Samuel Jacinto é caldense e designer industrial. Desde miúdo que gosta de construir e de arranjar soluções e, por isso, além de gerir com a sua mulher o negócio de família, executa objectos para a casa reaproveitando a madeira. Das suas mãos surgem mesas, espelhos, cabeceiras de cama e outras peças feitos de madeira que seria para queimar
Samuel Jacinto tem 35 anos e afirma-se como “um designer com muitas influências de artesão ou um artesão com traços de designer”. E isto porque o que o move é a vontade de criar, como “um miúdo em volta de um Lego”, diz o designer industrial, a quem interessa encontrar soluções, além de ter grande gosto em trabalhar com os materiais. O gosto pelo trabalho na madeira já vem de herança familiar, pois Samuel Jacinto tem tios-avós que foram carpinteiros. “Neste tipo de matéria há um grande desperdício”, contou o autor, que resgata toros que teriam como destino a queima ou o abandono. E nas suas mãos a madeira ganha nova vida, depois de desinfestada, seca e tratada. Junta-lhes tampos de vidro e, por isso, velhos cepos e troncos ganham nova vida, transformados em mesas ou em espelhos que ficam unidos ao material nobre que é a madeira. “Há peças que eu faço que não são propriamente invenções”, contou o designer explicando que não há uma peça igual à outra já que as características da madeira determinam que cada trabalho seja único. Faz mesas a partir de troncos ou espelhos enquadrados em madeira que muitas pessoas não dão valor que era para queimar ou estar a apodrecer. Muitas vezes, este autor vai ao carpinteiro e adquire madeira, por baixo custo, que tinha destino ir para o lixo. Também trabalha desperdício deste matéria natural que é oriunda do Parque e da Mata.
Este autor, com um percurso relacionado com o Design Industrial na ESAD considera, no entanto, que no fundo no seu trabalho actual como autor aposta sobretudo na “desindustrialização”, pois o que desenvolve são peças únicas onde o próprio autor tem uma relação muito estreita com os materiais e com o processo de feitura de uma peça. “Não sou como muitos designers, que preferem desenvolver o seu trabalho sentados ao computador. Para mim não dava. Prefiro pôr as mãos na massa e achar soluções com a matéria que trabalho”, disse o autor, que trabalha com vários tipos de madeira, adaptando a matéria à função do objecto.
como se fosse uma pintura
A primeira peça que fez foi a partir de uma raiz de damasqueiro que afinal serviu para aprendizagem. Hoje está numa prateleira do seu atelier “à espera que eu um dia a acabe”. Entre os últimos trabalhos estão duas cabeceiras de cama feitas a partir de pranchas de madeira cujo destino era a cofragem, ou seja, para servir de apoio a obras de construção.
“São estas madeiras que tento resgatar e que são compradas a um valor simbólico”, contou Samuel Jacinto, explicando que quanto menos paga, mais trabalho terá em conceber a peça. É preciso desinfestá-la e secá-la antes de passar à fase de trabalho que envolve sempre muito polimento. A estética é muito importante na criação deste objectos, pois gosta “de ver os veios da madeira como se a peça fosse uma pintura”, contou o designer que, com a mulher, gere a loja do Sr. Jacinto. O casal deu uma nova vida à antiga retrosaria da família tendo transformado o espaço numa concept-store que é também uma galeria, onde vários artistas que vivem em trabalham nas Caldas mostram os trabalhos. Neste espaço há vários móveis recuperados por Samuel Jacinto, que dão “alma” à nova fase desta loja. Antes de regressar ao seu negócio de família, este autor passou por agências publicitárias e de decoração. de interiores para onde fazia vários projectos 3D.
Quando vê um pedaço de madeira, não descansa enquanto não acha uma solução para dar uma segunda vida a essa matéria. As peças que esculpe podem custar entre os 700 e os 4000 euros, consoante o trabalho em causa . E quando lhe perguntam se é um designer se é um artesão, Samuel Jacinto responde que não sabe. Sabe sim o que move e “que é vontade de criar novas peças”, remata.





































