Caldas Late Night está bem vivo e acolheu os mais diversos tipos de eventos

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A procissão fúnebre à Arte Contemporânea feita em reação a uma petição

Entre os dias 30 de maio e 1 de junho decorreu mais uma edição do CLN que atraiu muitos visitantes

Foram ao todo 78 espaços, inscritos no Caldas Late Night (CLN), edição que teve três dias e que contou com algumas novidades. Mantêm-se a tradição de uma grande ocupação de espaços públicos, com a realização de concertos e de festas em detrimento da participação das casas privadas que este ano terão sido cerca de duas dezenas.
Por outro lado, muitos ateliers de autores, galerias e lojas abriram as suas portas para receber intervenções. Houve uma grande predominância de pintura mural, com a execução de várias peças, em diferentes zonas da cidade como a R. da Rodoviária e na Rua dos Artistas.
Outro aspeto é a participação de muitas famílias, acompanhadas por crianças e que tiraram partido de eventos como o Slide e na Luta das Almofadas onde também se notou menos afluência de participantes no dia 1 de junho.
O evento começou na quinta-feira, 30 de maio, com a realização de uma procissão feita por alunos da licenciatura de Artes Plásticas da ESAD. CR da disciplina de Práticas Artísticas Sociais. De forma irónica e em reação a uma petição pública que pedia para que o CLN não fosse feito, pelo menos em património do Hospital, os alunos quiseram então simular um enterro da arte que se produz hoje.

Entretanto já foi feita uma contra-petição que pede para que a Arte Contemporânea possa continuar a ser mostrada nestes espaços. A primeira tem cerca de 100 assinaturas, a segunda, mais de 800. Em reação à primeira, os estudantes resolveram então fazer um enterro da Arte Contemporânea, tendo sido feita uma procissão fúnebre entre o Largo do Hospital e os Silos e que incluiu a queima da petição que não queria o evento no património hospitalar.
Ao todo, segundo a docente desta disciplina, Ana Romana, a iniciativa envolveu cerca de uma centena de pessoas, sobretudo alunos e amigos, todos a favor das iniciativas do evento nos edifícios do hospital das Caldas.

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As cabines da discórdia
Do evento fizeram parte sete cabines que foram intervencionadas por autores e até por visitantes. Segundo Carla Santos, da organização deste ano, a autarquia “permitiu que usássemos as cabines que estavam à sua guarda”.
O presidente da Câmara, Vítor Marques confirmou o facto e explicou que as cabines estavam guardadas na Fábrica Bordalo Pinheiro (na zona exterior) e que até “já tinham sido alvo de algum vandalismo”. Afirmou que a última vez que estas foram intervencionadas foi em 2017 e desde então não foram mais usadas. “Não tendo conhecimento de nenhum compromisso entre a autarquia e artistas, cedemos as cabines para intervenção, a pedido da organização do CLN”, rematou.
Por seu lado, Vera Gonçalves, que é autora e técnica superior na ESAD.CR, não gostou que as cabines do projeto “Passa a Cabine” tivessem sido usadas no evento, sem autorização da mentora do projeto nem da antiga PT. Inclusivamente já informou a Fundação Altice Portugal (ex-PT) do sucedido. “As cabines estão decontinuadas mas de qualquer modo pertencem ao património da fundação”, disse a autora que lamentou o sucedido. O Passa a Cabine aconteceu em 2013 e também em 2017.

Bifanas grátis para os visitantes
No último dia, a organização do CLN, em conjunto com os bares da Praça 5 de outubro, ofereceu bifanas no pão aos visitantes. Desta forma “lucramos todos: nós CLN e os próprios bares também. Esta foi uma ideia de Pedro Lopes, antigo aluno que ajudou na organização”, disse Carla Santos, uma das organizadoras conseguiu perceber que houve muitos visitantes de Lisboa, Coimbra, Leiria e do Porto. Também vieram artistas de Ourém que expuseram na mostra que esteve na Casa dos Barcos. Notória é também a presença de visitantes estrangeiros que percorrem a cidade em busca das melhores propostas artísticas. Ao todo foram disponibilizados perto de cinco mil mapas que indicavam onde estavam as intervenções. Para a organizadora, o CLN “deveria ter uma sede” e também se discute o facto se se deveria constituir uma associação do CLN. Ao todo, trabalharam no evento entre 20 a 30 pessoas, entre antigos, atuais alunos da escola de artes, membros da AE e pessoas que vivem na região.■

Como nasceu e cresceu o Caldas Late Night

Conversa sobre o evento que se faz há 27 anos nas Caldas seguiu-se à passagem de “Rebobina”, um documentário também sobre a iniciativa

O CLN começou em 1997 e era um evento de alunos de Artes Plásticas da ESAD que contava, nas primeiras edições, com a participação de 15 a 20 casas de alunos que queriam mostrar as suas obras de arte que faziam na escola de artes. “Não havia nada…Sentíamo-nos na periferia”, disse Luís Rosa, que foi estudante da ESAD.CR e organizador do evento, nos primeiros anos em que o grande mote era a apresentação dos trabalhos artísticos feitos na escola caldense nas próprias casas dos estudantes. O CLN acabou por se inspirar no evento “Fora de Horas” que aconteceu em Lisboa, “onde várias pessoas abriam as suas casas para mostrar as obras de arte que possuíam”, contou Nuno Bettencourt, artista que participou em várias edições e que hoje é docente na ESAD.CR.
Participou também José Elói que foi organizador de muitas festas finais que decorriam, por norma, nas instalações da escola de artes. O empresário contou que a última festa, realizada no Campo de Rugby, não correu bem e acabou por lhe ter dado um prejuízo de dois mil euros. “As exigências legais, nos últimos anos são tantas que são um convite a que não se faça nada!”, comentou.
A conversa chegou à atualidade para celebrar quem ainda abre a sua própria casa para mostrar uma homenagem à Ucrânia, numa intervenção feita na cozinha e mostrar o desacordo de alguns com práticas comerciais em festas ou o facto de se fazerem tatuagens do símbolo da iniciativas nas casas de tatoos.
Uma das participantes nesta sessão foi Carla Santos, 35 anos, uma das organizadoras desta edição para quem a partilha “foi ótima pois deu para perceber como é que tudo surgiu”. A antiga aluna da ESAD.CR que tirou o curso de Som e Imagem mantém o espírito do CLN que é o de “casa aberta” e, como tal, “reagimos quando há eventos em que as pessoas pretendem cobrar”, disse a organizadora que ainda afirmou que a parceria com a autarquia das Caldas em relação ao CLN foi “muito boa”. Esta consubstanciou-se no suporte de várias despesas relacionadas com impressão mapas do evento: 615 euros, com a aquisição de tintas para a pintura dos murais: 816 euros, pagamento à SPA: 8409 euros, aluguer som e de luz: 6063 euros, gratificado à PSP: 1305,28 euros, wc’s portátis, dois mil euros. Ou seja, apoiou a 27ª edição com 19.200 euros. ■

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