Nasceu nos alvores do século passado com o objetivo de ajudar os mais desfavorecidos, sobretudo no apoio logístico e financeiro aos familiares dos sócios falecidos. O Socorro Gaeirense tem 600 sócios e é o maior empregador da malha urbana da freguesia, prestando apoio aos idosos e à infância
A pobreza em que se encontrava grande parte da população no primeiro quarto do século XX, resultado de uma guerra mundial e da gripe espanhola, levava a que, por vezes, não houvesse condições para um funeral digno e, no caso de morte do chefe de família, esta não ter forma de se sustentar. Preocupados com estas dificuldades, um grupo de gaeirenses – Joaquim Santos, João Duarte, Eloi Alves, Júlio Veludo e Joaquim Munhá – criou uma associação com o objetivo de prestar esse apoio social aos mais carenciados. Nascia, assim, a 1 de setembro de 1921, “O Socorro Gaeirense”, sediado nas Gaeiras e que apoiava logística e financeiramente os familiares dos sócios falecidos.
O presidente da associação, Luís do Coito, não tem dúvidas de que se tratou de uma “ideia genial” e precursora do apoio social que anos mais tarde o Estado viria a dar aos mais desfavorecidos. De acordo com o dirigente, os funerais iam todos para o cemitério de Óbidos, uma distância aproximada de cinco quilómetros que era percorrida a pé. A associação adquiriu, então, uma carreta (que transportava o caixão), que era puxada por dois homens e os sócios, para além de pagarem as quotas, que iriam permitir ajudar a suportar o custo com o funeral, também ficavam obrigados a acompanhar o cortejo fúnebre, garantido assim uma maior dignidade à cerimónia. Quando se inscreviam, recebiam um cartão com o respetivo turno, o qual era depois chamado a ir acompanhar o funeral.
Maria Alice Ramos, de 88 anos e utente do Centro de Dia, outra das valências desta associação, recorda como na sua juventude quase todos os homens da terra, se disponibilizavam para executar estas funções. O seu marido era um deles.
Gaeirense de nascença, José Ribeiro (já falecido), tornou-se sócio com 24 anos, em 1954. “Quando lhe calhava ter de acompanhar o funeral, perdia meio dia de trabalho [na Quinta das Gaeiras]”, lembra a esposa, acrescentando que quando um sócio não podia comparecer, tinha de se fazer representar, trocando com outro sócio, ou pagando a alguém para ir no seu lugar. E não havia como fugir. Havia um “chefe de turno” que fazia o controle da presença daquela equipa, com chamada à saída, durante o percurso e já no cemitério, para confirmar que todos estavam presentes, e quem não cumprisse estava sujeito ao pagamento de uma coima.
“Foi uma ideia genial dos fundadores e que só mais tarde viria a ser posta em prática pelo Estado”
Luís do Coito
Durante muito tempo, foi uma associação exclusiva de homens, mas com a emigração de muitos dos sócios, e sem possibilidade de pagar a quem os substituísse, várias mulheres quiseram, elas, assegurar a tarefa de acompanhar os funerais. “As primeiras mulheres que o fizeram tinham os maridos emigrados na França”, lembra Maria Alice Ramos, acrescentando que só mais tarde, e com mudanças nos estatutos, as mulheres foram admitidas como sócias de “O Socorro Gaeirense”.
Com o tempo a associação foi crescendo e desenvolvendo novas valências.Em 1998 foram criados novos estatutos ajustados à realidade dos novos tempos, alargando a sua intervenção ao apoio social às crianças e jovens e aos cidadãos na velhice e na invalidez. Estes viriam a ser publicados em Diário da República, em março de 2000, tornando-se a associação numa Instituição Particular de Solidariedade Social. No ano seguinte foi formada a secção de Dadores Benévolos de Sangue, que dinamiza todos os anos duas colheitas.
Em 2005 deu início a uma nova valência, o Centro de Convívio, localizado no edifício do Pombal recuperado para o efeito pela autarquia. Dois anos mais tarde foi celebrado o protocolo, com a Câmara de Óbidos, para gestão da creche, que atualmente possui 40 crianças. Ainda em 2007, começou a distribuir bens alimentares, através de um acordo com o Banco Alimentar do Oeste. A valência de Serviço de Apoio Domiciliário foi implementada em 2010 e, no ano seguinte, a associação deu início à atividade de Centro de Dia nas instalações da antiga Escola Primária, que foi recuperada e adaptada para o efeito.
Atualmente, “O Socorro Gaeirense” tem mais de 600 sócios. São também alguns dos elementos da direção quem cobra as quotas. João Cascão, de 66 anos e que tem partipado em diversas direções da associação (também integra a atual) é um dos elementos que tem essa tarefa, e que garante que não é dificil: “Toda a gente paga porque sabe que pode ter benefícios”, conta à Gazeta das Caldas, o também sócio e filho de sócio desta instituição centenária. ■
Construir um lar de idosos para fechar ciclo de valências
Há mais de uma década que a instituição aponta à construção de um lar de idosos, para dar mais uma resposta social aos seus utentes

A construção de um lar de idosos é o grande objetivo da associação. Há mais de uma década que candidata a apoio estatal, mas ainda não viu a candidatura ser aceite. A mais recente, feita ao PARES 3.0 (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais) aguarda resposta.
“É a nossa grande necessidade e, possivelmente, o completar o ciclo de valências”, refere o presidente da associação, Luís do Coito, acrescentando que trata-se de um investimento avultado, na ordem de 1,2 milhões de euros, para o qual já contam com um apoio do município de Óbidos no valor de 580 mil euros.
O equipamento será construído na vila, num terreno cedido por um gaeirense e ao lado de onde já existe a creche. O lar ficará “encaixado” na cozinha e serviço de apoio à lavandaria, que já foram construídas no local para dar resposta às outras valências que prestam.
Para angariar algum dinheiro, “O Socorro Gaeirense” tem participado em diversos eventos, nomeadamente o Mercado Medieval ou as Tasquinhas das Gaeiras, mas que com a pandemia foram suspensos.
O centenário começa a ser celebrado sábado e terá continuidade durante um ano
Comemorações arrancam
A associação “O Socorro Gaeirense” assinalou o seu centésimo aniversário a 1 de setembro, mas o início das comemorações está marcado para sábado, dia 4, e irá estender-se durante um ano. A cerimónia terá início pelas 15h00, no Largo de S. Marcos, com a receção às entidades convidadas pela banda da Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense, seguindo-se, no mesmo local, a sessão solene. Nessa altura serão homenageados todos os presidentes da associação ainda vivos e todos os funcionários, que atualmente são 22. “Sem eles não conseguimos crescer e foram muito importantes neste periodo de pandemia”, realça Luís do Coito.
Às 17h00 será apresentada publicamente a escultura, da autoria de Carlos Oliveira, e que é uma homenagem aos fundadores, sócios, diretores, utentes e colaboradores na sede da instituição, na Rua da Fonte do Gato, nº12. Uma hora mais tarde será feita uma romagem ao cemitério, seguindo-se uma missa em honra dos sócios, diretores, utentes e colaboradores da associação.
As comemorações terminam nesse dia, pelas 21h30, com o concerto “100 Anos de Gratidão”, pela Orquestra Ligeira de Monte Olivett, no Largo de São Marcos. No entanto, durante o ano, outras atividades irão ser realizadas, nomeadamente com a intervenção dos idosos que integram o centro de dia. ■






























