
Sabia que para se inscrever como potencial dador de medula óssea basta ter entre 18 e 45 anos, pesar mais de 50 kg, não ter doenças crónicas ou auto-imunes, e dispensar alguns minutos do seu tempo e tirar um pouco de sangue, num processo semelhante às análises? E sabia que este pequeno gesto, que não dói nem deixa marcas, aumenta as possibilidades de cura para os milhares de pessoas que em todo o mundo sofrem de leucemia?
Hoje, o banco nacional de medula óssea conta com 250 mil dadores, disponíveis não só para ajudar os doentes portugueses, mas também os doentes de todo o mundo, o que coloca o país no segundo lugar nas dádivas a nível europeu. Mas este número podia ser muito maior, não fossem os mitos que ainda persistem em torno deste acto altruísta.
Alguns deles foram refutados ao final da tarde do passado dia 8 de Dezembro, numa conferência proferida pela médica Ana Marques Pereira, da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL). Uma acção integrada na “Corrida P’la Vida” da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, que tinha como objectivo aliar a um evento desportivo à angariação de fundos para a APCL.
A primeira questão a ser esclarecida é que “medula óssea e espinal medula não têm nada a ver uma com a outra”. Quer isto dizer que, ao contrário do que muita gente pensa, um doador de medula óssea não tem uma agulha a tirar-lhe sangue na espinha. De acordo com Ana Marques Pereira, “os transplantes de medula estão a cair em toda a Europa e os transplantes das células progenitoras e do cordão umbilical estão a subir”. Assim, são já muito poucos os casos em que os dadores são sujeitos a extracção de medula óssea, o tecido mole que se encontra no interior de vários ossos e onde são formados elementos do sangue, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. E quando este processo é necessário, o que se faz habitualmente é, com o dador anestesiado, proceder à extracção na zona do externo ou da anca – um processo indolor, que causa apenas algum desconforto.
O que hoje é mais comum é o dador doar apenas as células jovens do sangue, num processo que se assemelha nalguns aspectos à hemodiálise. De forma simples, o sangue do dador passa por uma máquina que filtra as células jovens do sangue, que seguem para o doente. Os pormenores deste processo foram explicados pela médica, que salientou a importância de se saber que quando alguém se inscreve como potencial dador, não se sabe quando ou se alguma vez será chamado a doar, dado que pode não ser compatível com nenhum dos doentes a necessitarem deste tratamento. “É importante que quando a pessoa for chamada, seja um mês, seja um ano depois, não tenha mudado de ideias”, referiu Ana Marques Pereira.
“O caminho para a cura da leucemia aguda ainda está longe. Até lá, vamos todos ajudar”, apelou a médica perante uma plateia reduzida a cerca de duas dezenas de pessoas. Um número bem abaixo do que seria desejável, admitiu Vasco Oliveira, presidente da Junta de Nossa Senhora do Pópulo, mas suficiente para que a mensagem deixada pela médica seja replicada e para que na próxima recolha de potenciais dadores o número de participantes seja bem maior que a dezena de pessoas que no passado sábado, da 11, apareceu na sede da junta.
Lutar contra uma doença oncológica não é fácil. E na base da fundação da APCL, em 2002, está a vontade de antigos doentes em melhorarem as condições de quem trava batalha contra a leucemia. Hoje, a associação contribui para ajudar na resolução de alguns problemas relacionados com as doenças hematológicas, apoia a investigação científica e a recolha de potenciais dadores, dá apoio a familiares de doentes.
Foi por reconhecer este “trabalho meritório” que o executivo da Junta de Nossa Senhora do Pópulo escolheu a APCL para a primeira edição da “Corrida P’la Vida”, que à vertente do desporto alia a solidária. O que se pretende é que a corrida seja um evento anual e que em cada edição a ajuda reverta para entidades diferentes, mas sempre ligadas as doenças oncológicas.
A primeira edição, que além da conferência e da recolha de potenciais dadores contou, na vertente desportiva, com uma caminhada Pais e Filhos e uma corrida com 220 atletas, foi para Vasco Oliveira “um verdadeiro êxito”, mas ainda não se sabe que montante será entregue à associação beneficiária.
Para o ano a Junta de Freguesia prevê ajudar uma entidade ligada ao Cancro da Mama.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























