Luís Rosa é designer gráfico, formado na ESAD e decidiu ficar a viver nas Caldas com a família. Há cinco anos, criou a marca Papa Lulu, que tem como base o resgate de madeira
que se destinava à queima. Do seu trabalho nascem tábuas e instrumentos de cozinha permitindo, assim, reaproveitar madeira que já não tinha utilidade
Luís Rosa é de Tavira e veio para as Caldas em 1994 para estudar Design para Cerâmica. No ano seguinte, mudou-se para o primeiro curso de Design Gráfico da escola de artes caldense. Acabou por ficar na cidade, onde constituiu família. Já criou a própria marca que tem por base o resgate da madeira que se destinava a ser queimada ou deixada de lado por não estar nas mais perfeitas condições.
À Gazeta das Caldas, contou que vive numa casa com lareira e que lhe fazia muita confusão destiná-la às labaredas. “O cheiro da madeira, a textura, a cor deixava-me sem vontade de a queimar”, disse o autor, que, além de morar num 3º andar sem elevador, começou a guardar os toros no seu sótão “para mais tarde fazer algo com eles”.
Começou por trabalhar troncos de oliveira que tinham vindo da poda de umas árvores. Produziu colheres e espátulas. Mais tarde, e já usando troncos maiores, começou a criar tábuas de servir à mesa. Primeiro, fê-las para casa e depois para oferecer aos amigos e conhecidos.
Depois do nascimento da filha, o trabalho com a madeira ganhou nome – Papa Lulu – e o autor começou a apostar em melhores acabamentos e até em novos produtos.
A marca foi apresentada na Feira dos Frutos de 2019 e correu com muito sucesso. “As pessoas abraçam o conceito de preservar, reutilizar, receber e estimar um objecto de madeira que irá perdurar para além das suas vidas”, contou o autor, acrescentando que cria, por exemplo, peças como taças em azinho que vão ficar para os bisnetos dos seus clientes.
Peças que
serão heranças
Segundo Luís Rosa, esta é uma madeira usada para queima pela sua rigidez e, por isso, é muito durável.
“Uma tábua ou taça ficará como herança”, acrescentou o designer, que dá grande polidez as suas peças. Objectos que constrói em sobro ou em oliveira atraem pela sua agradável textura e toque. E relembra que é preciso respeitar a natureza. Interessa a este designer que os compradores estabeleçam ligação com a madeira, matéria que já foi viva “e que nos relembra o que estamos a destruir, pouco a pouco”, acrescentou o autor, que evidencia preocupações relativas à sustentabilidade.
Custa-lhe também que actualmente sejam massivamente plantadas árvores de crescimento rápido, excluindo várias especies que dão outros tipos de madeira mas que demoram muito anos a crescer.
“A minha flha dificilmente poderá ver ao vivo uma plameira”, comentou o designer formado na ESAD, relembando que esta espécie tem sido dizimada por pragas.
Depois de lixadas, as peças da marca Papa Lulu são embebidas em óleo mineral e finalizadas com uma pasta (que também é comercializada por Luís Rosa) de óleo mineral, cera de abelha e cera de carnaúba e que confere às peças um acabamento mate, suave ao toque e com cheiro agradável. Os valores das peças variam entre os 25 e os 40 euros e não há uma tábua – de corte ou para servir – que seja igual a outra, o que faz com que o valor possa variar. Essa é uma das muitas variáveis desta área de actividade.
Luís Rosa trabalha com vários tipos de madeira tais como o azinho, o sobro, o carvalho e o pinho. O autor explicou, ainda, que os valores das peças “variam consonate a dimensão, a beleza dos veios e da sorte que é encontrar uma tábua ou tronco que possa ser trabalhado sem fissuras, nós ou fungos”, afirmou.
As suas colheres e espátulas – que são feitas em oliveira, cerejeira e pereira – têm preços que podem variar entre os 11 e os 25 euros.
As peças deste designer têm muita procura e Luís Rosa está satisfeito com o desenvolvimento deste trabalho artesanal, que tem em conta o reaproveitamento dos materiais naturais.


































