CHO aposta na prevenção para reduzir taxa de suicídio a zero

0
497
A equipa de profissionais do CHO contou com a colaboração do ator José Ramalho na ação de sensibilização

O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio – 10 de setembro – foi assinalado com uma ação de sensibilização e caminhada de luto pelas vítimas. A informação e desmistificação do problema é o objetivo.

A taxa de suicídio no Oeste, em 2020, foi de 10,6 mortes por 100 habitantes, superior à média nacional (9,1 mortes por 100 mil habitantes). Porém, os números mostram uma evolução face a anos anteriores, nomeadamente em relação a 2017, quando a taxa nacional anual bruta foi de 10,2 mortes por 100 mil habitantes e na área de atuação do CHO se situava nos 16,5.
Os dados mostram uma evolução, mas de acordo com Catarina Jesus, coordenadora da equipa de Prevenção do Suicídio do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do CHO, o objetivo é obter uma taxa zero. Este grupo, constituído por uma médica, dois enfermeiros e duas psicólogas, desenvolve, desde o início deste ano uma consulta de prevenção, dirigida a pessoas já acompanhadas pelo serviço de Psiquiatria e tenham um aumento do risco do suicídio. “É uma espécie de intervenção intensiva”, explica a responsável, especificando que tentam apurar e mitigar os factores de risco e potenciar os factores protetores no sentido de prevenir a pessoa passar por uma crise.
A coordenadora da equipa considera que é importante contatar mais com os cuidados de saúde primários, nomeadamente os médicos de familia, e desenvolver redes de agentes sociais na comunidade, como é o caso das forças de segurança, bombeiros, ou outras.
Importante é também a sensibilização da população para este tema, numa tentativa de diminuir o estigma. Foi o que aconteceu no passado sábado de manhã com uma ação na Rua das Montras, onde além do laço amarelo, foram entregues panfletos com informação sobre os sinais de alarme, os mitos sobre os suicídios, os fatores de risco, sintomas comuns na depressão ou contatos úteis.
Entre os mitos associados a esta problemática e que os técnicos querem combater estão a ideia de que se alguém fala em suicidar-se é pouco provável que o faça, que o suicídio é sempre um ato impulsivo, ou que alguém que tenta ou fala sobre suicídio só quer chamar a atenção. Chamam também a atenção para a necessidade de levar a sério os pedidos de ajuda e a encorajar a pessoa a pedir apoio profissional.
Ao fim da tarde houve uma caminhada do luto pelas vítimas. Na quarta-feira (já após o fecho desta edição), grupo “Não Fazemos nem mais um… Km” associou-se à comemoração do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, usando equipamento amarelo (alusivo à prevenção do suicídio) no seu encontro semanal.

Oeste aproxima-se da média
Mais de 90% das pessoas que cometem suicídio possuem uma doença mental identificável, explica Catarina Jesus, realçando que o estigma que ainda existe relativamente à doença mental por vezes condiciona a aproximação aos cuidados de saúde primários ou mental. Para além disso, são exemplos de fatores predisponentes de suicídio a história familiar de comportamento suicidário e as tentativas de suicídio prévias. Relativamente aos fatores precipitantes desse comportamento, podem ser o uso patológico de álcool e drogas, o acesso a meios letais (como armas, poços, acesso facilitado a arribas) e acontecimentos de vida adversos, como como um divórcio.
De acordo com a responsável o início da idade adulta e a partir da meia idade, são as alturas de aumento de risco, associadas a factores como o isolamento ou diminuição das capacidades motoras e estar dependente de alguém. Já no que respeita aos jovens, este comportamento pode estar associado a factores como o bullying, a falta de aceitação do ponto de vista social e de integração no grupo, ou ainda a fenómenos de suicídio em conjunto.
Relativamente ao impacto da pandemia, Catarina Jesus considera que ainda é cedo para tirar conclusões. “O facto das pessoas estarem em casa com a família pode ter aumentado a vigilância e a companhia, mas também poderá ter tido o efeito contrário”, explica.
Também presente na acção, Sara Oliveira, psicóloga e adjunta do presidente da Câmara, salientou que no concelho há uma “grande fragilidade em termos de saúde mental e que urge consciencializar as pessoas para a problemática do suicídio”. Considera que a melhor forma de prevenir é dando conta dos sinais de alerta, pelo que “se toda a comunidade estiver mais desperta e consciente para esta realidade, mais facilmente podemos ajudar a salvar uma vida”.
A autarquia vai contratar mais dois psicólogos, também para dar uma maior resposta nesta área.

- publicidade -