Portugal ECOntigo é o nome do projecto mais votado do Orçamento Participativo Jovem 2019 e é uma proposta da caldense Filipa Silva. O seu objectivo é contribuir para estilos de vida mais sustentáveis, que poupem o planeta. Para tal, os 40 mil euros orçamentados serão usados na criação de uma página web e realização de eventos que dêem a conhecer projectos nesta área e sugestões de mudanças que cada um pode fazer para contribuir para um futuro melhor para todos.
Isaque Vicente
“Já todos sabemos que as alterações climáticas são fruto do nosso estilo de vida insustentável, mas nem todas as pessoas sabem o que mais urgentemente tem de ser modificado e como fazê-lo de forma simples e eficiente”. Foi este o ponto de partida da caldense Filipa Silva, quando desenhou o projecto Portugal ECOntigo, que foi a proposta mais votada da terceira edição do Orçamento Participativo Jovem Portugal, com 468 votos num total de mais de 5000 votos distribuídos por 232 projectos.
“Mostar como cada um de nós, individualmente, pode actuar e consumir de forma a apoiar o desenvolvimento que a nossa sociedade realmente necessita” é um dos objectivos da proposta, que terá como base a criação de uma página web onde serão difundidas as mudanças que cada um pode fazer no seu quotidiano para contribuir para a sustentabilidade do planeta.
O Portugal ECOntigo inspira-se nos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU – que a caldense quer dar a conhecer – e entre as suas metas inclui também a apresentação de projectos sociais e empresariais e de associações que trabalham no intuito de promover o desenvolvimento sustentável em Portugal.
Promovendo as iniciativas que já estão a acontecer, a jovem consegue que as ideias locais ganhem uma proporção maior e que possam ser replicados os bons exemplos que vão acontecendo dispersos pelo território nacional.
Assim, num local o utilizador poderá ficar a saber onde existem, por exemplo, lojas de venda de produtos biológicos, de produtos zero waste, ou a granel. E também restaurantes vegetarianos, associações ambientais, alternativas de transporte (como bicicletas municipais), mercados municipais de venda directa dos produtores, fontes de água (onde se pode encher as garrafas reutilizáveis), hortas comunitárias de bairros e cidades, projectos de permacultura, entre outros.
Também será possível saber que cursos existem nas áreas da agricultura biológica, da permacultura, as limpezas de praia e da floresta e os eventos de reflorestação, por exemplo.
A jovem realça na sua proposta que “sem dúvida que muitos problemas poderiam ser resolvidos de forma mais eficiente por alterações a grande escala a nível das empresas e implementações de leis pelos governos”.
A IMPORTÂNCIA DE CADA UM
Apesar de não desistir dessa luta, a jovem também não se escuda nela para não fazer nada. “Acabamos por ser nós mesmos, consumidores individuais, a contribuir para que estas empresas e formas de produção continuem a existir”, salienta a jovem de 28 anos, que estudou na EBI Sto. Onofre, na Raul Proença e no Colégio Rainha D. Leonor.
Na página web a informação aparecerá dividida por separadores, como por exemplo: Agricultura & Floresta, Água & Recursos Naturais, Ambiente, Energia, Alimentação & Saúde, Vestuário, Educação, Economia Consumo Responsável, Zero Waste, Tecnologia, Artes & Cultura, Viagens.
Além disso, os utilizadores poderão consultar a informação por região.
Alguns dos pontos fortes do projecto desenhado pela caldense que estudou Economia, na Universidade Nova e Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia (ambos em Lisboa), são a aplicabilidade em todo o território nacional, a possibilidade de leituras geográficas e, obviamente, a sensibilização para uma causa tão importante.
Entre as sugestões de mudança mais imediatas, a jovem fala, por exemplo, numa maior preocupação com origem da comida que se consume, tentando perceber o impacto social, ambiental e económico de cada produto. Outra é a compra de produtos locais e a redução do plástico ao máximo, com garrafas e sacos reutilizáveis. Isto aplica-se ainda mais “numa cidade como as Caldas, que tem a Praça da Fruta, onde se pode falar com as pessoas, saber de onde vêm os produtos e comprar a granel”.
