Cirurgiões recusam-se a fazer cirurgia programada no bloco operatório das Caldas

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Os cirurgiões e anestesistas do Hospital das Caldas da Rainha recusam-se, desde 20 de Maio, a fazer cirurgia programada no bloco operatório até que seja resolvido o problema do “schiller” (circuito de água gelada que mantém a temperatura a níveis aceitáveis) destas instalações. As operações do serviço de urgência continuam a realizar-se normalmente, excepto em situações em que se tome a decisão de encaminhar os doentes para o hospital de Torres Vedras.
A decisão dos clínicos foi comunicada à directora clínica do Centro Hospitalar do Oeste, Isabel Carvalho, numa carta posteriormente publicada no site da Ordem dos Médicos (www.ordemdosmedicos.pt).

“O bloco operatório transformou-se numa ‘cabine de sauna’, que tem martirizado quem lá trabalha, pondo também em causa a segurança de doentes e profissionais – alguns deles já tiveram que se ausentar por risco iminente de lipotimia devido ao calor”, refere a carta. Os problemas já existiam, mas com o aumento da temperatura atmosférica agravaram-se.
No entanto, a directora clínica garantiu à Gazeta das Caldas que não foram canceladas cirurgias porque “a actividade operatória foi programada de acordo com as condições existentes”, tendo em conta que os médicos avisaram atempadamente da sua decisão. Para tal, foi disponibilizado o bloco operatório do Hospital de Alcobaça, “que estava livre”, para realizar algumas das intervenções programadas. Está também disponível o bloco operatório de Torres Vedras, quando tal for necessário.
O presidente do Distrito Médico do Oeste, Pedro Coito (também cirurgião do Hospital das Caldas), referiu à Gazeta das Caldas que alguns médicos continuavam a fazer “pequenas intervenções cirúrgicas” nas Caldas, mas que nenhum clínico de cirurgia geral o estava a fazer. Por outro lado, informou-nos que o aparelho de anestesia do Hospital de Alcobaça tinha avariado e por isso este bloco operatório também ainda não estava a ser utilizado.

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Administração do CHO apanhada de surpresa

“Desde há cerca de um ano que o ar condicionado do bloco operatório se encontra avariado, tendo havido reparações pontuais que minimizaram os efeitos do seu mau funcionamento”, refere a carta dos cirurgiões e anestesistas do Hospital das Caldas, que revela que no Verão passado a actividade cirúrgica programada também tinha sido suspensa durante algumas semanas devido ao mesmo problema.
Segundo os médicos signatários, “foi logo referido pelos técnicos que o sistema carecia de um novo ‘schiller’, para poder ser garantido o bom funcionamento do mesmo”.
Em Outubro de 2012, durante uma visita ao bloco operatório na sequência da aquisição de dois novos aparelhos de anestesia (com ventilador e monitor de sinais vitais), a Gazeta das Caldas ouviu algumas queixas por parte dos médicos em relação à temperatura alta que se fazia sentir no bloco operatório. “Desde o início que o ar condicionado não funciona a 100%. Com o decorrer dos anos a situação agravou-se”, revelou então o cirurgião Joaquim Urbano.
Apesar dos médicos terem garantido que a administração sabia da situação, Carlos Sá mostrou-se surpreendido e afirmou que iria “saber o que se passa”.
Numa nota enviada à Gazeta das Caldas pelo CHO, é explicado que este “é um problema cuja resolução se arrasta desde 2008, ano em que foi aberto um concurso público para aquisição de um novo equipamento, mas que por razões desconhecidas nunca foi concluído”.
De acordo com o comunicado, posteriormente o equipamento “schiller” tem sido sujeito a múltiplas reparações e a última avaria terá acontecido em Novembro de 2012. “Após avaliação pela empresa de manutenção conclui-se pela necessidade de substituição do equipamento por um novo”, explicam os responsáveis do CHO.
“Em 2013 deu-se inicio aos procedimentos legais necessários para adquirir um equipamento no valor de 49 mil euros, processo esse que foi concluído com a adjudicação em Abril passado de um novo ‘schiller’”, o que terá sido comunicado aos médicos e por isso a administração disse estar surpresa com o “descontentamento de alguns médicos sobre uma situação que se encontra resolvida desde o passado mês e que apenas aguarda o fabrico e instalação do equipamento”. O “schiller” virá da Alemanha e está a ser fabricado de acordo com as especificações para o espaço em causa.
Segundo Isabel Carvalho, a máquina de arrefecimento será instalada até ao final de Maio ou no princípio de Junho. “Convém salientar que esta é a fase final da solução deste problema”, referiu, explicando que não há dados que tenham revelado um aumento de infecções no BO. “As temperaturas elevadas podem ser mais um factor favorável à ocorrência de infecções, mas até à data não há nada que nos possa fazer pensar que isso tenha acontecido”, disse. P.A.

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