O cruzeiro inaugural do Caminho Marítimo para Santiago passou pelo Porto de Peniche com 18 embarcações. A partir deste momento passa a ser possível fazer aquela peregrinação pelo mar
Está a decorrer o cruzeiro inaugural do Caminho Marítimo de Santiago, uma iniciativa que pretende recriar a viagem da Barca de Pedra, que, segundo reza a lenda, no ano 40 do primeiro milénio, transportou o corpo do Santo Peregrino desde Jaffa, na Palestina, até Campus Stella, na Galiza.
As embarcações, “lideradas” pela Caravela Vera Cruz, saíram a 28 de maio de Vila Real de Santo António e chegaram a Peniche já no sétimo dia de viagem, vindos de Cascais, e praticamente sem gastar combustível nesta etapa. A chegada a Santiago está prevista para 13 de junho, depois de 500 milhas náuticas até Pádron, na Galiza, e de um percurso a pé de 12 quilómetros. Face à inexistência de documentação, os organizadores partiram de um modelo de base territorial e, enquadrando a premissa de que, aquando da passagem da barca, “teria como fundo de suporte os portos romanos existentes”, detalharam uma matriz descritiva e cartográfica sobre os portos que devem ser reconhecidos como Portos do Caminho de Santiago em Portugal. Entre eles estão três oestinos: Peniche, Nazaré e São Martinho do Porto.
Neste Caminho, em que cada um faz o seu caminho, falamos com Miguel Valdespino, de 57 anos, que se apresenta como um “navegante solitário”. Católico, mas não praticante, decidiu fazer o caminho porque quer “dizer obrigado” por várias coisas que se passaram na sua vida e pelas quais se sente grato. Veio da Andaluzia, no seu Sultan. “No ano passado participei no 500º aniversário da viagem de Fernão de Magalhães em Ceuta e Tanger e outros sítios com navegantes portugueses e espanhóis e este ano os meus amigos falaram-me deste projeto e eu decidi participar”, contou o espanhol, que começou a navegar aos quatro anos. “O meu pai era navegante e mostrou-me o mar e ensinou-me a navegar”. Pelo caminho vai tendo a companhia de amigos que fazem partes da jornada com ele.
Na caravela seguem nove tripulantes e 12 convidados. Um deles é António José Correia, da Fórum Oceano. O antigo presidente da Câmara de Peniche e coordenador das estações náuticas contou à Gazeta que esta “é uma grande aventura”. Fazer a viagem na caravela “é uma vida de conjunto, de solidariedade, quando toca a pôr ou a baixar a vela, para atracar ou desamarrar, por exemplo, ainda que nós estejamos ali apenas para dar uma ajuda”. Sente que “somos transportados para épocas que imaginamos que tenham sido de grande dureza”.
Paulo Xavier, que foi presidente da Associação Nacional de Cruzeiros, também é um dos primeiros peregrinos marítimos. Veio a bordo do Sail La Vie e, numa análise da primeira semana de viagem, diz que “em termos de mar está a correr muito bem, ao vir de Sul para Norte é costume apanhar a famosa Nortada, que atrasa, mas felizmente estamos a ser abençoados pela meteorologia com o vento Sul, que tem ajudado a navegar a maior velocidade, a chegada a Peniche deu-se duas horas antes do previsto”. Ainda assim, lamentou, “podia ser mais fácil, se Portugal tivesse as infraestruturas que deveria ter, porque temos, por exemplo, entre Lagos e Sines, quase 80 milhas de navegação sem um porto de abrigo, são 12 a 14 horas de navegação”, o que significa que, caso se registe um acidente, se encontrem a cerca de seis horas de terra.
A secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, anunciou em Peniche que já foi publicado o despacho que homologa o protocolo que procede à transferência da gestão das áreas afetas à atividade da náutica de recreio para a autarquia. “Está feita a descentralização”, afirmou. ■































