Definir uma estratégia global para ajudar a integrar os jovens que não trabalham nem estudam é o objectivo do projecto de cooperação internacional “Garantia Comunitária”, que decorre até finais de Janeiros de 2019, envolvendo associações da Estónia, Islândia, Itália e Portugal. Do nosso país participa a CAI, uma associação de intervenção social, a nível nacional, que trabalha na região de Lisboa e Porto e também no Oeste, com incidência nas Caldas da Rainha e Óbidos.
O programa inclui reuniões, seminários e quatro visitas de estudo, aos países parceiros, onde os participantes têm contacto com as entidades locais e as melhores práticas no apoio aos jovens. A primeira reunião teve lugar em Reykjavik, na Islândia, entre 29 de Novembro e 5 de Dezembro e foi acompanhada pela Gazeta das Caldas a convite da organização.
Considerada como um modelo ao nível do combate às drogas na juventude, da desigualdade de género e do desemprego jovem (que no país é de apenas 1,8%) a Islândia possui diversos espaços para os jovens, com características muito diferentes entre si. A capital islandesa não é excepção, tal como o grupo de 20 participantes no projecto pôde comprovar.
No centro de Reykjavik fica situada a Hitt húsið, um espaço onde os jovens podem dar largas ao seu talento ao nível das artes ou apenas passar por lá para tomar um café. A casa vermelha, que já foi posto de polícia, correios e jardim de infância, alberga agora vários serviços e actividades de orientação para os jovens, em colaboração com outras organizações, especialmente de apoio na busca de trabalho de Verão e plataforma de aconselhamento. Ali funciona também a galeria Tukt onde os artistas emergentes podem mostrar as suas criações, gratuitamente e durante 15 dias, e uma sala com palco para concertos.
A crise que se instalou na Islândia em 2008, e que levou a uma enorme subida da taxa de desemprego, motivou a criação de cursos para ajudar os jovens na busca de emprego. Actualmente a taxa de desemprego jovem situa-se nos 1,8% mas continua o trabalho junto deste grupo para encontrar uma vocação, num esforço que junta empresas, hospitais, teatros ou mesmo a academia de polícia.
Os jovens que não se enquadram no sistema regular de formação encontram respostas em algumas instituições, como é o caso da Namsflokkar Reykjavíkur, onde podem terminar a formação ou trabalhar com a arte, aprendendo por exemplo joalharia em prata. Ali tentam recriar o ambiente de casa, nada institucional, com o objectivo de devolver aos jovens a auto-estima e, por vezes, permitir-lhes descobrir as vocações.
Jovens que não terminaram os estudos, desempregados, toxicodependentes e sem suporte familiar, são alguns dos beneficiários das políticas do Ministério do Trabalho. A equipa de profissionais que recebeu o grupo internacional labora com jovens ao nível do aconselhamento, preparação do currículo e na procura de cursos que os realizem. E não há limites para a escolha. Um jovem, por exemplo, queria ser palhaço, e foi-lhe possibilitada essa formação.
Os jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos, podem frequentar cursos durante dois anos e meio e sem qualquer tipo de custos. Este departamento abrange actualmente 158 pessoas.
Múltiplas respostas para os jovens
A percepção de que a Islândia precisava de um sistema que tivesse em conta a pessoa e a tratasse como um igual, ainda que esta sofresse de doença mental, esteve também na base da criação da Hugarafl. Esta associação é única na forma como trabalha, em que todas as decisões são tomadas em comum e os utentes apoiam-se uns aos outros na reabilitação, partilhando as suas experiências de viver com a doença mental.
A história foi contada na primeira pessoa. Uma jovem que sofre de esquizofrenia, passou quase toda a vida entre médicos e medicações que alteravam a sua forma de vida e que, sempre que procurava trabalho, a primeira coisa que lhe perguntavam era se tinha alguma doença. Até que um dia decidiu experimentar algo de diferente e dirigiu-se à associação, onde ainda hoje se mantém, agora como monitora e a ajudar outros jovens como ela a tentarem levar uma vida normal.
Numa intervenção bem-humorada, contou ao grupo que, quando chegou à Hugarafl, a única pergunta que lhe fizeram foi o que gostava de fazer e disseram-lhe que ali tinham muitos cursos, sobretudo de arte. Mas a instituição não a ajudou só a ela, mas também ao irmão, que sofre da mesma doença e que estava sentado numa das cadeiras da sala a ouvir aquele testemunho emotivo.
Em Reykjavik existem também centros da juventude, como o Mollinn, onde os jovens têm espaço para tocar, podem participar em workshops de arte, estudar ou ler. São também disponibilizados trabalhos de Verão para cerca de 30 jovens, mediante os interesses que declaram ao fazer a candidatura.
A visita incluiu também outros espaços, como o Fjölsmiðjan, um centro profissional dirigido por um ex-campeão islandês e treinador de andebol, onde os jovens que deixaram a escola podem trabalhar aprendendo uma profissão. Trabalham na oficina onde reparam computadores, máquinas de lavar ou outros electrodomésticos, ou trabalham em madeiras ou joalharia, actividades manuais ou na cozinha e recebem uma retribuição, através do governo, pelo trabalho que fazem. Existe ainda um pequeno estúdio de música onde podem gratuitamente tocar.
Todos os produtos que recuperam são vendidos numa loja que existe na cidade e o dinheiro é canalizado para ajudar os sem-abrigo e instituições de solidariedade social.
Já a associação Samfés é conhecida pelo festival da juventude que organiza anualmente, durante dois dias, e que junta perto de cinco mil jovens oriundos dos vários centros da juventude do país.

































