
Grupo de meia centena de pessoas de Tomar – entre ceramistas, professores e autores – vieram às Caldas para conhecer melhor alguma da sua cerâmica
Saíram bem cedo de Tomar, rumo às Caldas, num autocarro da câmara municipal daquele concelho. A primeira paragem foi feita na Braz Gil Studio, tendo o grupo a oportunidade de visitar esta empresa que se dedica a trabalhar a porcelana para um segmento alto para marcas que estão presentes nas melhores lojas das várias capitais europeias e também do outro lado do Atlântico.
Os visitantes deixaram-se surpreender pela produção desta unidade que possui 24 trabalhadores e faz da produção em porcelana a sua alma. “Temos algumas peças que vão ao forno quatro e cinco vezes”, contou o empresário, responsável pela empresa, Joaquim Braz Gil, referindo-se sobretudo às que são banhadas a ouro.
O grupo de autores que veio de Tomar e que se dedica a realizar eventos culturais designa-se Convergências e tem, neste momento, a decorrer a iniciativa Sítios do Barro III que inclui uma exposição de três autoras portuguesas que realizaram trabalhos em porcelana na China Por isso quiseram complementar o evento com uma vinda às Caldas para conhecer a Braz Gil Studio. “Quisemos conhecer de perto como trabalha uma unidade dedicada apenas à porcelana”, disse António Diogo Rosa, artista e coordenador do grupo visitante.

O percurso contou com a organização da ceramista Sílvia Jácome, autora que é de Tomar mas que vive e trabalha nas Caldas há vários anos, após se ter formado na ESAD.CR e no Cencal. O atelier de Sílvia Jácome fica em Salir de Matos.
Após terem tomado contacto com a produção desta empresa, o grupo seguiu viagem e foi conhecer as peças de arte pública de Mário Reis e de Carlos Enxuto, colocadas na Rua Manuel Mafra, no Bairro da Ponte. Tiveram a oportunidade de conversar com o autor Mário Reis que tem presentes,naquela peça, várias vertentes do seu trabalho autoral.
A visita à cerâmica das Caldas prosseguiu com idas aos locais onde se encontram peças de Ferreira da Silva, no Largo da Vacuum e no Jardim d’Água, intervenção que precisa de obras de manutenção e de conservação conforme Gazeta das Caldas tem noticiado nos últimos anos.
Já durante a tarde, o percurso pelo Museu de Cerâmica foi guiado por Margarida Araújo pela coleção do Museu, patente no Palacete que pertenceu ao Visconde de Sacavém. Este tinha um atelier cerâmico que funcionou entre 1892 e 1896 e que teve como responsável o escultor austríaco José Füller. O edifício foi adquirido pelo Estado em 1981 e o Museu de Cerâmica foi criado dois anos depois. Uma das peças da coleção, que Margarida Araújo apresentou com detalhe ao grupo, foi um prato que foi pintado pelo Rei D. Carlos, que era visita regular do atelier. A investigadora contou vários pormenores sobre a coleção desde as peças oláricas, passando pelas de Maria dos Cacos até chegar à contemporaneidade com as propostas de Eduardo Constantino, Ferreira da Silva e de Armando Correia.
Interessante foi o facto de uma das pessoas do grupo ser o ceramista Heitor Figueiredo, que possui uma peça na área da cerâmica contemporânea do museu.
A historiadora detalhou vários pormenores relativos à produção de Manuel Mafra, de Rafael e de Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro.

Tempo também para conhecer a produção de Costa Mota Sobrinho (1877-1956), que assumiu a direção da Fábrica de Faianças das Caldas entre 1908 e 1912.
Durante a visita foi constatável que o edifício necessita de obras de conservação e manutenção. Durante as grandes chuvadas, viu-se inclusivamente forçado a fechar portas.
Gazeta das Caldas estranhou ainda o facto de algumas das obras na exposição permanente se encontrarem partidas. Há uma grande peça representando uma tartaruga que está na exposição permanente sem cabeça.
Uma das próximas iniciativas do grupo Convergências terá a construção de grandes talhas cerâmicas e poderá passar em intercâmbio pelas Caldas. Entre os visitantes estiveram vários professores de artes de Belas Artes e da António Arroio. Além de Heitor Figueiredo, ceramista ligado às Caldas através do Cencal e de unidades fabris como a de António Duro, fizeram parte deste grupo alguns oleiros tradicionais. Também veio de Tomar o ceramista caldense João Pinto que agora vive e trabalha na cidade dos templários.■






























