Bombarral foi elevado a concelho antes de ser vila

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Lógotipo e escultura apresentados na sessão comemorativa da criação da vila

Não foi fácil a criação do concelho do Bombarral, cuja separação de Óbidos só foi possível devido ao cumprimento de uma promessa dos republicanos

O concelho do Bombarral tem uma situação história singular, pois foi criado em 1914 sem que tivesse o estatuto de vila, contrariamente ao que a lei previa, o que apenas viria a conseguir em 1925. Esta decisão foi evocada pelo Município do Bombarral no passado dia 26 de abril, numa sessão pública realizada no Paços do Município, onde foi desvendada a história que esteve por detrás desta decisão a I República. Mas a luta vinha de há muitos anos. Segundo o investigador Nuno Ferreira, técnico superior da autarquia, o sonho da elevação a vila levou 390 anos a ser cumprido, remontando essa pretensão aos tempos de Anrique da Mota, poeta palaciano que frequentou a corte de D. João III. O também vitivinicultor e juiz de órgãos tentou sem sucesso em 1535, por intermédio do nobre Fernando Taveira, conseguir que o Rei elevasse o Bombarral a vila, o que, ao tempo, significava a criação do concelho. Território que outrora pertenceu aos Coutos de Alcobaça, a aldeia tinha então pouco mais de 200 habitantes, incluindo 27 clérigos, mas era uma terra muito rica, ao ponto de até ter um tabelião. “Esta iniciativa esbarraria na reação dos notáveis de Óbidos, que, alegando já ter o concelho perdido as vilas do Cadaval, Salir do Porto, Caldas da Rainha e Alvorninha, não podia agora perder também o Bombarral, por acaso a terra mais rica do concelho”, destacou Nuno Ferreira. Mais tarde, aquando da integração no concelho do Cadaval, no século XIX, entretanto extinto, bombarralenses e carvalhenses resistiram em permanecer no concelho de Óbidos. Não há registos de alguém ter pensado então na criação do concelho do Bombarral. “Tudo muda em junho de 1887 quando por influência de Casimiro da Silva Marques, provavelmente o homem mais importante da história bombarralense, o caminho de ferro chega ao Bombarral, passando de aldeia pobre a rica. O comboio trouxe empreendedores que em poucos anos fizeram fortunas. Um desses homens foi o caldense José Manuel Proença, que teve a ideia de criar o concelho do Bombarral, que continuava integrado em Óbidos, que Pinheiro Chagas descrevia então como “a vila mais triste de Portugal”. Em 1908, num comício republicano que decorreu nesse verão, o político João Chagas prometia que se a república fosse implantada, a sede de concelho mudar-se-ia de Óbidos para o Bombarral. Mas ainda não foi desta. No meio de tantas vicissitudes, que juntou monárquicos contra republicanos, onde não faltou a intervenção da maçonaria e da carbonária, a 18 de março de 1914 tudo se prepara para finalmente ser criado o concelho do Bombarral. Surge um último obstáculo – duas representações da freguesia da Roliça e duas da freguesia do Carvalhal, todas assinadas pelos chefes de família, todas com assinaturas reconhecidas notarialmente, dão entrada no Congresso da República. “Uma diz queremos pertencer ao concelho do Bombarral e a outra diz não queremos pertencer ao concelho do Bombarral. Que se terá passado? Não sabemos”, interroga-se Nuno Ferreira. “Democraticamente um senador da maioria requer que se passe de imediato á votação. O Partido Democrático de Afonso Costa vota a favor e está criado o concelho do Bombarral. A direita aplaude, a esquerda protesta”, recorda o investigador. Esta solução salomónica tinha apresentada pelo almirante Ferreira do Amaral, retirando a Óbidos as três freguesias mais a sul e as mais ricas e populosas de então: Bombarral, Carvalhal e Roliça. Para assinalar a efeméride, a Câmara Municipal decidiu lançar o desafio ao Agrupamento de Escolas Fernão do Pó para a criação de um logótipo para assinalar a efemérida, a par da criação de uma peça cerâmica alusiva a este centenário pelo Projeto Universitários 50+, que foram apresentados oficialmente nesta sessão. O programa completou-se com a atuação da banda ‘The Luccky Duckies’, no Anfiteatro Municipal, que assim marcou a sua reabertura a espetáculos musicais após as obras de recuperação deste espaço e do Palácio Gorjão.
Na véspera, por ocasião da celebração do 25 de abril, o Largo do Município foi palco da cerimónia de entrega de uma ambulância de socorro à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Bombarral, oferecida pelo comendador Mapril Baptista. A Câmara Municipal decidiu entregar ao empresário um louvor pela atividade benemérita que tem tido para com o concelho. ■

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