Caldas é uma cidade de criativos mas tem de saber comunicar

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José Ramalho moderou a conversa sobre criatividade, com a participação de 13 tertulianos. Evento encerrou ciclo comemorativo da ACCCRO

Estratégia e melhor comunicação, entre quem faz e para o exterior, foram aspectos apontados na tertúlia da ACCCRO

A cidade precisa de uma estratégia ao nível da criatividade, que passa muito pela comunicação. A conclusão saiu da tertúlia “Caldas da Rainha, cidade criativa ou cidade com criativos”, que se realizou na tarde de domingo na Toca 7. A 12º tertúlia da ACCCRO foi moderada por José Ramalho e contou com a presença de 13 oradores, entre representantes autárquicos e de estabelecimentos de ensino, artistas, artesãos, empreendedores e comerciantes.
Distinguida pela Unesco como Cidade Criativa em 2019, as Caldas da Rainha é também uma cidade de criativos, como o comprovaram os tertulianos que debateram o assunto durante mais de três horas. Desde logo pela comunidade alargada de criativos que possui, com um trabalho sólido e de reconhecimento nacional e internacional, começou por destacar a vereadora da Cultura, Conceição Henriques, realçando a vitalidade da vida cultural e artística da cidade. “Temos 365 dias de criatividade nas Caldas, em que 90% nasce nas ruas, da iniciativa privada, nos criativos, em articulação com a ESAD, com os criativos artísticos, e isto é contínuo”, manifestou. Ainda assim, muitos mais criativos viveriam nas Caldas se houvesse condições, reconheceu a autarca, referindo-se à ausência de habitação. Numa tentativa de minimizar esse problema a autarquia está a criar habitação jovem, em prédios que está a recuperar no centro da cidade, e em que parte dela será destinada a criativos.
A necessidade de fixar os jovens foi também defendida pelo diretor da ESAD, João Santos, que fez saber que 80% dos professores da escola de artes residem em Lisboa. “Se houvesse forma de podermos ter mais professores a viver nas Caldas, tenho a certeza que a escola seria outra”, acrescentou. João Santos salientou ainda que a escola é o parceiro privilegiado, mas “precisa que a cidade se saiba ligar nesta interação”. Eneida Tavares e Samuel Reis, responsáveis da Associação DOC – Associação Design Ofícios e Cultura, são um desses exemplos. Vieram estudar para a ESAD e depois permaneceram nas Caldas a trabalhar. “As opiniões que nos chegam é que existe muita coisa mas não se vê ou sente de forma permanente”, disseram os jovens que têm dúvidas que o estatuto de cidade criativa seja sentido pelos que estão “fora da bolha”.
A necessidade de interação e comunicação foi corroborada pelo ceramista Carlos Enxuto, que defendeu também a necessidade de investimento em equipamentos. Também a necessidade de uma estratégia ao nível da criatividade foi vincada por Paulo Tuna, artista na cutelaria artesanal “The Bladesmith”, e pela empresária Cláudia Henriques, da Loja do Sr. Jacinto. “A cidade é cheia de potencial, mas precisa de estratégia, que passa muito pela forma como as pessoas comunicam entre si e como depois passam a mensagem para os outros”, salientou Cláudia Henriques, reconhecendo que ser “criativo é cansativo”, pois requer muito trabalho.
Outro dos tertulianos, Mário Branquinho, diretor do CCC, lembrou que passou meio ano em contacto com os agentes locais, para estabelecerem parcerias. Numa cidade com tanto potencial, há que criar escala, divulgar para o exterior, colocando também a tónica na comunicação, para a colocar “no mapa”, disse. Um dos exemplos da comunicação do território de forma criativa foi o ART & TUR – International Tourism Film Festival, como foi partilhado por Mariana Calaça Baptista, arquiteta e secretária de direção deste festival, que este ano decorreu nas Caldas.
Nicola Henriques, fundador e gestor de operações no SILOS Contentor Criativo, deu conta do “acolhimento” que esta estrutura tem feito e do trabalho que é preciso realizar de “mapeamento, capacitação, sensibilidade, atenção, de corresponder a expetativas”, que resulta de iniciativas como esta.
Partilhando o seu próprio projeto, o empresário José Elói considera que foi diferenciador porque olhou para o Maratona como um projeto e não como um negócio, colocando a sua criatividade na re-educação gastronómica. Também presente no encontro, Sara Pedreira, diretora pedagógica no Conservatório Caldas da Rainha, defendeu que é preciso dar a conhecer às crianças, e famílias, que estas artes existem e que, qualquer que seja a área, pode ser mais do que um passatempo, “pode ser algo sério e com futuro”.
Relativamente à estratégia, Conceição Henriques reconheceu a “pesada herança” recebida do executivo anterior, com vários equipamentos do Centro de Artes em mau estado e que terão de sofrer intervenção. Prometeu apoio a novos criadores e mais planeamento, para aumentar a atratividade da cidade. ■

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