Vítor Marques, presidente da Câmara, confirmou que vai dar andamento ao processo nos próximos dias. Cerimónia contou com a presença do secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha
Os Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha celebraram no passado domingo, 14 de setembro, os 130 anos da sua Associação Humanitária (AHBVCR), numa cerimónia marcada por homenagens, entrega de equipamentos e inauguração de novos meios. O momento ficou marcado pela promessa do presidente da Câmara, Vítor Marques, de criar um campo de treino com cerca de um hectare destinado à formação da corporação.
As cerimónias arrancaram com a apresentação de duas novas ambulâncias e de um reboque de busca e salvamento. Cada viatura recebeu um patrono: o engenheiro José Carlos Barosa, que colaborou a título pro bono no processo de legalização do quartel; Luís Botelho, dirigente histórico ligado à associação durante quase quatro décadas; e o Grupo Especial de Salvamento. Foi também assinalada a entrega de sete aparelhos respiratórios e ventiladores de circuito aberto, cinco oferecidos pelo Rotary Club das Caldas da Rainha e dois pela Silvercoast Volunteers. Já a direção da associação destacou uma recente doação da fundação Dízimo Pró-Vida, no valor de 80 mil euros, em equipamentos de proteção individual.
O comandante Nelson Cruz abriu os discursos evocando os fundadores e lembrando que “esta história de 130 anos só se atinge com mulheres e homens extraordinários que deram e continuam a dar o seu melhor, mas também com o apoio constante da população caldense e de tantas entidades públicas e privadas”. Recordou ainda figuras marcantes da associação, como o presidente Abílio Camacho e o antigo autarca Tinta Ferreira. Ambos distinguidos na cerimónia com a Medalha de Serviços Distintos Grau Ouro, justificada pelo período em que conduziram os destinos da associação e do município, que representou “um marco de viragem” na modernização do quartel e na aquisição de viaturas, frisou Nelson Cruz.
O comandante prestou ainda homenagem a José Luís Lalanda Ribeiro, distinguido com o Galardão de Mérito da Associação, e a Luís Botelho, agraciado com o Crachá de Ouro. Referindo-se ao corpo ativo, Nelson Cruz pediu uma ovação de pé pelo desempenho dos bombeiros, recordando um verão marcado por 25 dias consecutivos de incêndios e longas deslocações fora do concelho. “Todos os dias percorreram mais de 500 km, asseguraram 20 emergências médicas diárias, transportaram mais de 80 pessoas por dia para consultas e tratamentos, e ainda colaboraram em eventos como a Feira dos Frutos”, assinalou.
Aproveitando a presença do secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, Nelson Cruz lançou alertas à tutela, pedindo o fim das injustiças nas Equipas de Intervenção Permanente (EIP), a criação de uma carreira profissional para as associações, a revogação do despacho que retirou aos comandantes a competência para promoções e a oficialização de um Comando Nacional Operacional de Bombeiros. Criticou ainda os comandos sub-regionais criados em 2023, que classificou como “um erro crasso” que “retira eficácia e aumenta custos”, defendendo o regresso aos distritos.
O presidente da direção, Carlos Gouveia, destacou que a AHBVCR é “uma das maiores do país, com cerca de 11 mil associados”, mas frisou que o maior ativo “são os bombeiros, reconhecidos pela sua rapidez e eficácia”. O dirigente sublinhou a modernização de equipamentos alcançada nos últimos anos, assim como a conclusão do processo de licença de utilização do quartel, que permitirá à associação candidatar-se a fundos de apoio.
Quanto aos desafios, alertou para a sobrecarga imposta pela situação hospitalar no concelho. Com serviços frequentemente encerrados ou transferidos para Torres Vedras, os bombeiros são obrigados a realizar longos transportes de doentes, o que se reflete em mais de 750 mil quilómetros percorridos no último ano. “Não queremos continuar a trabalhar com ambulâncias com 900 mil quilómetros, pouco seguras para doentes e tripulantes”, alertou, justificando a aquisição das novas duas viaturas de transporte de doentes não urgentes.
Carlos Gouveia aproveitou ainda a cerimónia para apelar a melhores condições económicas para todos os bombeiros que combatem incêndios em turnos desgastantes, dirigindo-se ao secretário de Estado da Proteção Civil. E não esqueceu o diálogo com a autarquia, pedindo a concretização de duas promessas: o novo campo de treinos e a criação de um monumento na rotunda dos Hortas em homenagem aos bombeiros.
O secretário de Estado respondeu enaltecendo a ação e a coragem dos bombeiros portugueses e confirmando reformas em curso. Anunciou a preparação de uma nova lei orgânica para a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, a criação de grupos de trabalho para um estatuto de carreira profissional para os bombeiros das associações, o desenvolvimento de contratos-programa de financiamento e a profissionalização da primeira intervenção garantindo socorro permanente 24 horas por dia, assim como o regresso do Registo Nacional de Bombeiros, até final do ano. “O Estado tem plena consciência das legítimas reivindicações dos bombeiros. Já demos passos importantes e queremos que as próximas diretivas financeiras sejam construídas em conjunto com as associações e a Liga dos Bombeiros”, garantiu Rui Rocha.
Encerrando a sessão, o presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vítor Marques, reafirmou o apoio da autarquia à corporação. “São uma instituição centenária fundamental para a nossa comunidade. É um orgulho enorme termos uma corporação com tanta dedicação, competência, profissionalismo e espírito voluntário”, afirmou. Quanto ao desejo dos bombeiros em relação a um campo de treino, o autarca anunciou que o município já encontrou espaço, garantindo que o processo será encaminhado “nos próximos dias”.
Elogiou ainda o papel integrador da associação ao acolher bombeiros de várias nacionalidades, “cidadãos que aqui encontram uma comunidade e a quem os caldenses reconhecem mérito e dedicação”.
A cerimónia terminou com um momento de reconhecimento dos bombeiros distinguidos. António Anjos e José Monteiro receberam a Medalha de Quadro de Honra. Nas medalhas de assiduidade, Tiago Mendes e Hélder da Silva foram distinguidos com prata (10 anos), Abílio Nazaré com ouro (20 anos), e Bruna Simões, Lourenço Pacheco e João Cabral com dedicação grau ouro (25 anos, três estrelas). Já António Soares e Pedro Matos receberam a medalha de dedicação grau ouro (30 anos, quatro estrelas). António Miguel Moura foi promovido a título honorífico a bombeiro de primeira ao integrar o Quadro de Honra.
“A generosidade destes homens e mulheres está gravada na história da nossa associação e merece o reconhecimento de todos os caldenses”, concluiu Nelson Cruz.





































