Ceramistas ajustam-se à realidade pandémica

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Há mais de uma centena de autores que se dedicam à cerâmica e que se estão a adaptar às regras da nova realidade

Há algumas dezenas de autores que vivem apenas do seu trabalho cerâmico no Oeste, a maioria em Caldas e Alcobaça. São ceramistas de carreira feita a quem se juntam jovens autores, formados na ESAD, que já se encontram a dar cartas neste setor. Também há quem tenha outra ocupação profissional e dê largas à imaginação na criação de propostas no tempo livre. No global, há na região Oeste cerca de uma centena de autores que se dedicam a esta área.
Sónia Borga é ceramista com atelier próprio em Tornada e possuí três lojas de cerâmica de autor, onde vende peças suas e de outros ceramistas da região. Com a pandemia mantém as lojas de Óbidos e de Sintra, mas teve de encerrar o espaço que possuía em Alfama. “Estava numa localização ótima, perto do Castelo mas não foi possível continuar…”, lamenta a autora e empresária, que tinha dez trabalhadores nos vários espaços e que agora mantém seis pessoas.

“Tive de fechar uma das três lojas. Mantenho seis de dez colaboradores que agora estão em lay-off”

Sónia Borga

Também teve de deixar de comprar peças a outros autores e colocou a equipa, agora de seis pessoas, em lay-off. “Estou a tentar manter a restante estrutura, mas não é fácil…”, contou a artista, que já foi distinguida com um prémio na Bienal de Aveiro, numa peça realizada em parceria com Vítor Santos. Apesar das dificuldades, não perde a esperança. Até porque “não se pode deitar fora tudo que se construiu ao longo de uma vida”, rematou.
Elsa Rebelo é diretora artística da Fábrica Bordallo Pinheiro e tem também o ateliê nas Cruzes (Salir de Matos). A pandemia obriga a refrear a produção própria, mas tem “recebido muito apoio das pessoas”, que lhe “dá força para continuar”, comentou a artista, que tem realizado exposições em várias localidades do país.
Também o casal Fernando e Milene Miguel, que têm o ateliê no Formigal, se queixa da diminuição das encomendas, que é consequência do encerramento das lojas.
Sílvia Jácome, que também tem o seu próprio ateliê em Salir de Matos, onde se dedica à produção manual em porcelana, não tem sentido muito a crise gerada pela pandemia, já que as encomendas e os novos desafios estão a chegar-lhe como sempre, via online.
Vitor Mota e Helena Brito formaram-se no Cencal nos anos 1980. Ambos foram modeladores e, mais tarde, criaram a Oficina Linhas da Terra. A marca dá nome à loja que abriram na Praça da Fruta onde vendem a produção e de outros ceramistas. “A loja está fechada mas continuamos com a nossa atividade na oficina”, disse Vítor Mota, acrescentando que assegura quatro postos de trabalho.
Por seu lado, Paula Clemente, autora que tem o seu ateliê – Lagar d’Artes – nas Gaeiras (Óbidos) – há 10 anos, diz que está a apostar em novas peças pois não tem as habituais encomendas feitas por lojas de todo o país. Assim, está a vender peças online e aposta em dar a conhecer as novidades através do Instagram. ■

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Avançam futuros espaços para a cerâmica

A Câmara das Caldas está a planear a abertura de alguns espaços relacionados com a criação cerâmica e que proporcionarão contacto direto entre autores e público.
Segundo o vereador Hugo Oliveira já estão a decorrer as obras no Pátio dos Burros, espaço municipal que servirá para albergar não só ceramistas – e que inclui área de loja e de trabalho ao vivo – como também para autores de cutelaria e dos bordados das Caldas.
O vereador garantiu que a autarquia quer ligar o Jardim d’Água à zona da Praça da Fruta, promovendo a ligação das zonas através da abertura de um dos edifícios que já foi adquirido nas proximidades do Posto de Turismo.
Para este ano ainda está previsto o lançamento de um roteiro com o levantamento dos ceramistas que trabalham no concelho das Caldas. “O guia também terá edição digital para ser incluído no City Guide”, afirmou Hugo Oliveira. A recolha para esta obra está a ser feita por Isabel Castanheira e as fotografias são de Carlos Barroso.
Para o Parque D. Carlos I está desenhado um espaço, nos armazéns da Parada, para albergar seis ateliers: cinco para ceramistas e um para cutelaria. O projeto prevê estender-se até às estufas, aliando o mundo das plantas ao da criação de autor. Neste momento, segundo o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, já se obteve autorização da DGPC para avançar com este projeto para o qual querem “ter apoio comunitário”. Após aprovação arquitetónica, este espaço está agora na fase de especificações técnicas.
A Câmara, no âmbito da Cidade Criativa, vai adquirir uma centena de peças a 38 ceramistas que concorreram ao programa de aquisição. Segundo José Antunes, responsável pelo Centro de Artes, falta ainda finalizar o processo da compra, com uma dúzia de ceramistas caldenses. ■

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