Cencal aposta na especialização e formação de designers e artistas na área do vidro

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Foi com uma acção para vidreiros que o Cencal – Marinha Grande finalizou a campanha do forno de fusão. Esta iniciativa decorreu nos meses de Fevereiro e Março e permitiu que fossem feitas cinco acções de formação com um total de 75 formandos. Ao todo, 200 visitantes tiveram oportunidade de ver funcionar um  forno de fusão – que permite as altas temperaturas necessárias paro o trabalho no vidro – e de assistir a sessões de trabalho de vidro manual.
Além dos formandos da ESAD e da FBAUP (Faculdade das Belas Artes da Universidade do Porto), houve também um grupo de formandos da acção de Técnicas de Produção pelo Método de Encalmo e Cane composto por vidreiros no activo, com quem a Gazeta das Caldas conversou.
O forno de fusão foi encerrado a 30 de Março e só voltará a funcionar no próximo ano.

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O Cencal está na Marinha  Grande desde Maio de 2011, na sequência da decisão oficial de extinção do Crisform e do convite do IEFP para que o centro da formação das Caldas ficasse com a área oficinal do vidro “por forma a não deixar morrer todo este  trabalho”, disse Pedro Paramos, director dos serviços de formação do Cencal. Este responsável explicou que está a ser dada continuidade às actividades que ali se realizavam, respondendo assim às necessidades de qualificações das empresas daquele sector.

As instalações do Cencal ficam na Zona Industrial da Marinha Grande

Enquanto o Cencal ficou com a parte oficinal do vidro, o Centro de Formação de Leiria herdou as outras áreas de formação, nomeadamente cabeleireiro, calceteiro, comércio e outras.
Do trabalho do centro caldense naquela cidade fazem também parte acções do Centro de Novas Oportunidades que, por sua vez, também tem várias itinerâncias a decorrer nas empresas da área do vidro.
“Antes de começar a trabalhar contactámos as principiais empresas na área do vidro”, comentou Pedro Paramos,  explicando que se está a desenvolver uma acção em articulação com as empresas da região. “É um sector que tem boas e grandes empresas na área da garrafaria, de grande pujança económica, que estão a trabalhar em força e que necessitam de renovar os seus recursos humanos pois há necessidade de pessoal qualificado”, explicou o director da área da formação.

Ao todo, 15 vidreiros no activo contactaram com técnicas que são usadas fora de Portugal

Além do mais vai ser levada a cabo formação para desempregados. “Neste momento estamos a dar formação na área de operadores de produção industrial para desempregados e tencionamos até ao final do ano começar a fazer formação na área de Técnicos de Vidro especialmente dirigidos à indústria vidreira “, disse Pedro Paramos. Este novo perfil já foi apresentado à Agencia Nacional das Qualificações (ANQ), num trabalho iniciado ainda pelo ex-Crisform. Um trabalho que também será feito em estreita articulação com as principais  indústrias da zona.

Vidreiros no activo aprendem técnicas estrangeiras

Além da formação para desempregados e para estudantes das escolas superiores de belas artes e design, o Cencal quer manter na sua área oficinal da Marinha Grande (ex-Crisform) alguma da formação técnica  e por isso foi organizada uma acção para vidreiros no activo, à qual Gazeta das Caldas teve oportunidade de assistir.
Fernando Esperança, formador desta acção, explicou que “estamos a trabalhar técnicas de Veneza (Murano) e também do Norte da Europa que não são comuns ao conhecimento acumulado que existe na Marinha Grande”, disse o responsável que iniciou a sua carreira de vidreiro há 40 anos.
Alguns dos 15 participantes fizeram demonstrações pelo método de encalmo e queime, mostrando grande destreza no domínio do vidro (ver caixa).
Por Joana Silva, designer de vidro e técnica do Cencal, foram organizados workshops de vidro artístico para professores do ensino secundário, a pedido destes. “Procuramos dar a melhor resposta possível a quem recorre a nós”, disse.
Mantém-se ainda a funcionar nestas instalações o laboratório que é liderado por Célia Gomes e que presta serviços externos às empresas de vidro. “Fazemos análises às matérias para empresas portuguesas e também espanholas”, contou a técnica.
Na Marinha Grande a equipa do Cencal tem três pessoas permanentes para o vidro e um conjunto de formadores externos que vão colaborando consoante as necessidades. No CNO há cinco pessoas fixas e vários formadores externos.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

José Nascimento
“Comecei a trabalhar no vidro aos 11 anos”
“Esta acção foi um encontro importante que serviu para aumentarmos os nossos conhecimentos sobre técnicas que não conhecemos em Portugal. Aprendemos algumas coisas novas que nos vão permitir fazer outro tipo de peças, diferentes das que estamos habituados.
Sim, foi bom, mas agora eu já estou à beira da reforma, logo acho que será mais útil para os meus colegas vidreiros, mais novos, que trabalham comigo na Atlantis-Vista Alegre, em Alcobaça.
Há 48 anos que trabalho no vidro, tendo começado a trabalhar com 11 anos, na Crisal – Cristais da Marinha Grande (antiga Marques de Pombal)”.


Carlos Verga

“É muito interessante tentar passar a ideia do designer para as mãos do vidreiro”
“Estou a tirar mestrado na Suécia e como agora tive uma paragem, quis  aproveitar esta oportunidade única de aprender a trabalhar o vidro.
Sou do Ribatejo,  estudei Design de Cerâmica e Vidro na ESAD e, em 2008, tive o primeiro contacto do vidro. Larguei logo a cerâmica e quis abraçar esta oportunidade.
Os projectos que realizei na Suécia também foram na área do vidro mas relacionados com a indústria automática que é impessoal e não há tanta necessidade de acompanhar o processo de fabrico.
Trabalhar o vidro manualmente é fascinante e mais complicado, mas é muito interessante tentar passar a ideia do designer para as mãos do vidreiro. E essa é a área que mais me interessa trabalhar. Depois do concluído o mestrado, pretendo regressar a Portugal e ver o que se pode fazer depois por cá”.

Alfredo Poeiras
“Até me custou a acreditar que iriam voltar a ligar o forno!”
“Tenho 56 anos e há 46 que trabalho no vidro. Sou membro do colégio dos mestres vidreiros e esta foi uma acção  de continuação para quem está no activo pois aqui aprendemos técnicas que não são usadas em Portugal. É preciso continuar a evoluir e apesar de ser formador há quase uma década é bom melhorar os meus conhecimentos para depois os deixar aos mais novos.
No início nem queria acreditar que voltariam a ligar o forno! Estamos muito satisfeitos com o Cencal pois está aqui a prova de que voltariam a fazer uma pequena campanha, permitindo acções de formação no forno.
Neste momento a fábrica Crisvidro é a única que ainda trabalha com o  vidro manualmente. É a última da Marinha Grande. As restantes, estão todas automatizadas”
.

N.N.

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1 COMENTÁRIO

  1. Seria Bom,Muito Bom mesmo que a Marinha Grande se Deixa-se de Teorias e mete-se em Pratica um Programa em que um Estudio de Vidro e trabalho ao vivo, se torna-se uma realidade, menos burocracia,
    seria o Ideal, uma loja ,Um Vidreiro, uma vendedora, tão simples como isso,háhhh não há $$$ nem Verbas claro, Obrigados