
A Assembleia Municipal das Caldas da Rainha considera “simplista e irresponsável” identificar uma posição sobre a localização do novo hospital baseada apenas no critério único da equidade, medida exclusivamente em tempo e distância ao longo da A8 e rodovias adjacentes, desconsiderando os critérios da eficiência, produtividade, e da sustentabilidade financeira do investimento.
Os deputados entendem estar-se perante um “erro político grave” de avaliação de um investimento público da construção de um novo hospital e da “desconsideração política da análise multicritério ponderada e exaustiva que deve suportar a tomada de decisão pública do estado”.
Esta foi a posição tomada na reunião de 28 de junho, em adenda à moção aprovada na Assembleia anterior, por unanimidade, e que foi enviada ao Ministério da Saúde, ARSLVT, CHO, comissão de saúde da Assembleia da República e OesteCIM.
Esta reunião ficou ainda marcada pela participação do antigo administrador hospitalar, José Marques, para quem o estudo, encomendado pela OesteCIM à Universidade Nova, “não tem validade técnica”. O mentor do novo Hospital para o Oeste defende dois hospitais, um no Oeste Norte e outro no Oeste Sul.
O antigo presidente da Câmara, Fernando Costa, considera que a questão do hospital é a “mais grave que as Caldas tem neste último século” e lamenta que se ande a perder tempo. Discorda da moção, que apelidou de “sem sal”, pois considera que lhe faltam conclusões, embora reconheça que o conjunto de perguntas elencado é muito pertinente.
O antigo autarca lembrou que quando, em 1986, entrou para a Câmara havia já a ideia de alargar o hospital das Caldas, mas que não se veio a concretizar porque a incidia sobre os terrenos da Mata e colidia com um furo de água do Hospital Termal. Seguiram-se estudos e projetos, até que em 2008, José Sócrates anuncia que devia ser feito um novo hospital no Oeste. Crítico, Fernando Costa considera que o estudo encomendado pela OesteCIM é um “trampolim para a farsa” e que o hospital não será construído no concelho por “culpa de todos nós não termos reagido a tempo” e da câmara não ter feito um estudo. Pediu a união de todos na criação de uma estratégia e criticou a falta de tolerância para com a sua intervenção, abandonando de seguida a reunião.
Já Carlos Ubaldo, ex-candidato à Câmara pelo BE, realçou o papel ativo que os deputados eleitos pelo distrito na Assembleia da República têm de ter na defesa deste assunto. Outro antigo candidato, pela CDU, António Barros, assumiu-se como um “acérrimo defensor que o hospital devia ser construído no concelho das Caldas, na zona da Matel”.
Também presente na reunião, Vítor Diniz, porta-vos da Comissão de Utentes do CHO, mostrou a sua preocupação com a forma como os oestinos vão viver a próxima década, em termos de cuidados de saúde.
Para o deputado socialista, Jaime Neto, a criação de um novo hospital nas Caldas “não obedece a razões do umbigo, mas nacionais. Entendemos que um hospital para ser viável, produtivo e eficiente tem de estar junto a uma cidade com condições de vida económica e social adequadas”, justificou. Aquela posição foi corroborada por António Curado (VM), que defendeu a solução técnica de um único hospital para todo o Oeste e que esta “venha depressa”. O deputado, e médico, reconheceu que “é preocupante a atual resposta de cuidados hospitalares enquanto não há uma resposta hospitalar nova”, alocando responsabilidades ao governo.
A proximidade de Rio Maior
“O estudo abrange a área do CHO como se fosse uma ilha, mas não vivemos numa ilha”, diz o presidente da Câmara das Caldas que quer ver também incluídos os municípios envolventes, como é o caso de Rio Maior. Os autarcas já reuniram e, de acordo com Vítor Marques, aquele concelho sente também dificuldades na área da saúde. “Não se sentem respaldados com a resposta de Santarém e tiveram sempre mais ligação às Caldas”, explica.
Para além disso, o autarca lembra que há que pensar como será o futuro, com a criação da nova NUT2, que trará alterações a nível administrativo.
Também Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos, lamenta que o estudo da Universidade Nova se baseie em algoritmos para sugerir uma localização, não considerando a questão demográfica, o tempo de resposta a sinistrados em questões de trauma. Para além disso, não tem em conta o concelho de Rio Maior, muito mais próximo e com uma ligação à A15, mas considera Mafra, que está muito próxima de Lisboa. O fluxo turístico de Óbidos, Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha e Peniche também não vem espelhado no documento.
O autarca avança ainda que no que respeita à proximidade à ferrovia e área indicada para a construção do novo equipamento, a proposta das Caldas e Óbidos, que abrange cerca de 60 hectares, de um terreno na zona de S. Cristóvão, é a melhor resposta. De resto, acrescenta, foi a proposta apresentada com uma área maior e que acabaria por ser preterida em relação a outras, menores.
Filipe Daniel realça ainda que, independentemente da localização, Óbidos quer que a obra aconteça rapidamente, mas que não a vê consignada em qualquer rubrica do governo.
A Câmara de Alcobaça é proprietária há vários anos de um terreno em Alfeizerão, que foi adquirido com o objetivo de aí se construir o futuro Hospital do Oeste. O atual presidente, Hermínio Rodrigues, continua a acreditar que “esse terreno reúne todas as condições para acolher uma solução hospitalar seja ela pública ou privada”.
Reconhece que o Bombarral representa a centralidade em relação aos grandes polos urbanos do Oeste, mas garante que tudo farão para manter o “excelente relacionamento institucional” com o Centro Hospitalar de Leiria e que espera que o Hospital Bernardino Lopes Oliveira (em Alcobaça) se mantenha ativo com o máximo de valências e serviços possível. “Somos também defensores do modelo atual de ligação com Caldas para os munícipes do sul e com Leiria para os munícipes do norte”, concretiza à Gazeta das Caldas.
Debate público no CCC
Tendo as dificuldades atuais em termos de cuidados de saúde, a Comissão Utentes do CHO realiza, a 15 de julho, pelas 21h00, no CCC, um debate público sobre a “Saúde no Oeste nos próximos 10 anos” e a forma como esse período vai ser gerido, até à eventual construção do Novo Hospital do Oeste.
Estão convidados o secretário de Estado Adjunto da Saúde, o presidente da ARSLVT, a presidente do conselho de administração do CHO e os bastonários das ordens dos médicos e enfermeiros, assim como os autarcas oestinos e representantes de todos os partidos políticos.
De acordo com Vítor Dinis, porta-voz da comissão, é também uma oportunidade única para dar voz a todos os utentes. São eles “quem, na prática, sente na pele as tremendas lacunas no que à assistência à saúde na região diz respeito, portanto as “vitimas” de um sistema e serviços inoperacionais, para que se possam expressar, dar sugestões e opiniões, ajudarem a contribuir para uma solução”, concretiza. ■






























