Percurso inspirador da jovem que, sendo disléxica, encontrou na educação e na escrita o seu caminho
“Na altura veio ter comigo uma jovem muito tímida e humilde, mas também muito disponível para colaborar, ajudar e a responder a todas as minhas perguntas”. O ano era o de 2009 e Catarina Mangas, docente da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS), tinha que recolher dados para a tese de doutoramento na área da dislexia no ensino superior, e a recordação foi partilhada pela própria, na tarde de 8 de janeiro, na apresentação do livro “Fragmentos do que sou”, da autoria de Cheila Roça, em Salir de Matos.
A amizade perduraria até hoje, com a docente a festejar mais um objetivo alcançado pela jovem, disléxica, que atualmente é educadora de infância e tem na escrita uma das grandes paixões. De 2009 a docente guarda a expressão usada por Cheila, que lhe disse: “escrevo odiando escrever”, lembrando as dificuldades de leitura e escrita no seu percurso escolar, que soube contornar e mostrar que “ser diferente só pode mesmo ser um tipo de enriquecimento, sobretudo quando se trata de trabalho na área humana, de pessoas para pessoas”.
Catarina Mangas partilhou ainda o trabalho de Cheila Roça na associação que criou, em 2015, de Acompanhamento Pedagógico e Social “Construtores de Encantos”, que integra crianças e adolescentes com limitações académicas, problemas familiares e outras que só não têm quem as ajude a estudar nem têm métodos de estudo.
Já Paula Ferreira, também docente da ESECS, conheceu Cheila Roça num congresso científico sobre dislexia e considera que a jovem “procura a superação a cada pequena ação e as suas conquistas e progressos são um motivo para continuar em frente”. Referindo-se à sua escrita, salientou que Cheila faz dela um “ato de terapia”, mas também de criação, citando algumas das passagens de “Fragmentos do que sou”.
Ao todo, reúne mais de uma centena de poemas autobiográficos, que a jovem começou a escrever em 2016 quando “descobriu” Fernando Pessoa. São trechos de vida, frações de emoções, anseios, afetos, que mostram o que foi um caminho difícil, de transformação. “Muito do que sou hoje está ligado à dislexia, até porque acho que há uma capacidade criativa que os disléxicos têm e que é muito evidente e a capacidade de ultrapassar obstáculos”, contou, durante a apresentação, que encheu o Centro Pastoral de Salir de Matos.
Também presente no evento, Estela Costa, a artista plástica que fez a capa do livro e amiga de infância da autora, corroborou da opinião de que a dislexia “não é um problema, antes uma característica, que não ajuda tanto nas letras mas noutras são melhores. Todos somos diferentes e acima de tudo temos de ser fiéis a nós próprios”, enalteceu. ■
































