“Caldas deve ser conhecida como uma cidade de saúde e é urgente sensibilizar os caldenses para o que as termas poderão fazer pela cidade”, diz Margarida Rézio
A “Transformação Urbana e a Vivência Termal” é o título da tese de doutoramento de Margarida Rézio, e explica como se deu a transformação da cidade e como tem sido a vivência termal desde a fundação, em 1510, das Caldas da Rainha e a actualidade. Trata-se do primeiro estudo sociológico sobre o Hospital Termal, explica a autora, natural de Chaves, mas que veio residir para as Caldas há 40 anos, quando começou a trabalhar na área da saúde.
Margarida Rézio defende que as Caldas da Rainha devia ser considerada como uma “cidade de saúde” e defende que é urgente sensibilizar os caldenses para que se interessem pela sua terra, pelas suas próprias vivências e por tudo o que as termas potenciaram e poderão fazer, no futuro, pela cidade.
O gosto pela cidade que a acolheu com 17 anos ditou o tema do estudo. Logo após terminar a sua tese de mestrado sobre os centros de formação nas Caldas, em 2007, Margarida Rézio foi convidada a prosseguir os estudos e, como tinha muita documentação e queria saber mais sobre as Caldas e as suas termas, avançou para o doutoramento em Sociologia, que agora concluiu. “Conforme fui fazendo a investigação no Hospital Termal fui percebendo que havia um paralelismo com o desenvolvimento da cidade”, explica a autora que fez um estudo exaustivo sobre a localidade, numa tentativa de compreender os comportamentos sociais e as suas manifestações. Este estudo, que além da pesquisa documental incluiu a observação directa e a realização de diversas entrevistas a responsáveis e aquistas, terminou antes do Hospital Termal ter encerrado em 2012 os tratamentos termais.
De acordo com a investigadora, a vivência termal influenciou a transformação urbana. “Tudo parte do Hospital Termal”, refere, explicando que as primeiras vendas começam nas suas proximidades e depois expandem-se para a praça das Gralhas (Largo de José Barbosa) e para a Praça da Fruta, que ainda hoje cumpre a sua função e é considerada um ex-libris da cidade. Referindo-se a este mercado, Margarida Rézio considera-o um monumento e defende que deverá ser preservado tal qual como está, pois “transpira vivências sociais”.
O Hospital Termal contribuiu também para a alteração da alimentação na cidade, através da dieta que impunha aos aquistas. “É a primeira instância que começa a potenciar uma alimentação saudável, ou seja, a alimentação que ainda hoje é aconselhada aos utentes é feita à base de fruta e muita água, desaconselhando-se a comida pesada”, explica, dando conta que estes hábitos foram depois transpostos para a comunidade local e potenciadas com os produtos vendidos na praça, principalmente frutas e hortícolas.
As termas foram também um foco de atracção de pessoas de todo o país. “Foram as termas da moda, mas depois as classes altas começaram a procurar outras práticas”, refere a autora, que vivenciou a experiência termal, tanto nas Caldas como noutras localidades nacionais e no estrangeiro.
Margarida Rézio explica que as termas caldenses foram sempre procuradas por motivos de saúde e é depois essa vivência que vai potenciar o turismo. A autora refere que nas Caldas não são feitos os tratamentos de beleza e bem-estar dos spa, mas que as propriedades da água, por si só, garantem essas melhorias. “Quando fazemos os banhos a nossa pele fica melhor, mais hidratada e o bem-estar vem pela saúde”, realça, acrescentando que os custos com estes tratamentos são muito inferiores aos de um spa.
Defende, por isso, que as Caldas da Rainha devia ser conotada como uma “cidade de saúde e não de doença, porque a primeira impressão que se colhe da vivência termal é a procura da saúde. A rainha quis dar saúde aquelas pessoas que encontrou nesta região”.
Para além disso, acrescenta, aquele hospital tem uma dupla função, a de ser um espaço de cura pela água e também uma estância de assistência porque, a qualquer momento, a pessoa pode ser evacuada e socorrida.
Termas perderam o fulgor com a alteração da legislação

No estudo que efectuou, Margarida Rézio comparou as termas das Caldas com as de Chaves e foi também aquela cidade a perceber as vivências dos seus cidadãos. Constatou que os flavienses “interessam-se, utilizam as termas, fazem os percursos que lhe estão associados e acarinham as termas”, ao contrário dos caldenses que, quando questionados sobre as termas “não sabiam explicar as suas raízes, as suas vivências ou a razão que a cidade se chama Caldas”. Margarida Rézio defende que é urgente sensibilizá-los para as suas vivências e por tudo o que as termas potenciaram e poderão fazer, no futuro, pela cidade.
