No enterro do Entrudo dezenas de viúvas carpideiras choraram a morte do Carnaval das Caldas
Na noite da passada quarta-feira, quarta-feira de cinzas, dezenas de viúvas carpideiras percorreram a cidade a chorar e a lamentar a morte do marido de todas elas, o Carnaval. Esta tradição antiga, que simboliza o final das festividades carnavalescas, e que foi retomada nas Caldas, atraiu este ano mais gente do que era habitual.
A carreta funerária da agência Ká Tespero transportava o defunto Carnaval, que, com um grande adereço das Caldas, até morto ia fazendo as delícias das viúvas chorosas.
“Aiii que ele era tão bom… agora que está morto!”, ouve-se de uma viúva, entre gargalhadas. “Eu só quero a reforma”, diz outra. É assim todos os anos, no manter de uma tradição que o caldense Américo Barros retomou há cerca de 15 anos, tendo então desafiado a Associação Cultural Desportiva e Recreativa Santo Onofre – Monte Olivett.
Depois do cortejo fúnebre percorrer praticamente toda a cidade, com paragens em pontos caraterísticos, cada vez mais viúvas carpideiras se vão juntando para chorar a partida do Carnaval.
O enterro (que não é enterro, uma vez que o boneco, em vez de enterrado é queimado) termina no largo da antiga UAL e da Biblioteca Municipal, onde é feita, segundo a própria organização, a “cromagem” (e não a cremação) do defunto. Mas nem todo o boneco é queimado, há partes (nomeadamente a cabeça e o… das Caldas) que são aproveitadas ano após ano para este evento.
Antes da cromagem, o Padre Pimentinha (Américo Barros) fez um discurso dirigido aos “Irmãos, Irmãs e outros Filhos da Mãe”.
Deixou dezenas de viúvas
A chorar o final do Carnaval encontramos a caldense Ana Alves, que todos os anos participa no enterro do Entrudo.
“Para mim, a época do Carnaval são os melhores dias do ano”, resumiu. “Devia ser todos os meses”. Para esta viúva carpideira, este evento “simboliza o fechar do Carnaval e é muito giro, é uma ideia espetacular, que espero que nunca acabe”, acrescentou Ana Alves.
Comparativamente com edições anteriores, considera que “este ano há muito mais gente a ver e a participar e espero que no próximo ano ainda venha mais”.
Outra viúva carpideira era Jorge Piteira, que há largos anos vive nas Caldas, também não perde uma edição do enterro do Entrudo.
“Estive a desfilar no corso de Zé Povinho e tudo, quando cheguei a casa encontrei o meu Joaquim morto”, brincou. “Foi uma desgraça tão grande e tenho medo de dormir sozinha, já andei a perguntar se há algum homem solteiro para dormir comigo!”, gracejou. “O que vai ser de mim sem ele?”, questionou.
Este ano, no enterro notou a presença de mais gente. “Cada vez o meu Joaquim arranjava mais amantes”, brincou.
Presente na cerimónia, o presidente da Câmara, Vítor Marques disse que esta foi “uma das edições mais concorridas de sempre” do evento, até porque este ano foi feito o pedido às coletividades que participam nos desfiles para marcarem presença no enterro do Entrudo.
Enterro do Chouriço
Em Santa Catarina (nas Caldas) retomou-se este ano a tradição antiga do Enterro do Chouriço, numa iniciativa que envolveu dezenas de pessoas. “Aqui jaz o chouriço, que não foi muito mau. Durante 40 dias vai governar o Sr. Bacalhau”, lê-se na cruz. Esta tradição simboliza o início da abstinência da Quaresma e, como este tempo dura 40 dias, o chouriço ficará enterrado durante esses 40 dias. Seguir-se-à depois um momento que ditará o futuro do chouriço enterrado. É que no final da Quaresma, em Santa Catarina vai realizar-se o Julgamento do Bacalhau, em que se esgrimarão argumentos contra e a favor do chouriço e do bacalhau. ■






























