
Numa iniciativa inédita, a freguesia da Atouguia da Baleia juntou, no serão de 11 de Maio, sete idosos que tinham emigrado “a salto” para França e pô-los a contar as suas histórias de vida.
Os testemunhos foram registados em vídeo e guardados nos arquivos da Câmara de Peniche para memória futura, constituindo um legado fundamental para quem um dia investigar como era a emigração clandestina dos portugueses nos anos 60 e 70 do século passado.
Com histórias dramáticas, mas também com momentos divertidos (sobretudo porque contados 50 anos depois), estes homens recordaram como pagaram aos passadores e como estes os levaram a atravessar a fronteira para Espanha à revelia das autoridades, bem como as aventuras que se seguiam até chegaram à desejada França.
Alguns contaram que os passadores os tratavam como gado, outros recordaram a travessia de rios com água até ao pescoço e a trouxa com a roupa à cabeça. E a fome! Os dias com o estômago vazio, a atravessar campos e a contornar as aldeias miseráveis, ao longe, não fosse algum guarda fiscal avistá-los.
Da Atouguia da Baleia partiam de táxi ou de camioneta. Alguns iam “apanhar a automotora” às Caldas, rumo a Lisboa, a Leiria ou a Vilar Formoso, onde se entregavam às redes dos passadores.
A travessia de Espanha demorava uma eternidade, sobretudo quando era feita a bordo de camiões que levavam uma carga humana de homens desesperados que fugiam à miséria e buscavam um trabalho melhor remunerado. Outros suportavam estoicamente a longa viagem de comboio até à fronteira de Hendaya, muitas vezes com a recomendação de nunca abrirem a boca e não falarem uns com os outros para não serem identificados.
A França chegavam exaustos, esfomeados, acossados e assustados. Alguns levavam uma simples morada num papel. Não falavam línguas e os mais sortudos tinham algum familiar ou “um amigo lá da terra” que lhes dava a mão.
A construção civil era o destino de quase todos. A vivência no bidonville (bairro de lata) era, quase sempre, uma inevitabilidade. Pelo menos até que amealhassem algum dinheiro, mandassem vir a família e pudessem alugar um modesto apartamento. Regressar a Portugal e construir a sua própria casa era o desejo de todos eles.






























