas Príncipe e Lúcia Lima. Um saboroso final de tarde, numa festa comunitária, onde se sente um forte espírito de inter-ajuda.
Encher chouriços à moda antiga

Regina Lemos, 84 anos, é das Cruzes (Carvalhal Benfeito) e gosta de vir trabalhar para o Santo Antão. Aprecia principalmente a procissão, gosta de assistir ao rancho folclórico e, claro, de comer pão com chouriço. “É uma festa importante para a terra”, comentava a senhora, que tripartia a tarefa de encher chouriços à mão, usando uenchedeiras para ajudar a colocar a carne dentro da tripa.
Regina era auxiliada por Alice Ribeiro, 85 anos, “nascida, criada e casada” em Salir Matos, que acha que o Santo Antão “é a festa do povo pois todos trabalham com vontade, logo torna-se bonita”.
Segundo a conviva, as festividades dão muito trabalho, mas são agradáveis. “É preciso começar a trabalhar desde cedo para mexer as carnes e depois colocar os chouriços a secar… é tudo muito difícil”, acrescentou Alice Ribeiro que viveu durante 15 anos nos EUA.
Há três décadas que Evangelina Lopes, que é do Casal Cozinheiro (Cruzes) vem ajudar nestas festividades e tal como as duas senhoras, também se encontrava a encher os chouriços de forma manual. “Gosto de ajudar nesta festa para a igreja”, disse a conviva que tem 69 anos.

Esta voluntária conta que para fazer um bom chouriço é preciso ter boa carne e o bom tempero. A participante fica satisfeita em ver a adesão dos jovens à festa e não se importa de encher os chouriços de forma manual, enquanto que outros grupos esperam que a máquina faça a primeira parte do processo. “No ano passado éramos mais senhoras, mas nós não nos importamos e desde que haja coragem, nós vamos continuar a vir”, rematou.
Santo Antão também no Peso e no Coto
A Festa do Santo Antão também se realiza noutras localidades do concelho das Caldas, como no Peso, sempre na semana a seguir a Salir de Matos, (este ano nos dias 21, 22 e 23 de Janeiro). Também no Coto há Festa de Santo Antão, que terá lugar em Fevereiro.






























