Os autores Vítor Lopes e Carlos Constantino deram vida a uma expressiva caricatura de Bordalo Pinheiro
Rafael Bordalo Pinheiro faleceu a 23 de Janeiro de 1905. Passaram 106 anos na passada segunda-feira e há nas Caldas dois ceramistas que decidiram prestar-lhe homenagem através de um grande busto que retrata o mestre em caricatura que vai agora dar origem a uma série limitada.
A ideia para criar esta peça partiu de Vítor Lopes, ceramista que domina sobretudo a área dos moldes e, por isso, foi pedindo ajuda a outros autores que lhe modelassem os traços fisionómicos de Rafael Bordalo Pinheiro. “Estou a trabalhar na peça com o Carlos Constantino desde Agosto e apenas aos fins de semana”, contou Vítor Lopes, que desenvolve o seu trabalho numa área na Expoeste e se disponibiliza a ensinar a fazer cerâmica a quem quiser.
Quem sabe qual é a melhor expressão para dar à caricatura bordaliana é Carlos Constantino que é, aliás, um dos mais talentosos caricaturistas da actualidade. Possui atelier no Nadadouro e são de sua autoria (e do irmão) peças dedicadas a figuras famosas como José Saramago, Eça de Queirós e às fadistas Mariza e Amália. Também tem peças que representam Fernando Pessoa, Zé Povinho, Woody Allen, Péle, Figo e Einstein.
O novo busto de Rafael Bordalo Pinheiro, feito em barro vermelho, com cozedura, irá diminuir cerca de 20% do seu volume. O rosto de Bordalo é muito expressivo e destacam-se os movimentos dos seus caracóis, executados com grande pormenor por Carlos Constantino. “Queremos agora tirar o molde e fazer uma série limitada de bustos”, contava Vítor Lopes, satisfeito pela conclusão da primeira fase deste trabalho que conduzirá à feitura dos moldes que depois permitirão concretizar uma série de cerca de 100 peças.
O busto revela grande expressividade e pormenor
Este já é o terceiro busto que Carlos Constantino dedica a Rafael Bordalo Pinheiro. “Tudo começou por causa do monóculo. Ajudei a colocar a peça metálica e depois fui criando a restante busto”, explicou o autor, conhecido pela capacidade de pormenorizar e de dar dinâmica aos seus retratados no barro.
Os dois anteriores bustos foram feitos e estiveram patentes na Livraria 107, por convite da livreira Isabel Castanheira, grande divulgadora da obra bordaliana. O primeiro foi criado em 2007 e o segundo em 2010 assinalando datas relacionadas com o nascimento e morte daquele artista.
“Eh pá, isso nunca mais acaba!”
Aos sábados e aos domingos há amigos e visitantes que têm acompanhado esta criação e havia até quem duvidasse que pudesse estar já pronta. “Diziam: eh pá, isso nunca mais está acabado!”, contou Vítor Lopes. Mas está. E agora será replicada. Cada exemplar custará no mínimo 400 euros e alguns ficarão da cor do barro e outros serão pintadas da cor do bronze. “Já temos alguns interessados em adquirir a peça”, contaram os autores, acrescentando que esses potenciais compradores até têm acompanhado as várias fases da criação da obra.
Vítor Lopes trabalhou durante 18 anos na Fábrica Bordalo Pinheiro e diz que esse é um dos motivos para levar a cabo esta homenagem. Interessado em divulgar a cerâmica tradicional das Caldas, este autor está também interessado em inovar. Recebeu no seu atelier uma estagiária do Cencal que está a modelar obras nas quais se criam novas roupagens à tradição local.
Este autor está ainda disponível para ensinar o que sabe a quem estiver interessado e costuma receber professores que lhe pedem para aprender as técnicas a fim de as transmitirem aos seus alunos. “Faço isto sobretudo por carolice…”, disse o ceramista que não quer deixar morrer a produção tradicional de louça e peças decorativas e eróticas das Caldas.
Vítor Lopes pertence à Confraria do Príapo e à Associação Tesouros Verdadeiros e é frequente vê-lo na televisão, mostrando como se faz a cerâmica caldense. No ano passado esteve uma temporada a trabalhar ao vivo na Casa dos Barcos. “Não queremos deixar morrer o artesanato e a cerâmica locais e queremos ajudar a divulgar e a ensinar o que sei”, disse o responsável que quer passar o seu know-how e não guarda segredos de como se enchem os moldes, se vidra, ou se desenformam as mais diversas peças da cerâmica local.