Caldense Patrícia Manique defende valorização do vitrinismo

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Patrícia Manique, que detém a marca Mistura, junto a um apontamento natalício que criou para o café Capristanos | Fátima Ferreira

Mais do que a “simples” técnica de decoração de montras e espaços comerciais, o vitrinismo é uma paixão para a caldense. Algumas das vitrines mais originais da cidade têm a sua assinatura

O que embeleza o comércio e que faz vender os seus produtos? “As suas montras! A forma apelativa de mostrar e exibir os seus produtos ajuda a vendê-los”. A resposta pronta é dada por Patrícia Manique, vitrinista “de alma e coração”, que aprendeu a profissão com o pai, Filipe Manique (falecido em 2014), uma referência na área.
A caldense começou no passado sábado a preparar as decorações de Natal em estabelecimentos comerciais na cidade. A meio da tarde, dava os últimos retoques na decoração do Capristanos, onde a escolha recaiu em apontamentos em tons de verde, branco e dourado, e preparava-se para mais um dia de trabalho (domingo), a decorar o Restaurante Afinidades. Para cada um dos trabalhos que cria, a vitrinista começa por ver o espaço e os vários pontos que vai decorar, para depois conjugar o material que tem da forma mais harmoniosa. Uma tarefa que pode parecer simples, mas que leva muito tempo de preparação e, acima de tudo, exige criatividade. Os preparativos para as decorações de Natal começam em agosto, com a pesquisa de materiais e de imagens. Este ano, por exemplo, a vitrinista criou umas originais árvores de Natal, cujo tronco é uma cepa (pé de videira) que depois completa com uma estrutura composta por diferentes materiais.
Esta peça, como possui o protótipo, pode ser vendida, no entanto, há materiais que Patrícia Manique herdou do pai e que não vende, apenas são utilizados para exposição. “E tento não repetir os materiais nos mesmos sítios”, conta à Gazeta das Caldas, a profissional, de 45 anos.

“A forma apelativa de mostrar e exibir os produtos ajuda a vendê-los”

“O que começou
por ser uma paixão
tornou-se amor verdadeiro”

Patrícia Manique sempre viveu rodeada dos materiais de decoração. O pai, Filipe Manique, era vitrinista e ela começou a acompanhar o progenitor desde pequena. Lembra que a primeira montra que fez foi a de uma vitrine plana no centro comercial da Rua das Montras. Teria uns 14 anos e gastou todos os alfinetes que tinha à sua disposição para segurar os materiais, com receio que caíssem. Considera que se trata de uma profissão estimulante e também muito criativa, porque “acabamos por fazer coisas novas e ditar tendências”. No seu caso concreto “o que começou por ser uma paixão tornou-se amor verdadeiro”, sustenta.
Natural de uma cidade com uma forte vertente comercial, Patrícia Manique lembra que no passado esta profissão era bastante solicitada durante todo o ano e que havia, inclusivamente um concurso de montras pelo 15 de Maio. “O meu pai tinha sempre muito trabalho, fazer montras fazia parte da atividade comercial”, recorda, acrescentando que essa tendência perdeu-se com a crise. A partir daí começou a haver um decréscimo na procura por este tipo de serviço, passando inclusivamente os comerciantes a decorar os seus espaços. “Perde-se com isso”, considera a vitrinista, destacando que a “montra vende e é importante que sejam apelativas”.

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Formação contínua
Para além da experiência adquirida ao longo de anos, Patrícia Manique também apostou em formação na área, tendo feito, entre outros, os cursos de vitrinismo e de decoração de interiores. Também deu formação na área, em vários locais, entre eles nas Caldas, a comerciantes.
“Foi muito gratificante e uma coisa que notei na altura é que as montras ficaram mais arrumadas”, conta. No entanto, nem toda a gente tem criatividade e aptidão para o fazer. Também por isso, e porque atualmente é a única que se dedica a esta profissão nas Caldas, defende que a ESAD deveria integrar esta área na sua componente letiva, numa relação entre as artes e a vertente comercial.
Patrícia Manique trabalha regularmente para alguns estabelecimentos comerciais das Caldas, entre eles os de Rui da Bernarda, que considera “um mecenas das artes nas Caldas”, tendo em conta o apoio que o empresário dá aos artistas locais e das parcerias que estabelece com diversos produtores. Nesta altura em que reconhece que os tempos estão difíceis para os comerciantes, a vitrinista também disponibiliza o seu trabalho em troca não de dinheiro, mas de serviços, como já acontece com um cabeleireiro.

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