Cebola caldense voltou a ser estrela da Frimor

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Daniel Campelo (à esquerda) falou com os produtores e mostrou-se confiante no futuro da agricultura do país

Albino Ferreira Tomás tem uma vida inteira de memórias para contar passadas na Frimor – Feira Nacional da . Aos dez anos já Albino ia todos os anos de Alvorninha para Rio Maior em inícios do mês de Setembro, a acompanhar o pai que ali vendia toneladas de cebola em cada ano.
Hoje, com 75 anos, o produtor de Casais da Achada continua a ser presença assídua na feira onde a cebola é rainha e é um dos mais velhos dos 38 ceboleiros que marcaram presença na edição de 2012 da Frimor, realizada entre 31 de Agosto e 4 de Setembro.
Dos tempos idos, ficam as memórias porque hoje a realidade é bem diferente. “O ano passado vendi a 50 cêntimos e foram umas 17 toneladas. Este ano também estou a pedir a 50, mas eles [os clientes] não mos querem dar”, queixa-se o ceboleiro, zangado com a “cegueira” que impede os consumidores de perceberem que o que é nacional é que é bom.
“Esta é bem melhor que aquela que está no supermercado, que a malta diz que é seca, que não presta. Lá vende-se mais cara que aquilo que nós estamos a vender aqui. A malta é que é cega, não vê e não ajuda o agricultor”, queixa-se.
A cebola produzida nos campos de Alvorninha tem qualidade garantida. Palavra de ceboleiro. “Isto é material que dura muito, é material tratado. Não é qualquer coisa”, afiança. E garante que quem comprar grandes quantidades não fica mal servido. “Isto aguenta-se. Afianço a cebola até Março, Abril. Pode haver uma ou outra que apareça espigada, ou tocada ou assim, mas isto é um espectáculo. É material que está a vender saúde”.
A qualidade da cebola de Alvorninha é afamada. Mas a que se deve? O presidente da Junta local, Virgílio Leal, diz que “existem condições edafo-climáticas [de solo e clima] que fazem com que Alvorninha tenha boas condições para produzir em qualidade, porque a quantidade consegue-se produzir em todo o lado”.
É por isso que a Feira da Cebola se faz todos os anos com os ceboleiros caldenses. Este ano, todos os 38 produtores eram de Alvorninha. E muitos marcam presença na feira há largas décadas. “É uma forma de escoar os produtos. Ajuda num dos grandes problemas, que hoje não é produzir, é comercializar”, diz Virgílio Leal.
Mas uma tradição de tantos anos já se tornou mais que um simples negócio. “Também é uma forma que eles têm de manter uma tradição, nalguns casos de pessoas que já vêm há mais de meio século. São as férias deles, é uma forma de passarem uns dias fora do seu habitat e das suas rotinas normais”.

Uma aposta na tradição

É precisamente esta tradição que Rio Maior não quer perder. Apesar dos tempos de contenção, a autarquia e a associação comercial dizem-se empenhadas em não deixar morrer a feira centenária. “Uma aposta na tradição”, onde se promovem, não só os produtos da terra, mas também “as tradições agrícolas, as associações, empresas e o concelho”, referiu a presidente da Câmara de Rio Maior, Isaura Morais, na inauguração do certame.
Na festa esteve também o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, que salientou a “enorme potencialidade que o país tem no mundo rural”, que não deve ser desperdiçado. O governante acredita que Portugal vai ultrapassar as dificuldades que vive actualmente, “mas tem que apoiar o sector agrícola e florestal que tanto têm para dar ao país”.
Daniel Campelo afiança que “há uma nova atitude nacional, de dignificação crescente. Em relação à agricultura, à floresta e ao desenvolvimento rural”. E nesse contexto, “é importante que estas feiras sirvam também para motivar o consumo de produtos de qualidade portugueses”.
Além da cebola, a Frimor pôs ainda no centro das atenções diversas empresas e serviços locais, bem como a melhor gastronomia da região. Ao longo dos quatro dias de festa também não faltaram os momentos de animação musica, a venda ambulante e os divertimentos para miúdos e graúdos.

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Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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