Outra conclusão que a autora apresenta no seu estudo é que as termas perderam fulgor com a alteração na legislação ocorrida na década de 80. “Nessa altura o Estado protegia os tratamentos termais e a assistência social permitia que se fizesse o tratamento de forma gratuita e que fosse também paga a estadia ao acompanhante”, recorda, acrescentando que era também uma forma de as pessoas fazerem férias e assim contribuir para o desenvolver do lazer nas Caldas. Depois, nos anos 90, deu-se a massificação da saúde e, com as novas leis, só o doente pode fazer termas e a comparticipação deixa de ser total.
O lazer sempre esteve ligado ao tratamento termal e, no caso caldense, é possível verificar que o hospital comunicava com a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, permitindo que as pessoas fizessem a sua oração e deambulassem pelo espaço. Actualmente essa ligação já não existe, mas a investigadora diz que os aquistas continuam a fazer as suas orações, nomeadamente os que estão internados nos quartos, ou dedicam-se a fazer crochet e bordados, ou à leitura.
O hospital oferece também visitas gratuitas ao museu, igreja e às próprias piscinas.
A tese, na área da Sociologia Urbana, do Território e Ambiente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, foi apresentada em Maio deste ano e deverá ser apresentada publicamente nas Caldas em breve.
Alimentação, Saúde e Termalismo em Meio Urbano em debate nas Caldas
A alimentação, saúde e termalismo em meio urbano estiveram em debate na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, por vários especialistas. A alimentação termal foi abordada por Margarida Rézio, que explicou que a estância termal caldense teve sempre dietas alimentares próprias direccionadas ao banhista, assente no consumo de frutas e legumes.
Para além disso, acrescentou, “está confirmado cientificamente que a água termal é um remédio, dai ser necessário cuidado com a alimentação, pois o banhista já recebe os nutrientes quando está a fazer o tratamento”.
Também presente no encontro, João Baptista falou do mercado biológico de Óbidos e incentivou os alunos da própria escola, depois nas suas funções, a optarem por produtos biológicos, pois considera que é neles que está o futuro.
O mercado biológico de Óbidos nasceu há dois anos e actualmente já tem alguns clientes fixos, sobretudo ingleses e alemães a residir na região. “Para eles a agricultura biológica não é só um luxo” disse, desmistificando também a ideia destes produtos serem mais caros, para o consumidor.
De acordo com João Baptista, o segredo da agricultura biológica é o trato que se dá ao solo. “Nunca descuramos a compostagem e a colocação de estrume antes e durante a cultura”, disse, acrescentando que se trata de uma cultura amiga do ambiente e da saúde.
Em Óbidos deixaram de ser um mercado de rua para se instalarem no antigo quartel dos bombeiros, na Rua Direita. A Câmara também apoia este tipo de produção, com a atribuição de um subsídio de 500 euros por cada hectare que passe para biológico.
Os vinhos e a sua ligação à saúde foi o tema abordado pelo enólogo Miguel Móteo, que começou por diferenciar as bebidas destiladas das fermentadas.
Para além das vantagens para a saúde, o vinho “não tem contra-indicações e tem como efeito colateral a promoção do convívio social”, disse, acrescentando que moderação é a palavra-chave para o seu consumo.
Miguel Móteo informou ainda que as grandes casas francesas de cosmética estão a desenvolver, no sul do Brasil, hotéis com o conceito de vinoterapia. Também algumas empresas já desenvolveram spas vínicos para tratamentos de beleza, aproveitando as suas propriedades anti-oxidantes.
“O vinho não é mais do que um produto de farmácia no conceito das suas capacidades na área da cosmética”, concluiu.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt
Especialistas nacionais preocupados com Hospital Termal das Caldas
Autonomizar o Hospital Termal, conferindo-lhe capacidade empresarial e torná-lo auto-sustentável, reabrir o internamento, manter a missão que lhe foi atribuída (com base na Hidrologia médica) e cooperar com os cuidados de saúde primárias, numa perspectiva de gestão da doença, são algumas das principais propostas que constam das conclusões da conferência sobre o termalismo nas Caldas, que se realizou a 15 de Novembro, na sede da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Com o tema “Um Valor Patrimonial ‘Único’ a Conservar -Modernizar”, a conferência contou com a participação de vários especialistas do sector, entre os quais os caldenses Jorge Mangorrinha, Helena Pinto e Mário Gonçalves, mas até o próprio presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, Luís Aires-Barros, fez questão de fazer uma intervenção sobre termalismo.
O professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST) e do Instituto de Hidrologia de Lisboa já foi presidente da Comissão Nacional do Termalismo. Luís Aires-Barros recordou o tempo em que dava aulas aos alunos de Hidrologia Médica no IST, em que estudavam as propriedades das águas termais “que têm de ser consideradas um precioso recurso minero-energético renovável”.
Para Luís Aires-Barros as características da água termal que são favoráveis à saúde devem ser preservadas e potencializadas, ao mesmo tempo que se aproveitam as condições turísticas favoráveis para a região e para o país.
