Projeto dá a conhecer o que pessoas autistas sentem e sugerem para esta disciplina
A Educação Sexual “continua a não responder” às necessidades, experiências e formas de estar no mundo das pessoas autistas, tendo sido “identificadas lacunas significativas” num questionário realizado no âmbito do projeto Autisex – Autismo e Educação Sexual Inclusiva.
As lacunas vão “desde a escassez ou inadequação dos conteúdos abordados até à falta de preparação de quem ensina e aos ambientes pouco acessíveis, tanto do ponto de vista sensorial como comunicacional”. E “ficou evidente que falar de Educação Sexual inclusiva exige mais do que adaptar um ou outro conteúdo”.
O estudo abordou também as necessidades específicas e acomodações consideradas úteis, com a grande maioria a destacar a importância de “incluir discussões sobre a diversidade de experiências e identidades, incluindo vivências LGBTQIA+, diferentes formas de relação e de expressão”.
A formação do corpo docente na área da neurodivergência é outro aspeto essencial, assim como “a possibilidade de colocar as questões de forma anónima, a utilização de exemplos concretos e práticos, com situações do quotidiano que facilitem a compreensão dos temas.
Outra parte deste estudo incidia sobre os conteúdos que gostariam de ver abordados em termos de Educação Sexual, com respostas interessantes e que devem motivar reflexões e medidas. “Reconhecer e saber lidar com comportamentos abusivos e indesejados” foi o tema mais selecionado, seguindo-se temas relacionados com o consentimento, com a saúde sexual e higiene pessoal, com a comunicação de desejos e limites – tanto de forma verbal como não verbal -, e ainda com os diferentes tipos de relação.
“Estes dados refletem a relevância dos conteúdos que vão além do enfoque biológico tradicional, integrando dimensões emocionais, relacionais e sociais que têm sido frequentemente negligenciadas”, realça a caldense Joana Simões, que é a dinamizadora da Associação Portuguesa Voz do Autista nas Caldas da Rainha. A fazer um doutoramento sobre sexualidade nas mulheres autistas, Joana Simões é também a coordenadora do Autisex, que decorre até dezembro deste ano.
O estudo incidiu ainda, numa segunda parte, sobre as famílias de pessoas autistas, até porque “a escuta ativa de pessoas autistas e dos seus familiares é essencial para a construção de respostas educativas mais ajustadas, inclusivas e respeitadoras da diversidade”.
O projeto Autisex, que é financiado pelo INR e cujos resultados foram apresentados na biblioteca municipal das Caldas, na tarde do passado dia 5 de novembro, prossegue com apresentações dos resultados na Escola Superior de Educação de Setúbal (dia 15) e na Biblioteca de Marvila, em Lisboa (no dia 21).
Os próximos passos deste projeto serão a criação de um guia prático para docentes do ensino secundário e o desenvolvimento de um programa educativo inclusivo e adaptado às necessidades de estudantes autistas, explicou à Gazeta das Caldas a dinamizadora da delegação caldense desta ONG de Pessoas com Deficiência que foi fundada em 2020 em Aveiro e que começou este ano a desenvolver trabalho na cidade termal.
A APVA é uma entidade sem fins lucrativos de autoadvocacia no Autismo, ou seja, é uma associação de pessoas autistas para pessoas autistas.
No final da apresentação, que atraiu poucos curiosos ao auditório da biblioteca municipal das Caldas, houve tempo para uma conversa aberta sobre autismo e sexualidade, bem como os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiência, com uma partilha de experiências.































