Benvinda Matias atravessou o século XX e já fez 110 anos

0
983

DSCN9332A 15 de Fevereiro de 1906 nascia em Monte Frio (Arganil) Benvinda Matias. Estávamos no reinado de D. Carlos, quatro anos depois seria implantada a República. Entretanto, dar-se-iam duas guerras mundiais, Portugal seria engolido pela ditadura por 48 anos até voltar a viver em Democracia.
Benvinda Matias atravessou isto tudo durante mais de um século. Agora, aos 110 anos, é utente do Lar da Santa da Misericórdia (Alfeizerão) e celebrou no dia 21 de Fevereiro o seu aniversário na companhia de dois netos, quatro bisnetos e uma nora. No momento de soprar as três velas numeradas, ainda houve folgo e vontade por mais uns quantos anos.
Segundo os familiares, Benvinda encontrava-se num dia “médio”, revelando dificuldades de audição, visão e fala. À Gazeta das Caldas a aniversariante agradeceu a visita e fez um desabafo. Nestes 110 anos vividos, “arrependo-me de nunca ter aprendido a ler”. A nora, Maria do Céu, conta que Benvinda chegou a assinar o nome e, há uns anos, antes das cataratas lhe roubarem parte da vista, ainda era capaz de ler as letras gordas das páginas da necrologia.
“A vida foi dura”, recorda a centenária. Partilhava o quarto com os nove irmãos e aos sete anos teve o seu primeiro emprego no campo, ficando encarregue de guardar o gado. Só aos 14 chegou o primeiro par de sapatos e, quando se casou, no início dos anos 30, o vestido de noiva era emprestado.
Recém-casada partiu para Lisboa com o marido Luís, à procura de melhores condições de vida. O primeiro bairro em que morou, antes de trabalhar no Mercado Abastecedor da Ribeira, localizava-se na freguesia de Socorro.
Cedo ficou viúva, aos 34 anos, e só encontrou algum descanso quando foi viver para casa da nora, casada com o seu filho que faleceu aos 70 anos.
Os 100 anos foram festejados no Estádio da Luz. Benvinda é  benfiquista ferrenha, tanto que o filho foi primeiro registado no Benfica e só depois no registo civil. “Morou connosco até aos 100 anos e já com essa idade ralhava comigo porque lhe escondia o ferro de engomar”, contou a nora, Maria do Céu, garantindo que antes da queda que lhe fracturou o fémur e a sentou numa cadeira de rodas, Benvinda ainda tomava banho e vestia-se sozinha.
Depois de passar por dois lares, Benvinda veio para Alfeizerão em 2013, pelo facto da nora ter casa em São Martinho do Porto. Maria do Céu, aos 81 anos, descreve-a como uma “pessoa alegre e contadora de histórias” que “era ainda uma jovem quando tinha a minha idade”.

- publicidade -