O escritor obidense Alexandre de Sousa organizou o livro juntamente com três autores brasileiros

Em 2019, 200 crianças de Óbidos e 250 de seis escolas de Conceição do Mato Dentro trocaram cartas. O resultado é o livro “Cartas de lá e de cá”, que concretiza o sonho do embaixador José Aparecido para estabelecer pontes de cultura e educação entre os povos. O projecto será este ano alargado às Caldas, com estudantes da Rafael Bordalo Pinheiro a trocar correspondência com colegas de Oraxá

“Oi, como vão amigos desconhecidos?” Assim começam as primeiras cartas trocadas entre os meninos da Escola Básica de Óbidos e os de seis escolas de Conceição do Mato Dentro, no estado de Minas Gerais, no Brasil. A correspondência foi mantida durante um ano, traduzindo-se em centenas de cartas, nas quais as crianças falaram dos seus sonhos e gostos, mas também fizeram perguntas de como é a vida do outro lado do Oceano Atlântico. Essas missivas, muitas delas ilustradas, foram reunidas no livro “Cartas de Lá e de Cá”, organizado pelos escritores Alexandre de Sousa (Portugal), José Santos, Mara Senna e Selma Maria (Brasil).
As cartas seguiram todas pelo correio. As que partiam de Óbidos demoravam cerca de 15 dias a chegar ao destino. O regresso era mais rápido: cerca de uma semana. “A troca durava cerca de um mês desde que se escrevia até que se recebia uma carta”, explica à Gazeta das Caldas o escritor Alexandre de Sousa, acrescentando que as crianças escreviam e depois ficavam na expectativa da resposta.
E se em Óbidos as crianças têm condições para aprender e facilidade na mobilidade e comunicações, do outro lado do Atlântico a realidade é diferente. Alexandre de Sousa visitou uma escola em Capitão Felizardo, “situada numa roça, onde mora a professora. É ela quem acolhe os meninos, que comem lá as várias refeições do dia e muitos deles têm que ir a pé”, resume. No entanto, e apesar das dificuldades, materiais e de acessibilidades, é “uma escola muito gira, com miúdos com muita alegria e sonhos”, adianta o escritor, dando nota que o projecto permitiu que aquelas crianças tivessem acesso a um kit escolar, composto por uniforme, cadernos e lápis.
“Foi um abrir de horizontes para muitas coisas, entre elas que nem todas as escolas são iguais e que há crianças que vivem com muito mais dificuldades, mas com uma alegria muito grande”, salienta o obidense, que reuniu as cartas brasileiras e trabalhou-as para o livro.
Entretanto, o projecto acabou, mas algumas das crianças continuam a trocar cartas. Esta é, aliás, a única forma que têm de comunicar, pois os meninos destas escolas não têm computadores.
Haverá eventualmente um formato digital do livro, que poderá conter mais imagens e um making of da obra.

Homenagem a fundador da CPLP

O livro nasce do sonho de Rosara de Oliveira Maneira para homenagear o tio, antigo embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido, que foi também um dos fundadores da CPLP. “Desde a década de 1980 que começou a estreitar as pontes entre os países de língua oficial portuguesa”, explicou Alexandre de Sousa. Falou, então, com o escritor brasileiro José Santos, que já tinha feito uma residência literária em Óbidos, e juntou outros amigos, entre eles o obidense Alexandre de Sousa. A escola escolhida foi a de Óbidos, onde participaram 200 alunos, que frequentam o ensino básico, entre o 2º e o 6º anos. No Brasil participaram 250 crianças.
O projecto é custeado pelos ministérios da Cultura e da Educação brasileiros, Embaixada do Brasil e Portugal e Instituto Camões. Em Portugal a pré-apresentação foi feita a 18 de Novembro com a presença de Rosara de Oliveira Maneira, que trouxe os primeiros 70 livros para Óbidos. A obra voltará a ser apresentada na próxima edição do Folio e, até lá, em festivais literários. Há, também, o objectivo de poder trazer à região algumas das crianças brasileiras que participaram no livro na época da Páscoa.
O projecto terá continuidade este ano com a escola caldense Rafael Bordalo Pinheiro e a cidade de Oraxá, também do estado de Minas Gerais. Desta feita, os intervenientes são alunos do 6º ao 9º anos, também com o objectivo de focar temáticas diferentes.
O sonho de Alexandre Santos e José Santos é que estas pontes não se limitem a estes dois países e que também possam chegar à Guiné, Moçambique, Angola, Timor e outros países de CPLP. “Criar uma rede cultural de troca de cartas entre todos” é a meta a alcançar.

Novo livro “Trilogia do Ar” em preparação

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Alexandre de Sousa, de 53 anos, publicou pela primeira vez em 2014, na colectânea de poesia “poetar contemporâneo”. No ano seguinte editou o seu primeiro romance “Hepta”, que foi também a primeira obra a ser lançada pela editora Vila Literária, em Óbidos.
Desde então, o obidense, professor de profissão, tem participado em colectâneas de poesia, escrito letras para canções e textos para várias obras. Ainda este ano espera lançar um novo romance.
Do Brasil surgiram vários convites para publicar, resultado dos festivais onde tem participado e das colaborações com autores daquele país.
Um dos grandes projectos que tem para os próximos tempos está relacionado com a aviação e denomina-se “Trilogia do Ar”. Em 2021 fará 100 anos que Sacadura Cabral e Gago Coutinho atravessaram o Atlântico Sul, uma viagem “que permitiu que a aviação cresça e que comecem a ser feitos voos intercontinentais”, lembra o autor.
Para assinalar a efeméride, Alexandre de Sousa pretende fazer três livros, cada um tendo como protagonista uma figura relacionada com a aviação. Ainda este ano pretende editar um sobre Bartolomeu de Gusmão, inventor da passarola, e no próximo ano será dado destaque ao navegador e geógrafo Gago Coutinho que, juntamente com o aviador Sacadura Cabral, fez a viagem ao Brasil. Em 2022 a obra terá como protagonista o aeronauta e inventor, Alberto Santos Dumont, um brasileiro natural de Araxá, que foi o primeiro homem a voar num avião mais pesado do que o ar.

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