“Caso o animal permaneça no local, está a ser equacionada a captura e encaminhamento da foca, para o seu habitat natural, actuação que tTem honras de estrela a foca Martinha, que este ano decidiu abrilhantar o Verão em São Martinho do Porto. Depois de ter sido carinhosamente baptizada pela população, a foca tem já uma página no Facebook, é ostentada orgulhosamente na camisola dos funcionários de um dos restaurantes locais e torna ainda mais famosa uma vila balnear que já dispensava apresentações.
Sabe-se agora que se trata de um exemplar de foca comum (Phoca vitulina), uma espécie que normalmente se encontra no Norte da Europa.
“Apesar de não existirem colónias em Portugal, a presença de focas na costa continental portuguesa é ocasional, com maior incidência nos meses de Inverno e envolvendo sobretudo animais jovens que dispersam a partir das colónias onde nasceram”, explicou à Gazeta das Caldas o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O inesperado aparecimento da foca na baía tem dado muito que falar. Mas há quem se lembre de em tempos ter aparecido uma outra foca, ainda que no Inverno, nas águas de São Martinho. E já correm nas redes sociais fotos recuperadas de álbuns fotográficos de há umas décadas que o comprovam.
O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) diz que “apesar de já ter acontecido o aparecimento de animais adultos na costa portuguesa, esta não é uma situação normal, não havendo ainda uma explicação para o facto”. Enquanto a Martinha se mantiver por lá, há cuidados a ter e há que moderar os exageros dos mais curiosos.
À Gazeta das Caldas, o capitão do Porto da Nazaré, Jorge Lourenço Gorricha, explica que “a bandeira amarela [içada na zona balnear onde seja avistada a foca] tem sido usada para evitar o contacto directo entre banhistas e a foca”. Cuidados que se prendem com o facto de este ser “um animal selvagem que não está habituado à presença humana, pelo que uma aproximação excessiva poderá originar comportamentos agressivos que poderão colocar em risco quem se aproximar demasiado”.
Cautelas reforçadas pelo ICNF, que diz que “a mordedura de uma foca é particularmente perigosa devido à infecção que pode ser causada pela grande quantidade de bactérias que estes animais possuem na boca”.
A Martinha está a ser acompanhada de perto por diversas autoridades. De acordo com ICNF, caso o animal permaneça no local, está a ser equacionada “a captura e encaminhamento da foca, para o seu habitat natural, actuação que tem sido levada a cabo em situações semelhantes”.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt
O que acham os veraneantes da foca Martinha?
Considera a foca Martinha uma boa atracção turística em São Martinho do Porto? Acha que a foca pode representar um perigo para os banhistas? Concorda com as precauções que têm sido tomadas nas alturas em que a foca aparece, como o içar da bandeira amarela?
Estas as perguntas que fizemos na praia de São Martinho do Porto e cujas respostas transcrevemos, dando conta das opiniões das pessoas sobre esta visitante inesperada.
“Trata-se de um animal selvagem que pode representar perigo para
os utentes da praia”
Joana Casimiro, 21 anos
Nadadora Salvadora
“Acho que o aparecimento da foca Martinha só foi engraçado nos primeiros tempos, porque a verdade é que se trata de um animal selvagem, que pode representar um perigo para os utentes da praia, caso se aproximem em demasia. Não sabemos quais os comportamentos que a foca pode ter e, por isso, há que tomar certos cuidados. Mas, quando tentamos avisar os banhistas e apitamos para que saiam da água, muitas das vezes não somos respeitados, porque grande parte das pessoas acha que o animal é fofinho, que não representa um perigo, e ainda são capazes de se aproximar mais.
Mas, penso também que devido à foca, a praia tem tido muito mais visitantes. Sempre que a Martinha aparece é uma enchente na praia, tudo a tirar fotografias e a correr para vê-la.”
“Para o turismo em São Martinho a Martinha tem sido uma boa atracção”
Mariana Silva, 17 anos Lisboa
“Venho todos os anos a São Martinho passar férias e este ano fui surpreendida pela foca Martinha, que já vi duas vezes ao final da tarde. Acho engraçado o facto de a foca aparecer na baía, mas reconheço que há que tomar certas precauções, porque não se conhecem as atitudes da foca, que ao fim ao cabo é um animal selvagem. Pensa-se que até poderá estar magoada e, nesse caso, até pode ter comportamentos mais agressivos, caso se sinta ameaçada. Por outro lado, não acho que a foca cause transtorno aos banhistas, pois aparece apenas esporadicamente e, por isso, grande parte do tempo podemos estar à vontade. Para o turismo em São Martinho, a Martinha tem sido uma boa atracção.”
“A melhor solução seria levarem a foca para
um local onde pudesse ser tratada”
Miguel Costa Marques, 45 anos Coimbra
“Desde que nasci que venho passar férias a São Martinho e já me cheguei a cruzar com a foca em água, quando vinha a nadar desde um barco até terra. Acho que é preciso ter respeitinho pelo animal, porque não conhecemos a sua natureza e nem sabemos se pode atacar, por isso, não me aproximei muito. Esta praia é uma zona de veraneio e está quase sempre bandeira verde, por isso, acho que a melhor solução para evitar que as pessoas fiquem privadas do banho, seria levarem a foca para um local onde pudesse ser tratada, devolvendo-a depois ao seu habitat natural. Admito que fiquei um bocadinho chateado quando houve o alvoroço para que as pessoas saíssem da água, até porque ao que parece a foca tem-se habituado às pessoas e à baía, e não representa um perigo assim tão grande.”
“A Martinha não está no seu habitat natural, mas está no seu meio, o mar”
Vera Bandeja, 30 anos
São Martinho do Porto
“Penso que a foca tem trazido bastante gente a São Martinho, porque apesar de não ser a primeira vez que aparece um animal na baía, nunca nenhum tinha ficado tanto tempo. Se até os humanos são selvagens em certas alturas, compreendo que a foca também o seja. A Martinha não está no seu habitat natural, mas está no seu meio, o mar, e por isso acho um absurdo que pais incentivem os seus miúdos e darem-lhe com os remos, como já tenho visto. Claro que assim é normal que ela responda agressivamente. Afinal se me atacarem eu também me defendo como posso. Acho que as pessoas se aproximam demasiado por curiosidade e não têm consciência dos limites e do espaço que o animal precisa. Quando vamos ao Jardim Zoológico também não tocamos nos animais selvagens.”
“As pessoas que me alugam as barracas perguntam-me várias vezes pela foca”
Miguel Libório, 35 anos (Concessionário)
São Martinho do Porto
“O aparecimento da foca foi agradável para uns, mas não tanto para outros. Algumas pessoas queixaram-se muito quando esteve bandeira amarela ou vermelha, porque não podiam ir ao banho, enquanto outras compreendem as medidas de precaução tomadas. Pessoalmente, fico sem perceber se realmente o animal é ofensivo ou não, mas acho que mais vale prevenir e colocar bandeira amarela. As pessoas que me alugam as barracas perguntam-me várias vezes pela foca, por isso acho que o interesse à volta do assunto ainda é bastante grande.”
Testemunhos recolhidos por
Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt































