Caldense em lua de mel viaja de bicicleta até antípoda Nova Zelândia

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A partida de Renata Henriques no domingo de manhã junto ao Museu do Ciclismo

Inspirada pelo primo que veio a pé desde a Suíça, Renata fez do “impossível” um estilo de vida

A caldense Renata Henriques, de 33 anos, partiu às 9h30 da manhã de domingo, 31 de agosto, do Museu do Ciclismo, rumo ao antípoda de Portugal, a Nova Zelândia, em lua de mel. A viagem tem uma duração estimada de dois anos e vai ser feita quase toda de bicicleta, com 40 kg de carga “às costas”, um computador para o teletrabalho e um painel solar e um dínamo para carregar as baterias das tecnologias.

Começou a pedalar pelo mundo fora em 2022. Nesta que será a sua terceira viagem de bicicleta, a caldense que é formada em psicologia, mas que trabalha como programadora, vai “atravessar cerca de 30 países de quatro continentes: Europa, África, Ásia e Oceânia”, conta. “A Argélia é um grande desafio”, por ter sido difícil obter o Visa. O desafio que se segue é a “zona do Irão: dependendo da conjuntura política, vou ter de avaliar se é possível atravessá-lo, ou se terei de apanhar um avião”, o que pretende evitar devido às fortes preocupações ambientais.

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“Devo estar na Mongólia por volta de um mês, e depois volto à China para apanhar o Tajiquistão. A seguir vou de barco para o Japão, regresso à China, seguindo-se o Vietname, Malásia, Singapura”, relata.

“O objetivo talvez seja chegar a Timor por terra. E aí vai haver o desafio de como passar para a Austrália; a ideia é tentar encontrar um barco. Não é fácil porque não existem serviços que façam a travessia da Ásia para a Austrália, portanto, vou ter de procurar barcos de carga ou ver se alguém vai de veleiro. O foco é tentar arranjar uma forma de ir por mar. E a mesma coisa da Austrália para a Nova Zelândia”, continua.

Renata e Mateus, um polaco de 27 anos, casaram-se, por mera coincidência, a 13 de junho (dia de Santo António, o santo casamenteiro), que calhou a uma sexta. Na Polónia, pois é menos burocrática.

Mas a história de amor do casal não teve um início menos auspicioso. Conheceram-se em abril de 2023, em Espanha, Renata estava então na sua segunda viagem de bicicleta. Seguiam ambos sozinhos, quando se conheceram e a mais um pequeno grupo de ciclistas. Depois de dois ou três dias a pedalarem todos juntos, chegara a hora de cada um seguir o caminho que tinha planeado… Mas havia um plano maior ao qual não obedeceram. Haviam , no entanto, de ser agraciados com uma segunda oportunidade.

Em Barcelona, a bicicleta de Renata – e apenas esta, nada de bagagem – foi roubada. Sozinha, sem saber a quem recorrer, a caldense lembrou-se do jovem polaco com quem simpatizara, e que estava a cerca de 100 km de distância. Ele apanhou um comboio, na ânsia de socorrer a futura mulher e, com a ajuda da polícia, conseguiram efetivamente recuperar a bicicleta, que seguiu viagem. E ele também. Desde aí nunca mais se largaram.

“Quando regressámos da viagem, foi comigo à Noruega e depois fomos à Polónia. Voltámos para Portugal de bicicleta e, quando cá chegámos, decidimos casar”, recorda.

Nómadas digitais, em Espanha, aproveitam a área da alimentação do Mercadona, bem abastecida de wifi e tomadas, para trabalhar. Certa vez, ela teve uma reunião no meio de um prado, pois não conseguiu pedalar até um café a tempo.

Por dia, na Europa, Renata gasta cerca de 10 euros, na Ásia e África espera que seja menos. Pouco, porque praticamente é só em comida. A pernoita faz-se numa tenda.

Em média, percorre 60 km por dia, e é ela que monta a sua bicicleta, apostando em boas mudanças que a ajudem a subir as montanhas com inclinações de 12%, ou mais.

É vegan, tomando um pequeno-almoço de papas de aveia, manteiga de amendoim e sementes, e, como jantar, duas latas de leguminosas e hidratos de carbono.

Acompanhe as viagens do casal no recém-criado canal de Youtube “Bicicats”, nome que remete para a procura de alimentos nos caixotes do lixo de supermercados, um costume dos gatos e dos noruegueses, que eles seguiram também.

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