Uma centena de britânicos entusiastas da ferrovia fizeram a volta a Portugal nos carris.
Já passa da uma da tarde de sexta-feira, 11 de novembro, e na Estação Ferroviária das Caldas sente-se expetativa entre quem ali trabalha e alguns curiosos que vieram assistir à chegada do “Comboio dos Ingleses”.
Trata-se de um comboio especial da CP que traz uma centena de britânicos, amantes da ferrovia, a percorrerem o país, puxados por uma locomotiva a diesel com um motor construído na Inglaterra há mais de 50 anos.
Neste caso, não era apenas uma locomotiva 1400, mas sim duas destas máquinas adquiridas pela CP à English Electric em 1967. Foram numeradas entre 1401 e 1467 e resultaram de um investimento que pretendia eliminar a tracção a vapor em Portugal, à época ainda muito em uso em grande parte do país. Apenas as dez primeiras foram construídas em solo inglês, sendo as restantes construídas pela Sorefame, na Amadora. Nesta viagem, a 1436 e a 1461 rebocavam três carruagens Schindler.
Andrew Donnelly, da organização destas viagens, vive há mais de 20 anos em Portugal. É ele quem nos explica que estas máquinas antigas têm algumas particularidades, como permitirem, com estas carruagens, apreciar a paisagem, algo que não acontece com os comboios atuais.
“O som das 1400, que é muito distinto, é o mais óbvio, e a parte visual, mas também o cheiro do gasóleo, da passagem e os próprios cheiros que nos entram pela janela, como o cheiro a lenha a queimar que encontrámos perto de Torres Vedras, mesmo típico do inverno, por exemplo”, explica Andrew Donnelly. “É muito especial fazer a Linha do Oeste com estas carruagens, é muito bom”, resume, elogiando a visão para tornar o património devoluto num ativo. A “Volta a Portugal em Comboio” começou no Porto e seguiu até Aveiro, percorreu a linha do Vouga, esteve no Entroncamento, Tomar, Rodão, Castelo Branco, Vilar Formoso, Guarda, Covilhã, Setúbal, Lagos, Beja e Évora, tudo antes do último dia, que se iniciou em Setúbal, com passagem pela ponte 25 de Abril e, pela Linha da Cintura até à Linha do Oeste. Nas Caldas, tal como tinha nos anos antes da pandemia, os britânicos almoçaram na cidade, ao contrário do que ocorria antigamente em que estes comboios eram alugados com carruagem-restaurante (já abatidas).
Alan Pike, que veio de Preston, é um dos entusiastas. “Vim pela primeira vez conhecer Portugal de comboio em 1995 e não voltei até agora”, conta. Em 1954 começou a trabalhar numa fábrica de componentes que fazia os controladores para estas locomotivas onde trabalhou até se reformar, 45 anos depois. “Adorei voltar a viajar nos carris portugueses, a viagem foi muito boa”, diz-nos, enquanto aprecia a montagem das duas locomotivas à frente e o abastecer destas grandes máquinas.
Pelas 15h00 ouviu-se a buzina e ao som do ribombar dos motores das velhinhas 1400, o grupo partiu, em direção ao Porto, onde terminaria esta autêntica Volta a Portugal em carris.