A caldense acha que “as alternativas estão a aparecer, e vê-se pessoas muito interessadas, mas não existe informação de forma facilitada e é preciso perder tempo a procurar”. A página que vai criar pretende suprir essa lacuna. “Temos de criar estratégias e ter ferramentas para que esta mudança seja massificada”, disse Filipa Silva à Gazeta das Caldas, antes de ir para a manifestação pela Amazónia, que decorreu na passada semana em Lisboa.
A caldense está de regresso à sua cidade, depois ter estado no estrangeiro, em países como a Índia, o Perú e a Austrália. Tem colaborado em projectos na área da permacultura e da agricultura biológica e fez voluntariado em várias ONG.
Orçamento de 40 mil euros
O Portugal ECOntigo terá um orçamento de 40 mil euros que se destinam ao apoio técnico para elaboração da página web, o design gráfico, a realização de vídeos e recolha de informação para conteúdo escrito e visual.
A jovem ainda não consegue estimar prazos para o lançamento do site, mas pretende que a página fique disponível o mais rapidamente possível, sendo posterior e gradualmente alimentada com informação e melhorada.
Em segundo lugar, com 428 votos, ficou a proposta Plástico ZER0, que se baseia no cumprimento que as escolas assumem de reduzir a utilização de plástico no recinto escolar. A proposta pretende oferecer a cada aluno dos concelhos de Tomar e Alcanena uma garrafa de alumínio, de forma que estes a possam encher nos dispensadores de água. Este projecto custa 30 mil euros. O Centro de Recuperação e Investigação do Camaleão do Algarve ficou em terceiro com 314 votos e custará 60 mil euros. Aprovadas foram ainda as propostas Jah Moment (uma rádio para a inclusão social através dos princípios da cultura rastafári – 60 mil euros e 295 votos), a criação de uma unidade de reciclagem criativa em Aveiro para aproveitar os plásticos (75 mil euros, 290 votos), a Feira da Cultura Cigana, para dar a conhecer os hábitos e costumes daquela etnia (80 mil euros, 284 votos) e ainda a possibilidade de os jovens do Centro fazerem voluntariado nos corpos de bombeiros (90 mil euros, 272 votos). Jovens ajudam Estado a gastar meio milhão O Orçamento Participativo Jovem Portugal é uma ferramenta de democracia participativa que foi criada em 2017 pelo Ministério da Educação e IPDJ e que permite que os jovens portugueses escolham onde é que o seu governo deve gastar meio milhão de euros. Os jovens devem ter entre 14 e 30 anos e apresentar projectos até 100 mil euros nas seguintes áreas: Educação Formal e Não formal, Emprego, Habitação, Saúde, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Governança e Participação e Igualdade e Inclusão Social. Este ano foram apresentadas 437 propostas, um número ligeiramente superior aos dois primeiros anos. Até agora, em três edições, já foram feitas 1252 propostas. Caldas é exemplo nos OP nacionais Ao contrário da ideia que pode transparecer quando se analisa o que acontece com o Orçamento Participativo das Caldas, que tem vindo a perder votantes e proponentes e que passou de anual para bienal, os caldenses têm-se revelado participativos e bem-sucedidos nas suas propostas a nível nacional. Além de Filipa Silva, que agora venceu o OPJP 2019, logo na primeira edição desta ferramenta, a também caldense Sara Miradouro Moreira concorreu com um projecto ligado à natureza que pretendia ajudar a proteger a reserva natural local do Paul de Tornada, a Lagoa de Óbidos e outros refúgios para a vida selvagem da região, bem como realizar trabalhos de investigação nesta área e actividades de recreação e sensibilização. Esse projecto não foi aprovado, mas, no mesmo ano, no Orçamento Participativo Portugal, o projecto do Conselho da Cidade em parceria com Liga para a Protecção da Natureza, que propunha a criação de um Centro Interpretativo da Lagoa de Óbidos, foi um dos eleitos no Centro do país. Tem um orçamento de 97 mil euros, sendo as maiores fatias da verba destinadas a equipamentos (quase um terço do valor), bens e serviços (26 mil euros) e recursos humanos (32 mil euros).































