
Uma jovem bióloga caldense, Sofia Reboleira, está a dar cartas na investigação da biologia subterrânea e em dois anos descobriu cinco novas espécies de escaravelhos cavernícolas (que habitam em cavidades e grutas) únicas no mundo.
A mais recente descoberta de Sofia Reboleira, divulgada no início deste ano, foi de um insecto sem olhos e sem asas, encontrado em grutas no Algarve.
Apadrinhado com o nome de Litocampa mendesi, mede pouco mais de três milímetros e deverá existir há milhões de anos.
Um mês antes a jovem caldense já tinha divulgado a descoberta de um pseudo-escorpião, encontrado também em grutas no Algarve, e de um escaravelho numa gruta de Montejunto. Titanobochica magna e Trechus Tatai são, respectivamente, os nomes atribuídos pela investigadora, que une a Espeleologia à Biologia para estas descobertas.
O pseudo-escorpião tem cerca de dois centímetros, mas Sofia Reboleira salienta que este pode ser considerado “um gigante”, porque o tamanho destes insectos oscila, normalmente, entre um e cinco milímetros.
Já em 2009 Sofia Reboleira tinha descoberto duas novas espécies de escaravelhos cavernícolas no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.
“Estes animais são nossos, porque não existem em mais nenhum lugar do mundo”, comentou ao nosso jornal a única investigadora de fauna cavernícola em Portugal continental.
As descobertas não passaram despercebidas e a caldense tem sido alvo de reportagens dos mais diversos meios de comunicação nacional.
Para além das aparições em televisões, rádios e jornais, foi convidada para participar numa edição especial do 146º aniversário do Diário de Notícias. Com a direcção do escritor Gonçalo M. Tavares, esta edição especial do jornal teve Sofia Reboleira como editora da secção de Sociedade e Ciência. Uma experiência que partilhou com pessoas como a fadista Carminho e a apresentadora Sílvia Alberto, entre outras, consideradas pelo jornal como “figuras em ascensão na nossa sociedade”.
Aos 30 anos, Sofia Reboleira é apresentada com uma das maiores esperanças da investigação científica em Portugal e, sem querer levantar o véu, avançou à Gazeta das Caldas que em breve poderia ter mais novidades.
Quanto às descobertas já anunciadas, a investigadora salienta que as possibilidades são imensas. “Os pseudo-escorpiões têm um dos venenos mais letais do mundo, quem sabe se a cura para algum dos males da humanidade não poderá vir a ser descoberta pelos investigadores de outras ciências que possam vir a estudar estes animais”, comentou.
Biologia e espeleologia foram descobertas feitas nas Caldas
Sofia Reboleira tem levado longe o nome das Caldas da Rainha, porque faz sempre questão de referir a sua origem natal.
Já quando estudava na Escola Secundária Raul Proença os seus interesses dividiam-se entre a Biologia e a Geologia. Foi nesta escola que um dia, em 1997 ou 1998, assistiu a uma conferência sobre biodiversidade do biólogo Jorge Paiva.
“Assisti à conferência e fiquei maravilhada”, conta, assumindo que este foi um dos factores que a levaram por optar por seguir Biologia no ensino superior. Mal sabia na altura que iria contribuir para o aumento da biodiversidade mundial, ao descobrir estas novas espécies.
Sofia Reboleira foi para o curso de Biologia na Universidade de Aveiro em 1999. Embora a sua primeira opção fosse Lisboa, por ser mais próximo de casa, acabou por ser importante a sua ida para Aveiro para a área de estudo que decidiu seguir.
“Deve ter sido logo no segundo dia de eu ter chegado a Aveiro que cruzei-me com um jipe do núcleo de espeleologia da universidade e fui logo inscrever-me”, contou. O seu interesse pela espeleologia tinha começado nas Caldas da Rainha, no núcleo que existia na escola secundária, e seria essa experiência que lhe abriria portas para um mundo que estava por explorar em Portugal. “Eu devia ter uns seis anos quando fiz uma visita turística a uma gruta e aquilo nunca mais me saiu da cabeça”, referiu.
Em Aveiro, ao mesmo tempo que tirava a licenciatura em Biologia, foi descobrindo que “havia formas de vida nas grutas que não havia em nenhum outro local”.
Para a então jovem estudante “era a cereja no topo do bolo”. Em Portugal há muitos anos que a área da biologia subterrânea estava “praticamente abandonada”.
Como não havia ninguém em Portugal que a pudesse ensinar nesta área decidiu ir para a Universidad de La Laguna, nas Canárias (Espanha), onde fez um estágio curricular de seis meses.
Mestrado e doutoramento levam a descobertas únicas

De regresso a Portugal e terminada a licenciatura, avançou para um mestrado com o tema “Escaravelhos cavernícolas do maciço calcário estremenho”. O mestrado teve a orientação científica de Fernando Gonçalves (Universidade de Aveiro) e Artur Serrano (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).
No âmbito desta investigação, em 2009 fez as suas primeiras descobertas a cem metros de profundidade, neste caso de novas espécies de insectos no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. São dois escaravelhos cavernícolas que são também espécies novas para a ciência.
As grutas da Serra de Aire e Candeeiros são assim o único habitat que se conhece em todo o mundo destes insectos. Até então só era conhecida uma espécie de escaravelho cavernícola do maciço calcário estremenho.
Como tal, são consideradas espécies em vias de extinção têm uma população muito reduzida e são muito sensíveis à poluição e às alterações do habitat.
Actualmente, a caldense é bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, na Universidade de Aveiro e na Universidad de La Laguna no âmbito do qual fez as mais recentes descobertas.
A tese de doutoramento é intitulada “Conservação de fauna subterrânea em regiões cársicas” e deverá estar concluída dentro de um ano e meio. Para tal, está a percorrer grutas do país inteiro, sendo que na região Oeste a sua área de acção são as Cezaredas e Montejunto. No concelho das Caldas o único motivo de interesse poderá vir a ser, eventualmente, a biodiversidade das grutas de Salir do Porto.
Uma caldense que queria ver a sua cidade mais cuidada
Há vários anos a morar fora das Caldas, Sofia Reboleira continua a voltar à sua cidade natal onde tem a família e amigos. A viver “entre Aveiro e Espanha”, como a própria descreveu, sente-se bem muito bem na cidade que a acolheu quando foi para o ensino superior. “Aveiro é uma das cidades com melhor qualidade de vida em Portugal”, assegura.
Das Caldas diz não gostar nada “da desarmonia arquitectónica da cidade, da falta de espaços verdes e da existência de lixo”. Sofia Reboleira salientou o cuidado que existe no espaço público em Aveiro, ao contrário do que acontece nas Caldas.
No entanto, é fácil de perceber a sua paixão pela cidade onde nasceu e morou durante a infância e adolescência. “O melhor que as Caldas tem é que me sinto em casa”, afirmou. Mesmo que prefira não falar de momentos marcantes, como quando recitava poesia nos encontros promovidos na biblioteca municipal.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt






























