Caldas “não se revê” na escolha do governo e quer reverter decisão

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Logo que foi conhecida a localização, políticos e entidades caldenses começaram a mobilizar esforços para a contestar

O anúncio do Bombarral como a localização escolhida para a construção do novo hospital do Oeste, feito pelo ministro Manuel Pizarro, nas Caldas, não deixou ninguém indiferente. Se a sul o sentimento é de congratulação com a solução encontrada, nos concelhos das Caldas e de Óbidos é de revolta e de contestação, com a realização de diversas ações para tentar reverter o processo. Já a norte, em Alcobaça e Nazaré, não há tomadas de posições públicas sobre a decisão.
As Caldas “está de luto” pela decisão tomada pelo ministro da Saúde e o presidente da Câmara garante que irá lutar para reverter a decisão.
Mas logo no dia seguinte ao anúncio, o deputado social-democrata na Assembleia da República, Hugo Oliveira, confrontou o ministro Manuel Pizarro na comissão de saúde. “Deixe-me ser objetivo e conciso: tem noção da violência e eventual irracionalidade da sua decisão, teve em conta a possível violação da norma do PROT, que define a localização deste tipo de equipamentos relevantes em centros urbanos regionais. Vai promover a alteração do PROT ou vai ao arrepio?”, começou por questionar o parlamentar caldense. Salientou que a decisão teve por base o estudo encomendado pela OesteCIM, no qual alguns municípios não se revêem e “alguns ex-governantes do seu partido se sentem pouco confortáveis”, tendo-o dito publicamente num debate que decorreu nas Caldas da Rainha.
Hugo Oliveira perguntou a Manuel Pizarro se leu o documento apresentado pelas Caldas e acusa-o de ter tomado uma decisão que “confirma” a anunciada há um ano pelo presidente da Câmara do Bombarral. “A pergunta é se foi obrigado a tomar esta decisão, que já estava tomada pelo PS há mais de um ano, ou foi fundamentada agora?”
O deputado caldense diz ser incompreensível a decisão de implantar um hospital num local onde não há resposta suficiente para atratividade dos profissionais no território, e onde faltam infraestruturas, e falou dos impactos que a decisão terá para o já lotado Hospital de Leiria. “Vai ficar na história como o governante que vai deitar por terra o desígnio da Rainha D. Leonor e não conte com a misericórdia desta nem dos caldenses”, advertiu o político social-democrata. O ministro Manuel Pizarro está “confiante” que “esta decisão do governo é a boa decisão para a população do Oeste”, pela centralidade geográfica, e manifestou que os dois maiores polos urbanos estão na extremidade. O governante reconheceu o impacto sócio-económico que existe quando deixa de funcionar um hospital em determinada localidade e disse que será criado um grupo de trabalho, com as autarquias, para avaliar que destino terão as atuais unidades hospitalares.

Assembleia extraordinária
No próximo dia 11 de julho, pelas 20h30, irá realizar-se uma Assembleia Municipal extraordinária, no grande auditório do CCC, com um único tema – localização do novo Hospital do Oeste- aberta ao público, e que contará com a participação da equipa que fez o parecer técnico. Esta surge da reunião do presidente da Assembleia com os líderes das bancadas, logo no dia a seguir ao anúncio. Na sexta-feira, também a câmara reuniu e, entre outras medidas, decidiu pedir audiências à CCDR, à ministra da Coesão Territorial, primeiro ministro e Presidente da República, a quem esperam já levar um relatório, que está a ser elaborado pela equipa que fez o parecer técnico para a Câmara das Caldas.
“A par disso estamos a estudar medidas que envolvam mais a população”, disse o presidente da Câmara, como resposta à solução em que não se revêem e que acredita que “já estava tomada há algum tempo, sem ter em conta o parecer técnico das Caldas, como o mostra o relatório do grupo de trabalho”.
A assembleia de freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e S. Gregório aprovou uma moção onde refere que a solução encontrada vem prejudicar a população dos concelhos das Caldas, Óbidos, Alcobaça e Rio Maior. Mostra ainda a sua “disponibilidade para todas as ações que o executivo decidir realizar, a fim de demonstrar o nosso descontentamento e indignação”.

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Impacto sócio-económico
Para além da questão do acesso à saúde, há também o impacto económico da decisão. Com 1972 trabalhadores ao serviço, o Centro Hospitalar do Oeste é o maior empregador da região.
Luís Gomes, presidente da ACCCRO- Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste, salienta que, no que respeita ao Oeste, congratula-se com a criação de um equipamento. No entanto, como caldense, e para os 80% de associados caldenses que representa, a localização no Bombarral é uma “afronta” ao ponto do ministro ser “persona non grata nas Caldas”. O que está a acontecer é um “terramoto” para a economia local, “cria medo nos empresários por virem a perder um equipamento de grande relevo para a cidade”. De acordo com o dirigente associativo, existem mais de mil pessoas que trabalham direta e indiretamente no hospital das Caldas que, em termos económicos, movimenta “mais de 30 milhões de euros anuais”. Considera que se trata de “instrumentalizar politicamente um serviço público” e isso “não pode ser aceite”, criticando ainda o facto do ministro ter vindo fazer o anúncio às Caldas, “humilhando os autarcas locais”.
“Isto é matar a essência da cidade”, complementa Luís Gomes, que acredita que o processo ainda será reversível, apelando à mobilização de todos, autarcas e cidadãos, “tal como o fizeram contra as portagens da A8”. Também Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, corrobora da importância da construção de um novo hospital no Oeste, dando nota das “condições miseráveis” das unidades do CHO, sobretudo das Caldas e de Torres Vedras. E, embora desconheça pormenores técnicos, soube, por colegas, foi que “mais uma vez, quem está no terreno não foi ouvido”, destacando que há vários critérios a ter em conta para a escolha da localização. “Estamos mais uma vez com uma infeliz decisão porque não é baseada em fundamentos técnicos, neste caso em concreto, de cuidados de saúde”, concretizou.
Também o médico e presidente da comissão de saúde na Assembleia Municipal, António Curado, entende que a escolha “não é minimamente razoável” e que acabará por ser ponderada. “Um hospital com 480 camas tem de ter um determinado tipo de serviços envolventes, de captação dos profissionais, que não se coaduna com um local daqueles [Quinta do Falcão], tem de estar perto de uma cidade de uma dimensão razoável”, diz, acrescentando que há que pensar o equipamento numa zona envolvendo os hospitais de Santarém, Leiria e Loures.

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