António Tavares, Delegado de Saúde Regional de Lisboa e Vale do Tejo, salientou as diferentes formas de termalismo que podem ser exploradas, da prevenção ao bem-estar. Em termos médicos, considera que as propriedades terapêuticas das águas termais, nas afecções a que estão indicadas, devem ser evidenciadas de forma a credibilizar “este tratamento termal como uma alternativa sustentada aos tratamentos convencionais, promovendo assim a sua procura”. Esta pode ser uma alternativa ao excesso de medicação.
Todos concordam que era importante realizarem-se mais estudos científicos para comprovar as características das águas termais, mas Pedro Cantista, presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica, lembrou que há uma experiência de séculos que prova a importância da água e das termas.
Há também a experiência dos próprios aquistas. Durante a conferência, Margarida Rézio, do Núcleo de Fibromialgia das Caldas, garantiu que, pela recolha de depoimentos que fez para a sua tese de Doutoramento sobre o Hospital Termal e pela sua própria experiência pessoal, “os doentes não precisam de tomar a sua medicação durante o tempo em que estão nas termas e cerca de dois meses após o tratamento”.
Por isso, afirma que “água termal das Caldas da Rainha é um medicamento e tem um efeito prologando no tempo”, permitindo uma poupança nos gastos com a medicação e melhorando a vida de quem opta pelas termas.
Conclusões dos trabalhos apontam caminhos a seguir
O grupo de trabalho para a redacção das conclusões foi constituído por João Caldeira Cabral, Jorge Mangorrinha, Jorge Varanda e Luiz Gonzaga Ribeiro.
Nas conclusões, é salientada a necessidade de renovar a estância termal (concepção, instalações, técnicas hidrológicas e imagem), de forma a “ganhar capacidade concorrencial”. É defendido ainda o “respeito integral pela unidade patrimonial, pela origem e valores assistenciais da sua história”.
Das exposições e do debate realizados concluiu-se que o Hospital Termal das Caldas da Rainha, e o seu património, devem manter-se como conjunto uno, mas de gestão autonomizada do Centro Hospitalar do Oeste “de acordo com a matriz histórica anterior à criação do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha (1971)”, de forma a salvaguardar as suas características físicas e culturais.
As conclusões referem ainda que a partir das actuais instalações, deve-se reabrir o tradicional internamento e retomar a missão que lhe foi atribuída pelo Ministério da Saúde, com base na Hidrologia Médica, e desenvolver a Reumatologia (com um programa de Cirurgia Reumatológica) e a Medicina Física e de Reabilitação, acompanhadas de ensino e investigação.
Quanto ao património actualmente sem uso, deve ser estudado e projectado para a criação de um Hotel Termal e de instalações de saúde complementares às já existentes.
A Mata Rainha D. Leonor e o Parque D. Carlos I devem ser salvaguardados na sua íntegra e “sujeito, de novo, a condições exemplares de manutenção, pela sua notável qualidade botânica e paisagística e especial importância ambiental”.
Na opinião do grupo de trabalho que subscreveu as conclusões, o Ministério da Saúde, o Ministério da Economia (através da Secretaria de Estado do Turismo) e a autarquia caldense devem promover a construção de um projecto identitário para as Caldas da Rainha, “fazendo integrar mutuamente o centro urbano e a cidade (na sua globalidade), numa estratégia de criação de uma verdadeira Cidade Termal, à escala europeia”.
É ainda sugerido que deve ser preparada uma candidatura a Património Mundial da Humanidade do conjunto termal e patrimonial das Caldas da Rainha.
O objectivo é reconhecer o valor, a singularidade e a excepcionalidade do Hospital Termal Rainha D. Leonor e do património associado na história a Assistência e do Termalismo, à escala mundial.
O documento recorda que Portugal tem, há mais de cinco séculos, “um hospital termal pioneiro na Europa e cuja evolução histórica reforçou o seu carácter único em termos medicinais e socioculturais”.
Quando se fala em apostar no termalismo, salienta-se ainda que “uma estratégia para Portugal no Turismo de Saúde não pode – não deve – fazer-se sem contar com as Caldas da Rainha”. Em Portugal, o Hospital Termal é o único que, com a sua vocação sob a tutela do Ministério da Saúde, possui o Estatuto de Hospital Central Especializado.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt































Nao poderia de forma alguma, ficar indiferente ao excelente trabalho que aqui ficou demonstrado.Para aqueles que eventualmente tenham algumas duvidas, relativamente as valencias e valores do Hospital Termal, ficou ali bem explanado e demonstrativo os seus valores e a essas pessoas recomendo a sua leitura.Como defensor que sempre fui e continuarei a ser pelo Hospital Termal e seu valioso patrimonio, gostava de agradecer publicamente a todos quantos deram o seu excelente contributo nesta materia e que continuem a defender as suas conviccoes para bem da cidade de Caldas da Rainha e dos caldenses.