Caldense ganha bolsa de 450 mil dólares para continuar a investigar nos EUA

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Susana Mingote é cientista e trabalha num centro de investigação de Nova Iorque, depois de ter passado pelas universidades de Conneticut e pela Columbia. Regresso a Portugal, talvez mais tarde

A caldense Susana Mingote garantiu uma bolsa de 450 mil dólares, para investigar os efeitos da dopamina na saúde mental e envelhecimento. Desde pequena que a caldense soube que queria estudar ciências. Fez a licenciatura em Biologia em Lisboa e foi o professor de Biofísica que a colocou em contacto com o estudo do cérebro. Foi uma das primeiras estudantes do programa Erasmus que decidiu rumar até à Holanda, onde se estreou num laboratório de neurociências, no Research Institute for Brain Research em Amesterdão.
Desde então, continuou a dedicar-se a esta área de estudo, sobretudo no que se relaciona com a função da dopamina no cérebro. Prosseguiu estudos com uma nova bolsa, Leonardo da Vinci, e seguiu viagem para o doutoramento nos Estados Unidos com o apoio da Fundação Fullbright, na Universidade do Conneticut.
Os neurónios comunicam pela libertação de neurotransmissores, um deles é a dopamina, vulgarmente relacionada ao prazer. O doutoramento dedicou-se totalmente ao estudo da dopamina, tendo a caldense provado que esta “faz aumentar a motivação para fazer algo”, explicou a investigadora, acrescentando que pessoas quando estão depressivas não têm a motivação e a energia necessária para fazer algo, apesar de lhes continuar a dar prazer, como comer um gelado.
Susana Mingote tem usado ratos nas investigações e tem provado que, sem dopamina no cérebro, os animais deixavam de “trabalhar” – ou seja, carregar no pedal – para obterem a comida açucarada que adoram, pois perdem a motivação para o fazer. “Os animais não se importam de passar a comer apenas a ração simples, que não exige o esforço de carregar num pedal”, especifica.
Esse trabalho resultou em vários artigos científicos, alguns dos quais já foram citados pela comunidade científica mais de mil vezes. O estudo da dopamina levou-a doutorar-se na Universidade de Conneticut e, posteriormente, a realizar o pós-doutoramento na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde esteve durante 12 anos.
Lecionou nas duas universidades norte-americanas, prossegue na carreira universitária, escreve artigos científicos e tem recebido várias bolsas e prémios. Os seus estudos têm sido relevantes nas áreas relacionadas com a saúde mental e com o envelhecimento.
Da sua investigação fez parte a descoberta que os neurónios da dopamina ainda são mais complexos do que inicialmente previsto, pois também libertam glutomato.
“Fomos dos primeiros grupos a descobrir e a tentar perceber a função do mesmo”, disse a cientista caldense que, em 2019, deixou a universidade de Columbia e passou para o Advanced Science Research Center, Graduate Center CUNY, um centro estatal universitário do ensino público e que agrega muitas universidades. No CUNY trabalha com alunos mais velhos, menos “privilegiados” do que aqueles que frequentam as universidades privadas. “Sinto que fazemos algo que vai fazer a diferença na vida das pessoas”, refere a caldense, que dá algumas aulas a estes estudantes de doutoramento.
À Gazeta contou que conseguiu obter a bolsa para dois anos no valor de 450 mil dólares que lhe foi atribuída pelo National Institutes of Health e que lhe permite prosseguir com as suas investigações. “Já estou a tentar obter uma outra, de 2 milhões de dólares e que será para o funcionamento do laboratório para cinco anos”, referiu Susana Mingote, acrescentando que à medida que se sobe na carreira académica, “menos investigação se faz”. Para já não prevê o regresso a Portugal para trabalhar, mas conhece os centros onde poderá desenvolver o seu trabalho nas neurociências. Há polos em Braga e Coimbra ou ainda a Fundação Champalimaud. “É preciso ainda estabilizar o laboratório, mas posteriormente também é possível coordenar os trabalhos à distância”, disse a caldense que vem a Portugal pelo menos uma vez por ano, mas quer tornar as vindas à terra natal mais regulares.

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